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logística

Ferroeste tenta sair do prejuízo

Novo presidente diz que, após três anos, estatal pode voltar ao azul em fevereiro. Mas, para isso, ela depende de parcerias com o setor privado

Terminal da Ferroeste em Cascavel: sem locomotivas e vagões próprios, empresa tem dificuldade em atender à demanda por cargas do Oeste do estado | Valepress/César Machado
Terminal da Ferroeste em Cascavel: sem locomotivas e vagões próprios, empresa tem dificuldade em atender à demanda por cargas do Oeste do estado (Foto: Valepress/César Machado)

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Veja no infográfico a perda de cargas e faturamento da Ferroeste nos últimos anos |

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Veja no infográfico a perda de cargas e faturamento da Ferroeste nos últimos anos

Depois de três anos de prejuízo, a Ferroeste pode voltar a dar lucro em fevereiro. A expectativa, tida como ambiciosa por quem observa os balanços da estatal, é de seu novo presidente, Maurício Querino Theodoro. No cargo há duas semanas e sem experiência no setor ferroviário, o executivo – um empresário do Oeste do estado, nomeado pelo governador Beto Richa – diz confiar em parcerias com a iniciativa privada e no aumento do volume transportado para reverter o histórico de déficits da ferrovia, que liga Cascavel a Guarapuava.

Dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) mostram que o resultado negativo da companhia foi de R$ 4 milhões em 2007, R$ 7,3 milhões em 2008 e R$ 10,9 milhões em 2009. E, segundo informações preliminares da nova administração, no ano passado o prejuízo ficou acima de R$ 9 milhões.

"Em 2010 a empresa teve um déficit de R$ 832 mil por mês, em média. Neste mês de janeiro, devemos ficar em R$ 400 mil negativos. Mas, considerando somente os contratos que já fechamos para o transporte de 118 mil toneladas, em fevereiro teremos um lucro de pelo menos R$ 150 mil", conta Theodoro, de calculadora na mão, recorrendo a um caderno onde guarda números da empresa e do setor. Dono de uma empresa de telecomunicações em Cascavel, ele coordenou a campanha eleitoral de Richa no Oeste do estado em 2010 e teve seu nome sugerido para comandar a ferrovia por deputados e cooperativas da região.

Apesar do otimismo, o diagnóstico que Theodoro faz da situação da Ferroeste não é dos mais animadores. E parece com o feito por seu antecessor, Neuroci Antonio Frizzo, que foi nomeado pelo ex-governador Orlando Pessuti e comandou a empresa no segundo semestre de 2010. Frizzo e Theodoro usam expressões como "descaso com a coisa pública" para descrever a gestão da empresa durante o último mandato de Roberto Requião. Segundo eles, além de prejuízos, a Ferroeste vinha acumulando dívidas trabalhistas e com fornecedores, algumas vencidas, e locomotivas encostadas.

Sem tração

"Se eu fosse apontar apenas um problema, seria: a Ferroeste quase não tem tração. Demanda existe de sobra, mas temos hoje apenas seis máquinas em condições de operar, sendo usadas em seu limite máximo, num rodízio em que quatro rodam e duas passam por manutenção", conta Theodoro. Todas as locomotivas são alugadas – a Ferroeste não tem máquinas nem vagões próprios – e, assim como outras quatro que estão com a empresa, foram fabricadas nas décadas de 1950 e 1960. Têm potência relativamente baixa (1,1 mil hp) e alto custo de manutenção.

"O problema é que, com essa frota, conseguimos transportar apenas 56 mil toneladas por mês, ou 672 mil por ano. É menos que o volume necessário para que as receitas e despesas se equilibrem, que é de 1,3 milhão de toneladas por ano", explica Theodoro. Para contornar esse obstáculo e dar conta dos contratos já firmados, ele está negociando uma parceria para agregar à frota outras quatro locomotivas, mais potentes, de 1,8 mil hp. "Com isso, aumentaríamos nossa capacidade para 174 mil toneladas por mês, o que dá 2,1 milhões de toneladas por ano, ponto em que a ferrovia fica completamente viável."

Sem dar mais detalhes sobre a negociação, Theodoro diz que a Ferroeste terá essas locomotivas à sua disposição por 60 dias – prazo que garante apenas o início do transporte da safra de verão, que começa a ser escoada em fevereiro –, mas que tenta ampliar o acerto para 180 dias. Outra possibilidade é um acordo, também em negociação, com a Unión de Exportadores Paraguayos (Unexpa), para quem a Ferroeste vai transportar 300 mil toneladas de soja e adubo neste ano.

"Seria uma espécie de parceria público-privada. A Unexpa cederia três máquinas e cem vagões para o transporte exclusivo da carga deles, e mais quatro máquinas para a Ferroeste usar com outros clientes", diz Theodoro. "O governo estadual não vai buscar dinheiro para colocar na ferrovia, e sim parceiros para operá-la em conjunto."

Empresa deve R$ 6 mi

O ex-presidente da Ferroeste Neuroci Frizzo diz ter recebido a estatal com dívidas de R$ 9 mi­­lhões e que a entregou ao novo gestor com pouco mais de R$ 6 milhões em débitos. Por sinal, a Ferroeste só é considerada pouco endividada porque tem um patrimônio elevado – mais de R$ 300 milhões, a maior parte referente ao valor da própria ferrovia.

"O então governador Orlando Pessuti fez um aporte de recursos na empresa, o que nos permitiu parcelar a maioria das dívidas sem juros, por prazos entre 12 e 18 meses, com entrada de 20%", explica Frizzo. Ele diz ter feito sete licitações em seis meses, para reduzir custos de serviços, além de ter cortado 19 dos 155 empregados e demitido os cinco assessores da presidência. Das 15 locomotivas da frota, devolveu cinco, que estavam paradas havia dois anos, período em que teriam consumido R$ 1,7 milhão em aluguéis.

Nem todas as dívidas, no entanto, foram pagas ou renegociadas. "Não reconhecemos, por exemplo, débitos com prestadores de mão de obra terceirizada e eventos de mídia para divulgação pública da Ferrosul. São gastos que, em nossa opinião, não tinham nada a ver com a operação da Ferroeste", diz Frizzo. As dívidas não reconhecidas passam de R$ 700 mil, segundo ele.

A auditoria contratada por Pessuti, feita no ano passado pela Audiacto Auditores e Con­sul­tores, cobriu o período entre ja­­neiro de 2009 e agosto de 2010, e durou 60 dias. O relatório foi en­­tregue no fim do ano à Pro­cura­doria Geral do Estado, à Pro­cura­doria Geral de Justiça (PGJ) e ao Tribunal de Contas do Estado (TC), que ainda não se manifestaram sobre o caso.

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