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CONJUNTURA

Estrangeiro ainda aposta no Brasil

Mesmo com cenário nebuloso, investimento de empresas de fora quase não caiu desde o recorde de 2011. A maior parte, porém, vai para aquisições

Para economistas, Dilma tenta, mas não passa o bastão do jeito certo à iniciativa privada | Wilson Dias/ABr
Para economistas, Dilma tenta, mas não passa o bastão do jeito certo à iniciativa privada (Foto: Wilson Dias/ABr)

A carga tributária não cede, a inflação continua bem acima do centro da meta e a economia, que já avançava devagar, praticamente estacionou. Para piorar, o governo dá sinais desencorajadores a quem atua na área de infraestrutura. Mas nem esse cenário cheio de nuvens tem impedido o "desembarque" de investimento estrangeiro no Brasil: ao menos por enquanto, o setor produtivo segue atraindo muito dinheiro de fora.

Segundo o Banco Central, de janeiro a novembro o país recebeu US$ 59,9 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED), só 0,2% abaixo dos US$ 60 bilhões de igual período de 2011. A expectativa do BC é de que a conta feche o ano em US$ 63 bilhões e chegue a US$ 65 bilhões em 2013, não muito longe do recorde de US$ 66,7 bilhões firmado no ano passado.

Alguns economistas, no entanto, fazem ressalvas. É que boa parte o dinheiro que está entrando, cerca de 80%, tem sido usada na compra de empresas, e não em investimento "novo". Além disso, há sinais de que os estrangeiros estão, sim, mais receosos, o que cedo ou tarde pode derrubar esses valores.

Aquisições

"Ainda que muitos fundamentos pudessem indicar uma piora no IED, essa conta não sofreu praticamente nada", diz o economista Bruno Lavieri, da Tendências Consultoria. "Mas o que temos visto é que parte do dinheiro está indo para a compra de participações ou empresas já estabelecidas."

Um dos principais negócios do gênero foi a compra da Amil pela norte-americana United Health Group, por US$ 3,1 bilhões. No Paraná, as operações mais recentes também envolvem companhias dos Estados Unidos: a fabricante de motores Branco foi comprada pela Briggs & Stratton, e a Perfecta, de máquinas para panificação, pela ITW.

Por trás das aquisições está o interesse no mercado consumidor brasileiro, que cresce e se sofistica. A desvalorização do real, de 25% desde meados de 2011, também seduz: bons negócios ficaram bem mais baratos para os estrangeiros.

Efeito limitado

Essas transações, no entanto, têm efeito discreto sobre a economia, pois não costumam resultar em ampliação imediata da capacidade de produção ou do número de empregos. Bem diferentes são os investimentos em novas fábricas ou na expansão de unidades já existentes – como tem feito a Renault no Paraná – ou em infraestrutura. E estes andam mais raros.

"O estrangeiro está louco para investir em infraestrutura no Brasil. Mas não investe porque ninguém sabe qual é o marco regulatório. A cada licitação o governo muda as regras", diz o economista Mansueto Almeida, pesquisador do Ipea. "E ninguém vai colocar dinheiro no país por 30 anos se desconfiar que daqui a quatro ou cinco anos o governo pode rever as regras."

Governo desperta desconfiança

A necessidade de obras em estradas, portos, aeroportos e ferrovias é gigantesca. Empresas interessadas em investir não faltam, nem financiamento barato: o juro do BNDES está abaixo da inflação. O problema é que o governo perdeu a confiança dos investidores. "E não será fácil recuperá-la", avalia Luiz Augusto Pacheco, gestor de investimentos da Inva Capital.

A forma como Dilma Rousseff e sua equipe conduziram a renovação dos contratos do setor elétrico repercutiu mal aqui e lá fora. E, nas outras áreas, os modelos de concessão criados pelo governo não entusiasmam. O leilão dos aeroportos do início do ano, por exemplo, afastou as empresas mais experientes e frustrou o próprio Planalto.

"O investidor só vai participar de leilão e colocar dinheiro se o retorno for adequado. Mas o governo quer controlar o valor do investimento e a tarifa do serviço. Não funciona. Ou é uma coisa ou é outra", diz o economista Mansueto Almeida. Se o governo estivesse certo, afirma, o projeto do trem-bala não estaria no terceiro edital.

As críticas vêm até de economistas simpáticos ao Planalto. Semanas atrás, Delfim Netto escreveu que os investimentos "só voltarão se tratados com justiça", e que as obras de infraestrutura com leilão marcado para 2013 "só serão executadas com sucesso se entendermos que a teoria dos leilões é sofisticada demais para continuar na mão dos amadores que produziram os últimos."

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