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Contabilizei é uma empresa que presta serviços de contabilidade on-line para pequenas e médias empresas e recebeu dinheiro de fundos de capital de risco estrangeiro para fazer o negócio crescer. Na foto, Vitor Torres e Fábio Bacarin com os funcionários | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Contabilizei é uma empresa que presta serviços de contabilidade on-line para pequenas e médias empresas e recebeu dinheiro de fundos de capital de risco estrangeiro para fazer o negócio crescer. Na foto, Vitor Torres e Fábio Bacarin com os funcionários| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O próprio capital está mudando o capitalismo brasileiro. Com bilhões de reais em caixa, fundos e investidores especializados estão transformando ideias promissoras em negócios novatos bem-sucedidos. O segredo dessa simbiose entre empreendedores e capitalistas não está no dinheiro e sim na interação de conhecimento – o de gente nova e idealista com o de gestores com anos de experiência de mercado que ajudam na tomada de decisões.

Funcionamento

Conheça quais são os objetivos e como funcionam os fundos de capital de risco nas modalidade Private Equity e Venture Capital:

Definição

Private Equity (PE)

Fundos que investem em empresas mais maduras. O objetivo é financiar projetos de expansão. Envolve grande volume de dinheiro,

Venture Capital (VC)

Fundos que investem em empresas em desenvolvimento. O objetivo é fazer a empresa ganhar escala. Envolve volume menor de dinheiro.

Estrutura

Gestor

Responsável pela gestão do fundo. Passa a integrar o Conselho de Administração da empresa investida para auxiliar no planejamento estratégico e na tomada de decisões. Pode ou não ser cotista.

Investidor

Aporta capital no fundo e vira cotista. Também auxilia na mentoria da empresa investida, mas normalmente não participa do Conselho de Administração.

Administrador

Responsável por administrar a atuação do fundo junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Não se envolve com a empresa investida e não é cotista.

Os fundos de capital foram responsáveis por investir R$ 102,4 bilhões em centenas de negócios nos últimos cinco anos no Brasil e por disseminar melhores práticas de gestão. Segundo dados de pesquisa feita pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) em parceria com a KPMG, dobrou o valor investido por fundos de capital de risco nos últimos três anos. Somente em 2015, as empresas brasileiras receberam R$ 18,5 bilhões em aportes financeiros, valor 39,1% maior do que o realizado no ano anterior.

INFOGRÁFICO: Investimento privado

A associação também calcula que já existe capital disponível para investimento em pelo menos 285 empresas, quase o dobro da quantidade de investimentos realizados em 2015.

Mais do que aportar dinheiro, os fundos trazem conhecimento para dentro das organizações. “As empresas que buscam aporte de capital é porque tem planos de expansão e gostariam de ter, além do capital, um aporte intelectual. Esse fundo não pode simplesmente colocar capital na empresa. Ele tem que ter participação real no negócio, influenciando na política estratégica”, explica Francisco Sanchez, vice-presidente da ABVCAP.

As parcerias são capazes, inclusive, de mudar a economia de um país. Nos Estados Unidos, onde a indústria de capital de risco já investe 1,41% do PIB nacional, a maioria das grandes companhias, como Google, Intel, Starbucks e Yahoo, recebeu private capital ou venture capital.

“É um dinheiro que gera renda, impostos, melhora a qualidade de gestão das empresas e estimula o mercado de capitais”, resume o sócio da KPMG Marco André.

Executivos de renome

Regulamentação

Desde a década de 1990, a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) regula os Fundos de Investimento em Participações (FIP). Neste ano, novas normas foram editadas para trazer mais segurança e transparência ao funcionamento dos fundos.

A formação de empresas mais sólidas a partir de investimentos de private equity e venture capital acontece porque os fundos possuem gestores profissionais com ampla experiência de mercado e, em muitos casos, empreendedores de sucesso. Eles passam a integrar o conselho de administração das empresas investidas e ajudam traçar estratégias, estabelecer metas, implementar práticas de governança corporativa e compliance e a selecionar diretores.

É o que faz, por exemplo, Hernan Kazah, cofundador do Mercado Livre e do fundo Kaszek Ventures, que passou a integrar o conselho da startup curitibana Contabilizei após investir na empresa.

Muitos fundos contam, ainda, com grandes empresas como investidoras. Essas companhias auxiliam no desenvolvimento das empresas investidas ao disponibilizar seus funcionários e sua rede de relacionamento para mentorias e parcerias.

Um exemplo é o Fundo BR Startups, que investe em startups de serviços financeiros e conta com o apoio e o investimento da Microsoft, Banco Votorantim, Qualcomm e Monsanto.

Há espaço para crescer

Apesar do aumento acelerado dos investimentos por fundos de capital de risco, ainda há espaço para crescer. Os aportes de capital de risco correspondem a 0,31% do PIB brasileiro, enquanto no Reino Unido, por exemplo, esse valor chega a 1,95%. Para o investidor e professor da Fundação Getúlio Vargas Leandro Almeida, a informalidade na contabilidade ainda é grande nas empresas, o que dificulta a atração de mais investimentos.

Empresas encontram nos fundos de capital de risco um aliado para crescer

Se até pouco tempo atrás o principal meio de financiamento de projetos de expansão era o BNDES, os fundos de capital de risco vieram para mudar esse cenário. Empresas em busca de crescimento preferem recorrer a fundos de private equity e venture capital , mesmo tendo que colocá-los como acionistas minoritários.

Fundada em 2014, a Contabilizei, startup curitibana de serviços contábeis on-line, já recebeu duas rodadas de venture capital que contaram com a participação do Kaszek Ventures, fundo criado pelos idealizadores do Mercado Livre, Nicolás Szekasy e Hernan Kazah.

A startup utiliza o aporte para fazer melhorias em sua plataforma e ampliar o time de funcionários. Eram cerca de 30 pessoas em 2015 e o número saltou para mais de 80 neste ano. A empresa também passou a oferecer serviços de contabilidade para o comércio e lançou um emissor gratuito de nota fiscal eletrônica.

A catarinense Resultados Digitais, que oferece uma plataforma de automação em marketing, já recebeu R$ 82 milhões de investimentos de cinco fundos diferentes. Guilherme Lopes, cofundador da empresa, afirma que o dinheiro é usado para investimentos em pesquisa e desenvolvimento e para captação de novos clientes.

Já a paranaense Carob House, indústria que desenvolve produtos a partir da alfarroba como alternativa ao chocolate, recebeu R$ 8 milhões do CRP Empreendedor para aumentar a produção, ampliar a linha de produtos, começar a exportar e passar a produzir sua própria matéria-prima.

A explicação pela preferência por fundos de capital de risco está no conhecimento em gestão que eles agregam. “Dependendo da equipe de fundadores, há deficiências técnicas. Eles [os fundos] vêm para sanar esses gaps”, diz Vitor Torres, um dos fundadores da Contabilizei. “Ajudamos as empresas a crescer, mas não somos o protagonista principal. Não tiramos o papel dos fundadores, que são importantes para manter a alma do negócio”, afirma Moises Swirski, executivo da MSW Capital, que administra o fundo BR Startups.

Grandes empresas investem para inovar

As grandes companhias estão investindo em fundos de capital de risco ou criando seus próprios programas para apoiar empresas com grande potencial de crescimento. O objetivo é aprender com os novos empreendedores e incorporar novas tecnologias e inovações.

“A indústria financeira tem um aumento da regulação no mundo que faz com que boa parte dos investimentos feitos dentro da empresa foque em inovações incrementais e não disruptivas”, afirma Gabriel Ferreira, diretor de varejo do Banco Votorantim. A instituição entrou como investidor-âncora do Fundo BR Startups, que aporte de R$ 250 mil a R$ 1,5 milhão em startups de serviços financeiros.

O Bradesco também apoia e investe em startups através do programa InovaBra e do seu fundo de venture capital InovaBra Ventures, que foi lançado neste ano e possui R$ 100 milhões de capital disponível para aporte. As áreas de foco são empresas que atuam com big data, analytics e blockchain e os aportes podem chegar a até R$ 5 milhões.

“Hoje a gente não consegue desenvolver tudo”, afirma Fernando Freitas, superintendente de inovação do Bradesco. Ele acrescenta que o banco ganha também com a mudança de cultura dentro da organização, já que os funcionários formam grupos multidisciplinares para prestar mentorias às startups.

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