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Minério de ferro será um dos produtos brasileiros afetados pela menor demanda mundial | Paulo Whitaker/Reuters
Minério de ferro será um dos produtos brasileiros afetados pela menor demanda mundial| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Reflexos

Dúvidas sobre demanda da China não afetam planos da Vale

As dúvidas sobre o ritmo de crescimento da China não mudaram os planos de expansão da Vale. Até junho, a mineradora espera obter o aval do Conselho de administração para tirar do papel o projeto Serra Sul, no Pará, orçado em US$ 19,5 bilhões. Se aprovado, o investimento da Vale programado para os próximos quatro anos sobe para um total de US$ 54,5 bilhões.

"Em um ‘chute’ só, vamos adicionar mais de 90 milhões de toneladas (a nossa capacidade de produção)", afirmou o presidente da Vale, Murilo Ferreira, ao lembrar que a companhia levou 16 anos para conseguir ampliar a produção na região para cerca de 100 milhões de toneladas.

Maior projeto da Vale e da indústria de minério de ferro, o Serra Sul era previsto inicialmente para entrar em operação no segundo semestre de 2014. Mas, desde o fim do ano passado, a companhia já trabalha com um novo cronograma para o empreendimento: o segundo semestre de 2016. O atraso teve como pano de fundo dificuldades na obtenção do licenciamento ambiental.

Em palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro, o executivo descartou uma desaceleração no ritmo de crescimento da China. "A demanda por minério na China cresceu 6% no primeiro trimestre, quando todos achavam que viria abaixo. Essa é a China que nos surpreende a cada dia", afirmou. E completou: "Não estamos preocupados com o que acontece neste trimestre, no semestre e nem no ano seguinte."

O dinamismo da gigante asiática, lembrou, é que vem sustentando os ambiciosos planos de expansão da mineradora. Sozinha, a China respondeu por 32% da receita da companhia no ano passado. Por importar mais de 60% do minério de ferro que consome, Ferreira acredita que a China está cada dia mais dependente do insumo produzido no Brasil e na Austrália.

Um cenário que exige novas estratégias da companhia. Uma delas é construir centros de distribuições no Oriente Médio e no sudeste asiático. "Não posso estar preocupado com a visão do jornal de amanhã. Temos que estar preparados para produzir os produtos que a China, o Japão e a Coreia vão precisar no futuro", disse.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem perspectivas "cinzentas" para os países exportadores de commodities neste ano e em 2013. As cotações, inclusive as do petróleo, devem cair por causa do declínio da atividade econômica mundial.

Diante desse cenário, o Fundo recomenda aos países afetados "aproveitar as vantagens" dos preços ainda altos para prepararem-se para os tempos de vacas magras.

A receita é direcionada especialmente aos países de baixa renda e exportadores de commodities alimentares. "Os riscos de deterioração considerável do crescimento mundial também traz o risco de um ajuste ainda mais para baixo nos preços das commodities", informou o FMI no capítulo quarto do Panorama da Economia Mundial, conjunto de documentos a ser divulgado na próxima semana, durante a reunião de primavera do Fundo e do Banco Mundial.

"O panorama mundial é um tanto cinzento", resumiu Rupa Duttagupta, economista-sênior do FMI e líder da equipe responsável por esse estudo.

A perspectiva, se confirmada, deverá atingir o Brasil. Porém, de forma menos intensa em comparação com economias cujas exportações de commodities correspondem a quase a totalidade de seus embarques líquidos ao exterior. Os mais atingidos tendem a ser Angola, Líbia, Nigéria, Omã e Arábia Saudita, além de outros exportadores de petróleo, segundo os estudos do Fundo. No caso do Brasil, o café será dos mais afetados, além dos metais.

Novos revezes

Ainda ontem, economistas do FMI destacaram a possibilidade de a economia global passar por novos revezes, com consequências para a retomada da atividade. Primeiro, a expansão nos mercados emergentes tende a esfriar, especialmente na China, depois de ter impulsionado a ligeira recuperação da crise de 2008. Segundo, o risco de a Espanha vir a necessitar também de socorro financeiro, depois dos mais recentes esforços da Europa de enfrentar a crise da dívida pública no continente.

De acordo com Rupa, os mercados emergentes e países em desenvolvimento foram resilientes durante a crise mundial, especialmente por causa do valor elevado das commodities.

O Fundo alertou para o risco de um aumento de 30% no preço do petróleo no caso de redução acentuada nas exportações de petróleo do Irã a partir de julho deste ano. O impacto será temporário e, de qualquer forma, o conjunto das commodities continuará em queda, insistiram os economistas.

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