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Otacílio Campiolo sabe tudo de café. Sua família trabalha com isso desde o século 19. Ele cresceu já nas fazendas vendo como se plantava e colhia nos cafezais. Portanto, não era de se espantar que soubesse prever quando o inimigo número um de sua produção estava para chegar. E em julho de 1975, ele leu no céu e nos termômetros o sinal do perigo. Era a geada que estava por vir. Rapidamente, reuniu as 15 famílias que trabalhavam para ele e começou a agir para evitar o prejuízo.

"Em uns poucos dias de trabalho, conseguimos cobrir com terra 36 mil pequenos pés de café", diz, orgulhoso de ter salvado as mudas e usado uma técnica que hoje o Instituto Agronômico do Paraná recomenda para todos os agricultores. O que era grande demais para ser coberto ficou exposto e a geada pegou. A partir daí era esperar os pequenos pés crescerem para tomar o lugar dos antigos. O problema é que com as sementes antigas isso chegava a levar quatro anos.

"Sobrevivemos do estoque que tínhamos das safras anteriores", diz Otacílio. Ele não foi o único. Por sorte, o café não é um produto facilmente perecível. Pode ficar armazenado por até duas décadas, em boas condições. O preço e a qualidade da bebida vão caindo com o tempo. Mas em situações de crise, o café mais velho pode salvar o agricultor.

A vida ficou um pouco mais fácil porque realmente não havia café mais novo disponível para venda. Todos os produtores brasileiros tinham sofrido baixa. Com isso, o preço da saca disparou. Antes da geada, a saca de 60 quilos era vendida por aproximadamente Cr$ 280,00. Depois da geada, chegou a ser comercializada por até R$ 4,5 mil. Quem vendeu nessa época de escassez, até ganhou dinheiro.

Logo, porém, a situação começou a se acalmar, e os preços voltaram a baixar. Boa parte dos agricultores vendeu o produto para o governo, na época representado pelo Instituto Brasileiro do Café, por Cr$ 1,8 mil a saca. Mesmo assim, foi o suficiente para guardar um pouco de dinheiro e esperar os novos pés crescerem para voltar a dar café.

Otacílio conseguiu passar pela crise, mas aprendeu a lição. Para evitar ter de começar tudo de novo mais para frente, diversificou sua produção. Antes, investia quase tudo no café. O que havia de outras culturas estava plantado entre uma fila e outra de cafezais. Hoje, menos da metade dos 103 hectares é usado para a antiga plantação. O resto da área é destinada a plantação de cana, laranja e outras culturas. "Agora estou investindo também em um pouquinho de uva", conta. De qualquer maneira, embora tenha seguido na ativa, ele não pôde manter o mesmo número de trabalhadores que tinha antes na lavoura. Eram 15 famílias, hoje são apenas 8.

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