Interferência
Acadêmicos querem moeda em até R$ 2,40
Acadêmicos econômicos desenvolvimentistas linha teórica à qual se alinham autoridades do governo como a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega defenderam ontem, no 8º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), que o governo aproveite o recente movimento de apreciação do dólar ante o real para "reequilibrar" o câmbio em um patamar mais favorável às contas externas do país e à expansão da indústria.
"O câmbio está pouco acima de R$ 1,80, e daí? Isso não é fator de preocupação", comentou o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, em um intervalo do evento. Para o professor Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, o câmbio ao redor de R$ 1,85 é um patamar "muito mais interessante para o país" que uma marca ao redor de R$ 1,60. "Quando o fluxo de capitais estrangeiros retomar um ritmo semelhante ao que era registrado há algumas semanas, cabe ao governo determinar o novo patamar do câmbio", afirmou.
Na avaliação do ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, quando a situação internacional estiver menos volátil, com os desdobramentos mais amadurecidos da crise soberana de alguns países europeus, seria oportuno que o governo buscasse uma cotação média de R$ 2,30, que poderia variar entre R$ 2,20 e R$ 2,40. (AE)
A Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) propôs ontem que o governo federal adote um piso para a taxa de câmbio, para que, ao fim da crise internacional, "o empresariado brasileiro não volte a ser prejudicado pela valorização acentuada do real". A proposta nasceu de uma sugestão do economista José Luís Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB).
"O Banco Central do Brasil, à semelhança do Banco Nacional da Suíça, deve instituir um piso para a taxa de câmbio, de maneira a evitar que, passado o pânico momentâneo, o dólar volte a se desvalorizar", afirmou Oreiro em texto publicado ontem em seu blog. Na avaliação do economista, que já dirigiu o Centro de Pesquisas Econômicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esse "ajuste permanente" do câmbio devolveria a competitividade à indústria nacional algo que, segundo ele, ocorreria quando a taxa alcançasse o intervalo entre R$ 2,20 e R$ 2,30. Ontem o dólar caiu 0,9%, para R$ 1,822. Na quinta-feira, a moeda chegou a bater em R$ 1,95 durante a sessão, mas recuou desde então.
Rejeição
A proposta de Oreiro e da Fiep não foi bem recebida por economistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Segundo eles, a adoção de uma cotação mínima para o dólar derrubaria o "tripé" que desde 1999 sustenta a política econômica do governo (câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação), pressionaria a dívida pública e deixaria o país sujeito a ataques especulativos. "O governo não pode agir como se não existisse um mercado. Ao fixar um nível mínimo, teria de defendê-lo, por meio da compra de dólares, o que aumentaria a dívida pública", diz Luciano Nakabashi, professor do Departamento de Economia da UFPR.
Para José Kobori, professor de finanças do Ibmec/DF, "abandonar o tripé é abandonar a própria política econômica". "Em momentos de volatilidade como o atual, sempre surgem ideias um pouco heterodoxas. Mas propostas assim acabam sumindo, até por falta de eco, de apoio", diz.
O mestre em Economia Guilherme Souza e Silva, professor da UFPR, diz que o momento atual não é adequado para a discussão. "Teria de haver uma avaliação mais criteriosa, afinal, estaríamos mudando o regime cambial", ressalta. "É preciso lembrar que o país já tentou trabalhar com bandas cambiais [piso e teto] nos anos 1990, e acabou tendo de liberalizar o câmbio porque não conseguiu sustentar o regime frente à especulação do mercado."
Governo
Em comunicado, a Fiep informou que sua proposta foi enviada à presidente Dilma Rousseff; ao ministro da Fazenda, Guido Mantega; e ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho. E que Rodrigo da Rocha Loures, presidente da Fiep, deve vai sugerir o piso cambial ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que vem amanhã a Curitiba para o 22.º Congresso Nacional de Executivos de Finanças (Conef).
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