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Para economistas, Dilma tenta, mas não passa o bastão do jeito certo à iniciativa privada | Wilson Dias/ABr
Para economistas, Dilma tenta, mas não passa o bastão do jeito certo à iniciativa privada| Foto: Wilson Dias/ABr

Consumo é o que atrai

O PIB brasileiro deve encerrar o biênio 2011-12 com crescimento médio de 1,9% ao ano, bem abaixo das "estrelas" da vez da América Latina – México (3,8%), Chile (5,1%), Colômbia (5,3%) e Peru (6,2%). Países que, por sinal, têm regras bem mais amigáveis para o investidor estrangeiro.

Mas o mercado consumidor brasileiro ainda fascina, porque é maior que o dos vizinhos e continua crescendo, apesar do alto endividamento das famílias. A consultoria Boston Consulting Group elegeu o país, em uma lista de 150, como o que melhor usou o crescimento econômico para elevar o padrão de vida de seus habitantes entre 2006 e 2011. Nesse intervalo, a fatia brasileira no fluxo global de IED saltou de 1,3% para 4,4%, o que levou o país a ser o quinto principal destino desse tipo de investimento.

"A dimensão e o dinamismo do mercado brasileiro têm grande apelo", diz Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet, entidade que estuda a globalização. "E de certo modo a crise internacional também ajuda. Multinacionais encontram em emergentes como o Brasil o retorno que não têm lá fora."

Para Lima, o crescimento anêmico atual não é empecilho. "Quem investe está olhando pelo menos cinco anos à frente", argumenta. Mas ele avisa que o Brasil tem tarefas a cumprir. "Tem de fechar acordos comerciais, tratados para proteger o investimento, acabar com a bitributação na saída de lucros, reduzir a burocracia. Países como Chile e México avançaram nisso muito mais que nós."

"A dimensão e o dinamismo do mercado brasileiro têm grande apelo. E de certo modo a crise internacional também ajuda. Multina­cionais encontram em emergentes como o Brasil o retorno que não têm lá fora."

Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet.

A carga tributária não cede, a inflação continua bem acima do centro da meta e a economia, que já avançava devagar, praticamente estacionou. Para piorar, o governo dá sinais desencorajadores a quem atua na área de infraestrutura. Mas nem esse cenário cheio de nuvens tem impedido o "desembarque" de investimento estrangeiro no Brasil: ao menos por enquanto, o setor produtivo segue atraindo muito dinheiro de fora.

Segundo o Banco Central, de janeiro a novembro o país recebeu US$ 59,9 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED), só 0,2% abaixo dos US$ 60 bilhões de igual período de 2011. A expectativa do BC é de que a conta feche o ano em US$ 63 bilhões e chegue a US$ 65 bilhões em 2013, não muito longe do recorde de US$ 66,7 bilhões firmado no ano passado.

Alguns economistas, no entanto, fazem ressalvas. É que boa parte o dinheiro que está entrando, cerca de 80%, tem sido usada na compra de empresas, e não em investimento "novo". Além disso, há sinais de que os estrangeiros estão, sim, mais receosos, o que cedo ou tarde pode derrubar esses valores.

Aquisições

"Ainda que muitos fundamentos pudessem indicar uma piora no IED, essa conta não sofreu praticamente nada", diz o economista Bruno Lavieri, da Tendências Consultoria. "Mas o que temos visto é que parte do dinheiro está indo para a compra de participações ou empresas já estabelecidas."

Um dos principais negócios do gênero foi a compra da Amil pela norte-americana United Health Group, por US$ 3,1 bilhões. No Paraná, as operações mais recentes também envolvem companhias dos Estados Unidos: a fabricante de motores Branco foi comprada pela Briggs & Stratton, e a Perfecta, de máquinas para panificação, pela ITW.

Por trás das aquisições está o interesse no mercado consumidor brasileiro, que cresce e se sofistica. A desvalorização do real, de 25% desde meados de 2011, também seduz: bons negócios ficaram bem mais baratos para os estrangeiros.

Efeito limitado

Essas transações, no entanto, têm efeito discreto sobre a economia, pois não costumam resultar em ampliação imediata da capacidade de produção ou do número de empregos. Bem diferentes são os investimentos em novas fábricas ou na expansão de unidades já existentes – como tem feito a Renault no Paraná – ou em infraestrutura. E estes andam mais raros.

"O estrangeiro está louco para investir em infraestrutura no Brasil. Mas não investe porque ninguém sabe qual é o marco regulatório. A cada licitação o governo muda as regras", diz o economista Mansueto Almeida, pesquisador do Ipea. "E ninguém vai colocar dinheiro no país por 30 anos se desconfiar que daqui a quatro ou cinco anos o governo pode rever as regras."

Governo desperta desconfiança

A necessidade de obras em estradas, portos, aeroportos e ferrovias é gigantesca. Empresas interessadas em investir não faltam, nem financiamento barato: o juro do BNDES está abaixo da inflação. O problema é que o governo perdeu a confiança dos investidores. "E não será fácil recuperá-la", avalia Luiz Augusto Pacheco, gestor de investimentos da Inva Capital.

A forma como Dilma Rousseff e sua equipe conduziram a renovação dos contratos do setor elétrico repercutiu mal aqui e lá fora. E, nas outras áreas, os modelos de concessão criados pelo governo não entusiasmam. O leilão dos aeroportos do início do ano, por exemplo, afastou as empresas mais experientes e frustrou o próprio Planalto.

"O investidor só vai participar de leilão e colocar dinheiro se o retorno for adequado. Mas o governo quer controlar o valor do investimento e a tarifa do serviço. Não funciona. Ou é uma coisa ou é outra", diz o economista Mansueto Almeida. Se o governo estivesse certo, afirma, o projeto do trem-bala não estaria no terceiro edital.

As críticas vêm até de economistas simpáticos ao Planalto. Semanas atrás, Delfim Netto escreveu que os investimentos "só voltarão se tratados com justiça", e que as obras de infraestrutura com leilão marcado para 2013 "só serão executadas com sucesso se entendermos que a teoria dos leilões é sofisticada demais para continuar na mão dos amadores que produziram os últimos."

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