Foi com ceticismo que interrompi minhas férias por três horas, na semana passada, ao entrar em uma sala de cinema nos EUA para assistir ao filme sobre o Facebook. Líder nas bilheterias daquele fim de semana, A Rede Social também recebeu aplausos e elogios de quase todas as publicações norte-americanas veículos como Hollywood Reporter e Time e jornais como Washington Post e Wall Street Journal lhe deram cotação máxima.
Para completar, o filme reúne um time exemplar: dirigido por um dos melhores cineastas de sua geração (David Fincher, de Clube da Luta e Zodíaco), escrito pelo mesmo Aaron Sorkin que deu ao mundo West Wing e protagonizado por Jesse Eisenberg (herói dos melhores hits discretos de 2009, Zombieland e Adventureland), além do cantor Justin Timberlake e dos bons novatos Andrew Garfield e Armie Hammer.
A Rede Social, que chega aos cinemas brasileiros no início de dezembro, é o filme mais importante de 2010. E antes que os cinéfilos venham atirar pedras, vale lembrar que "mais importante" não é sinônimo de "melhor". A Rede Social é importante por fazer Hollywood sair do casulo sem assunto em que se fechou no início do século, quando preferiu recriar universos mitológicos seja de super-heróis ou de livros clássicos para voltar a falar de algo que faça sentido para a vida de seu público. Não apenas pelo tema do filme ser um site com meio bilhão de cadastrados, mas pelo fato de o cinema finalmente reconhecer a importância do meio digital para a história contemporânea.
Mas se antes isso era exceção, agora não é mais: vivemos em um mundo digital e é ridículo pensar que a única obra cinematográfica feita sobre este universo seja um filme feito para a televisão (Piratas do Vale do Silício, de 1999, sobre a rusga de Bill Gates e Steve Jobs). A Rede Social parte do princípio de que o Facebook é tão importante hoje quanto os jornais foram no tempo em que Cidadão Kane foi feito por Orson Welles. Mas ao contrário de Welles, que pintou seu William Randolph Hearst (o Kane original) com tons amarronzados de jornalismo barato, Fincher preferiu fixar-se no paradoxo de que a ferramenta mais popular de interação em tempos de internet ter sido criada por um hacker antissocial.
Juntos, diretor, roteirista e ator criam um Zuckerberg frio, robótico, ríspido, automático; um ser humano falho, mas uma máquina de programar e programar tudo. E, como havia feito em Zodíaco, prefere não desvendar o mistério, apenas ampliá-lo. Quando o filme termina ao som de "Baby You're a Rich Man" dos Beatles, com Zuckerberg dando reload em uma página do Facebook, sabe-se tanto sobre o Cidadão Zuck quanto se sabia antes do início do filme.
E não pense que A Rede Social é um caso isolado. Um filme sobre o Google já está sendo produzido e não duvide que, em breve, possamos assistir à vida de Steve Jobs no cinema.
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