As primeiras gaitas de Blumenau foram sopradas em 1923. Foi quando o mecânico alemão Albert Hering começou a fabricar esses instrumentos para atender os conterrâneos que, como ele, apreciavam o som das harmônicas, mas tinham dificuldade de importá-las da Alemanha para o Brasil, depois da Primeira Guerra Mundial.
Nos anos 40, a Hering Harmônicas já era uma fábrica bem sucedida, e suas gaitas ganhavam prêmios em feiras internacionais. Após o falecimento de Alfred naquela década, a empresa foi administrada por sua família até ser adquirida, em 1966, pela Hohner, uma marca alemã, com mais de um século de tradição. A partir de então, as gaitas "made in Blumenau" avançaram em qualidade, ao incorporar a tecnologia da Hohner, que ainda hoje é a principal fabricante de harmônicas do mundo.
Esse apogeu durou até o fim dos anos 70, quando o casamento com a firma estrangeira se desfez. A fábrica então foi adquirida por um grupo catarinense, e depois passou para a Trol, fabricante de brinquedos. Em 1991, porém, com o fechamento dessa empresa, que pertenceu ao ex-ministro Dilson Funaro (falecido em 1989, um dos criadores do Plano Cruzado), a Hering ficou à beira da extinção, até ser comprada por um grupo paulista em 1994.
"Nosso plano inicial era levantar a empresa e depois vendê-la. Mudamos de ideia ao perceber o potencial da Hering", diz Alberto Bertolazzi, que desde então assumiu a direção da firma, sem nunca ter tido experiência na área de instrumentos musicais. "Trabalhei minha vida inteira no mercado financeiro. Na gaita, no máximo arrisco um Oh Suzana e olhe lá", brinca.
Sob o comando de Bertolazzi, a Hering encerrou a linha de brinquedos musicais, que havia sido bastante explorada pela Trol, e se concentrou novamente na produção de instrumentos profissionais. "Hoje podemos dizer que fabricamos verdadeiros instrumentos de precisão, que figuram entre as melhores gaitas do mundo", garante o diretor da Hering.
Zelando por essa precisão, Bertolazzi afirma nem pensar em transferir a sua produção para a China, como muitas empresas do ramo acabam fazendo. "É preciso ter um grande know-how para fabricar boas gaitas, coisa que os chineses ainda não têm", diz. "Já Blumenau tem vocação para as gaitas. Aqui temos funcionários com mais de 30 anos de casa, assim como os funcionários novos que chegam ouviam falar da Hering desde criança. Isso tudo faz muita diferença e no fim se reflete em qualidade de trabalho."
Nome
Por carregarem o nome alemão "Hering", que significa "arenque" em português, e terem sido criadas em Blumenau, muitos pensam que a Hering Harmônicas e a Cia. Hering, a famosa marca de roupas, possuem alguma ligação. Mas, como explica Bertolazzi, as duas empresas nunca tiveram relação comercial. "O caso é que os fundadores dessas duas fábricas eram imigrantes alemães e tinham uma relação de parentesco, apesar de não ser muito próxima." (FCF)
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