Bradesco lucra menos e prevê mais inadimplência
Apesar de ainda bilionário, o lucro do Bradesco desacelerou no último trimestre do ano passado, período em que a crise financeira global se agravou. Os R$ 1,806 bilhão de lucro alcançados no período representaram o mais fraco resultado trimestral do banco desde o 2º trimestre de 2007, quando o resultado foi de R$ 1,801 bilhão. Na comparação com o 3º trimestre, houve queda de 5,45%.
O "trimestre da crise", que começou 15 dias após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, pode ter reduzido em 8% os lucros das principais empresas listadas na Bovespa, em relação ao mesmo período de 2007. A projeção, feita a partir de estimativas para os resultados de 150 companhias brasileiras, é da Itaú Corretora. Para a instituição, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) subiu 11%, em média, desempenho inferior ao observado nos trimestres anteriores.
A temporada de balanços referentes aos três últimos meses de 2008 começou ontem, com uma notícia pouco animadora o lucro do Bradesco, segundo maior banco do país, recuou quase 27% (leia mais nesta página). "Os bancos brasileiros têm boa resistência aos solavancos da economia. Se começam a apresentar queda nos lucros, então a situação realmente não é das melhores", resume o professor de finanças Domingos Pandeló, do Instituto Superior de Administração e Economia (Isae/FGV).
De acordo com Flávio Conde, estrategista da Itaú Corretora para pessoas físicas, o Ebitda também chamado de "geração de caixa" cresceu menos do que antes porque, a partir de novembro, a economia "real" passou a sentir com mais força os efeitos da crise global. O impacto sobre a economia "financeira" foi ainda mais rápido e intenso. As fontes de financiamento ficaram mais raras e caras, e empresas com dívida em dólar viram seus débitos crescer violentamente, o que provavelmente reduziu os lucros.
"Na hora de frear, a parte financeira é como uma moto: freia mais rápido e, se não tomar cuidado, capota. Na economia real, a freada é menos brusca, como a de um automóvel", compara Conde. Segundo ele, a queda de 8% prevista para os lucros das empresas brasileiras tem ao menos um aspecto positivo: ela terá sido bem mais suave que a registrada por empresas norte-americanas, onde o recuo está na casa dos 40%, em média.
Armário
De acordo com Marco Antônio Lacombe, operador da Planner Corretora, "não há como esperar bons balanços agora". "As empresas provavelmente vão aproveitar para assumir de uma só vez as perdas que tiveram com a crise", diz. Para Rafael Paschoarelli, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), é possível que muitas empresas "saiam do armário" em relação a perdas com derivativos. Meses atrás, companhias como Sadia, Aracruz e Votorantim divulgaram prejuízos bilionários com esse tipo de operação. "Chegou a hora da verdade para aquelas que ficaram quietas."
Ariovaldo dos Santos, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), mostra mais otimismo. "Os resultados tendem a ser mais negativos que antes. Mas cada empresa foi afetada de uma forma, então é possível que nem todos os balanços sejam ruins."
Setores
Os analistas preveem que os piores balanços virão de empresas tradicionalmente exportadoras, das que dependem de crédito (como as do setor imobiliário) e daquelas que têm a maior parte de sua dívida atrelada ao dólar. Flávio Conde, da Itaú Corretora, prevê que os setores mais afetados serão mineração, siderurgia, varejo e construção civil, nessa ordem. Na outra ponta, fabricantes de alimentos e empresas de telecomunicações, beneficiadas por uma demanda mais estável, podem apresentar resultados melhores.
As perspectivas são ruins para as duas principais empresas da Bovespa, Vale e Petrobras, que foram afetadas pela retração da demanda e dos preços de seus produtos. "A produção da Petrobras recuou 1% no trimestre e, apesar da alta do dólar, a queda da cotação do barril provavelmente reduziu as receitas da empresa", diz Nélson Rodrigues de Matos, do Banco do Brasil Investimentos.
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