
A Europa não está disposta a abandonar o euro e não vai deixar isso acontecer. Foi essa a mensagem que o presidente francês, Nikolas Sarkozy, reforçou em painel no Fórum Econômico Mundial, em Davos, ontem.
"O que eu tenho a dizer sobre o euro é muito simples: estaremos lá para fazer o que for preciso para defender o euro. O euro é a Europa. Fui claro nesse assunto?", afirmou na apresentação.
No painel sobre o G-20, o presidente francês, que representa o bloco, citou o histórico de guerras do continente para indicar que "aqueles que imaginaram que a Europa poderia abandonar a moeda comum não conhecem o estado de espírito europeu".
O futuro do euro foi colocado em questão depois de uma piora na situação econômica da zona do euro puxada pela crise da dívida em países do bloco, como Grécia e Irlanda.
O desafio dos países europeus em relação ao euro foi tema de um outro encontro ontem no Fórum. O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, tee ao seu lado o economista Nouriel Roubini, um dos poucos a prever a crise de 2008, para discutir as questões sobre a moeda e a crise europeia.
Respondendo a um representante de banco na plateia, Sarkozy defendeu que o maior desafio do G-20 será implementar as regras para o mercado financeiro. Ele se mostrou contra o "excesso de regulação", mas reforçou que nenhuma instituição pode atuar sem seguir normas.
Bancos e instituições financeiras reclamam que um excesso de regulação poderia forçar uma atuação no "shadow banking system" (sistemas bancário na sombra, na tradução literal). Esse nome foi dado a instituições que atuam no mercado financeiro e de crédito sem terem de se submeter à regulação de bancos, como bancos de investimento independentes e bancos regionais de crédito hipotecário.
"Tudo estava indo bem, e um dia tudo veio à baixo. Um grande banco americano faliu. O mundo ficou perplexo. O que todo mundo achou que fosse impossível estava acontecendo. Deixou milhões de desempregados que não tinham nada a ver com isso", disse. "Não pode haver mercados sem um mínimo de regras. Vamos perseguir que as medidas que fechamos sejam implementados. Eu estou chamando atenção para áreas que deveriam ter regulação há tempos."
Commodities
Ao falar da alta dos preços em commodities, a palavra do discurso também foi regulação. Sarkozy atribuiu parte da pressão de preços a uma falta de transparência e de normas nesse mercado. "Por que a gente tem que ter regulação no mercado financeiro e não no mercado de commodities. Deixe ter regulação, é tudo o que a França está pedido. E que ninguém possa ferir a lei básica de oferta e demanda", afirmou.
OMC faz força-tarefa por Rodada Doha
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, quer reunir ministros de comércio em Davos, na Suíça, onde acontece até domingo a 41ª edição do Fórum Econômico Mundial, para firmarem o compromisso de um novo acordo de comércio global.
Lamy afirmou que tentará convencer os representantes de cerca de 25 países a anunciar o apoio para completar as conversas da Rodada Doha que se desenrolam há dez anos. O diretor acredita que um acordo sobre as principais questões pode ser alcançado antes da Páscoa, abrindo caminho para finalizar a Rodada Doha ainda neste ano.
Guerra cambial
Para Lamy, a chamada guerra cambial ainda não afetou o comércio, mas há risco de que as medidas aumentem pressões protecionistas. Ainda assim, ele acredita que a disputa de moedas continuará.
O termo guerra cambial foi cunhado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, no ano passado para expressar o movimento de desvalorização mundial de moedas nos países como forma de ganhar competitividade no comércio mundial. "Até o momento, as tensões não afetaram o comércio. Mas o risco existe", afirmou Lamy. Mantega alertou neste ano que a disputa está se transformando em uma guerra comercial. O ministro indicou que entrará com recurso na OMC contra os países que adotam a prática. JP Morgan
Falência
O presidente do banco americano JP Morgan Chase, James Dimon, indicou que cidades norte-americanas podem estar perto de pedir falência. Em um painel do Fórum sobre medidas de prevenção para evitar novas crises, o executivo disse que apesar disso não há risco sistêmico para o país. "Existem 14 mil cidades e a gente infelizmente vai ver algumas quebrarem", disse. Para ele, os estados estão em melhores condições para combater suas dificuldades financeiras e não devem enfrentar problemas.
"Está aí, é uma preocupação, vai ser preciso consertar. Mas não acho que impedirá o crescimento em 2011 ou 2012. É apenas um fator negativo atingindo o sistema norte-americano", afirmou.
Dimon aproveitou o encontro para defender os bancos. Chegou a dizer que estava cansado de ouvir o refrão "banqueiros, banqueiros, banqueiros". "Tentamos fazer o melhor que conseguimos todos os dias".



