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Crescimento dos estados
Lavoura de soja em Mato Grosso: safra excepcional se refletiu na economia dos estados do Centro-Oeste.| Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo

O nível de atividade econômica brasileira avançou 2,65% no primeiro semestre, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que é visto como uma prévia do PIB. E dois fatores contribuíram para o avanço da economia dos estados: a supersafra de grãos e a expansão das transferências de renda.

No Centro-Oeste e no Sul, especialmente no Paraná, a ótima safra de grãos, apesar dos preços menores, se refletiu no desempenho favorável de outros setores. No Norte e Nordeste, programas de transferência de renda contribuíram para o comércio e os serviços.

A forte expansão do PIB agropecuário, que cresceu 21,6% no primeiro trimestre de 2023, frente ao último de 2022, foi motivada pela safra recorde de 320,8 milhões de toneladas, 17,8% maior que a do ano passado, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A agropecuária foi um dos setores que mais favoreceu o crescimento de 1,9% no PIB brasileiro no primeiro trimestre. Foi o melhor começo de ano desde 2010. Os dados do segundo trimestre serão apresentados nesta sexta-feira (1.º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Alguns dos maiores produtores brasileiros tiveram taxas de crescimento superiores a 20% na safra, como Paraná (+34,9%) e Mato Grosso do Sul (+23,3%). Os índices elevados têm relação com a base de comparação mais fraca: esses dois estados haviam sido muito prejudicados pela estiagem no ano passado.

Outro fator que contribuiu para o bom desempenho das economias estaduais, principalmente no Norte e no Nordeste, foi a expansão de programas como Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC). A estimativa da consultoria Tendências é de que os desembolsos dos dois programas, que correspondem a 4,2% da massa de renda total dos domicílios brasileiros, tenham um crescimento de 28,1% neste ano.

Ventos continuam soprando a favor de Mato Grosso

Um dos estados que aparece em três de quatro rankings elaborados a partir de dados do IBGE e do Ministério da Agricultura (confira ao fim desta reportagem) é Mato Grosso. O estado, por sinal, é o que mais cresceu no país neste século, conforme reportagem da Gazeta do Povo.

Tirando proveito de uma safra excepcional – que cresceu 16,5% em relação à anterior e superou 100 milhões de toneladas, quase um terço da produção nacional – e de novos investimentos, Mato Grosso aparece entre os três estados com maior expansão nos últimos 12 meses em três grandes setores: varejo, serviços e indústria.

Um dos destaques é a produção industrial, que aumentou 7,8% em um ano. Embora esse ritmo esteja diminuindo, Mato Grosso faz parte do seleto grupo de cinco estados onde a indústria ainda cresce.

A expansão tem sido alavancada pela indústria alimentícia, que avançou 12,1% em 12 meses, e pela fabricação de biocombustíveis. Novos investimentos asseguraram um crescimento de 27% neste segmento.

O bom desempenho do campo também se refletiu no comércio varejista ampliado (que inclui veículos e materiais de construção) e nos serviços, que cresceram respectivamente 6,7% e 15,5%.

Bolsa Família ajuda estados do Norte e Nordeste

Estados do Norte e do Nordeste aparecem bem posicionados nos rankings de crescimento do volume de vendas do varejo ampliado e de prestação de serviços. Um dos fatores que contribui para isso é a expansão dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

Em julho, segundo o Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social, 9,59 milhões de famílias recebiam o benefício no Nordeste e outras 2,55 milhões no Norte. O valor médio do benefício foi de R$ 684,17 por família.

Esse cenário contribuiu para que a Paraíba assumisse o topo do ranking de crescimento no volume de vendas no comércio varejista ampliado (12,3%) e o terceiro no de prestação de serviços (13%). O estado, com população estimada de 3,97 milhões de habitantes, tem 686,4 mil famílias beneficiadas pelo programa de transferência de renda.

Tocantins também aparece com destaque nos rankings de crescimento do comércio (alta de 8,2%) e de prestação de serviços (14,2%). O estado, um dos que forma a região agrícola conhecida como Matopiba, também vem registrando uma forte expansão da agropecuária.

Dados da Conab mostram crescimento de 19% na safra tocantinense de grãos. E o valor bruto da produção agropecuária teve uma ampliação de 0,7% em 12 meses, de acordo com dados do Ministério da Agricultura. O resultado só não foi melhor porque o preço das commodities está em baixa.

5G dá impulso à produção da indústria do Amazonas

A expansão da tecnologia 5G pelo país está ajudando as empresas da Zona Franca de Manaus. A produção da indústria amazonense foi a que mais cresceu no país: 8,3% em 12 meses até junho. No primeiro semestre deste ano, houve um grande incremento na produção de equipamentos de informática e eletroeletrônicos.

Analistas do Banco do Brasil apontam que, por outro lado, os problemas que o setor da construção civil vive na China podem prejudicar a indústria do Pará, fortemente concentrada na extração mineral. O estado é o maior exportador de minério de ferro do país.

As expectativas para os setores

A XP Investimentos avalia que o setor de serviços continuará crescendo no curto prazo, embora de forma moderada. Dois fatores pesam para isso, diz o economista Rodolfo Margato: a dissipação dos impulsos pós-Covid e a acomodação das condições do mercado de trabalho.

Para o varejo, a expectativa é de crescimento modesto. O economista da XP ressalta que a demanda doméstica segue em trajetória de desaceleração, motivada pelo mercado de crédito apertado e a situação mais acomodada do emprego e da renda. “As atividades varejistas que continuam em alta refletem o recuo da inflação, a maior renda disponível às famílias e medidas de estímulo do governo”, diz.

Segundo o banco MUFG Brasil, a indústria continuará sofrendo altas e baixas, motivadas pelo desempenho divergente entre os seus segmentos. A maioria deles tem operado com estoques excessivos devido à demanda relativamente fraca, o que limita a expansão da produção industrial.

A indústria também é penalizada pelo alto nível de endividamento das empresas e das famílias. O cenário externo permanecerá desafiador com a desaceleração econômica global, o que prejudica as exportações.

Relatório regional do Banco do Brasil mostra que estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo tiveram sua indústria afetada pelo aperto monetário, pois concentram a produção de bens duráveis.

Os estados que mais crescem em quatro grandes setores

Variação dos indicadores em 12 meses. Fontes: IBGE e Ministério da Agricultura

VAREJO - Volume de vendas no comércio varejista ampliado

1.° Paraíba 12,3%
2.° Tocantins 8,2%
3.° Mato Grosso 6,7%
4.° Alagoas 6,2%
5.° Acre 6,1%

SERVIÇOS - Volume de prestação de serviços

1.° Mato Grosso 15,5%
2.° Tocantins 14,2%
3.° Paraíba 13,0%
4.° Roraima 10,5%
5.° Minas Gerais 10,1%

INDÚSTRIA - Produção física industrial

1.° Amazonas 8,3%
2.° Mato Grosso 7,8%
3.° Rio de Janeiro 5,1%
4.° Minas Gerais 3,4%
5.° São Paulo 0,5%

AGROPECUÁRIA - Valor bruto da produção

1.° Roraima 30%
2.° Amapá 24,6%
3.° Alagoas 22,2%
4.° Rio Grande do Norte 13,3%
5.° Paraná 12,3%
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