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zona do euro

Futuro da Europa é “tramado” em uma vila alemã de 149 habitantes

Meseberg, na antiga Alemanha Oriental, foi o local escolhido por Angela Merkel para pequenas reuniões com outros líderes

O início de 2012 foi particularmente movimentado em Meseberg: a chanceler alemã recebeu nove chefes de governo europeus | Gordon Welters/The New York Times
O início de 2012 foi particularmente movimentado em Meseberg: a chanceler alemã recebeu nove chefes de governo europeus (Foto: Gordon Welters/The New York Times)

Sob o regime comunista, o palácio barroco do século 18, situado à beira de um lago nesta vila no estado de Brandemburgo, abrigava nove famílias no andar de cima e, no andar de baixo, uma filial da Konsum – como era conhecida a mercearia da Alemanha Oriental. Depois de uma reforma multimilionária realizada há vários anos, o castelo agora serve para a chanceler Angela Merkel como uma versão de Camp David, o retiro presidencial dos Estados Unidos. Enquanto os líderes deliberam sobre o caminho para a União Europeia, esta vila de 149 habitantes se tornou o cenário improvável de reuniões altamente confidenciais sobre o futuro da Europa. Que continua incerto, a julgar por notícias preocupantes vindas dos bancos espanhóis nos últimos dias.

No fim de fevereiro, Mer­kel convidou três primeiros-ministros – Enda Kenny, da Irlanda, Petr Necas, da República Tcheca e Valdis Dombrovskis, da Letônia – para uma taça de vinho e uma conversa particular. A pauta incluía não apenas os pacotes de ajuda para a Grécia e outros assuntos da atualidade, mas também questões de longo prazo sobre como cada um via o futuro do continente.

Na semana anterior, ela havia reunido os líderes da Dinamarca, da Estônia e da Holanda para um jantar em Meseberg. Em janeiro, foi a vez de o chanceler austríaco e os primeiros-ministros de Portugal e da Suécia experimentarem a hospitalidade alemã no elegante palácio a uma hora de distância ao norte de Berlim.

Segundo afirmou Steffen Seibert, porta-voz de Merkel, "a chanceler dá muita importância para reuniões eventuais sem uma pauta formal, para promover um diálogo sobre o futuro". No papel de líder da maior economia europeia e do único país com recursos financeiros para resgatar os países endividados da zona do euro, Merkel revelou que seu poder e sua influência têm crescido consideravelmente durante a crise europeia. Embora evite grandes gestos, ela foi muito mais longe nos bastidores ao tomar a iniciativa e assumir o papel de verdadeira líder da Europa.

Discurso após discurso, Merkel afirma que a Ale­manha e a União Eu­ropeia precisam ser "mais Europa, não menos Europa". Os analistas afirmam que isso não é apenas um discurso vazio. "O argumento pró-europeu está chegando", diz Ulrike Guerot, pesquisadora sênior do Conselho Europeu de Relações Exteriores em Berlim. "A atitude é ‘colocamos bilhões no jogo para consertar as coisas. Agora, devemos formar um projeto a partir disso’", descreve.

Privacidade é atrativo para visitantes ilustres de Merkel

As autoridades de Meseberg valorizam o reconhecimento e a melhoria da imagem que vieram com o fato de a cidade ter se tornado o local onde o governo recebe suas visitas, mas isso nem sempre é algo fácil para a vila. "É bastante cansativo, com tudo sendo revistado e conferido", afirmou Ulrike Koch, 22 anos, que estava a caminho de visitar os sogros. Em uma recente visita, as ruas de Meseberg ficaram vazias, a não ser por um trator que passava em frente aos portões principais e por dois policiais que faziam a guarda da entrada.

A localização distante dos holofotes da imprensa da capital é um dos atrativos, naturalmente. Os dignitários que visitam o castelo podem passear pelo jardim, ou, como fez o presidente George W. Bush durante sua visita em 2008, andar de bicicleta ao redor de Meseberg. O porão do castelo já foi a cozinha de uma cooperativa de agricultura da região. Agora abriga o bar de vinhos da chanceler, com lugar para 30 convidados.

"Dar uma mentalidade de sala de visita para a reunião, ‘venha até aqui e passe um tempo comigo em minha casa’, lhes dá uma sensação de intimidade", afirma Jackson Janes, diretor-executivo do Instituto Americano de Estudos Alemães Contemporâneos, na Universidade John Hopkins, em Washington.

Para Merkel, que cresceu a mais ou menos uma hora dali, na cidade de Templin, Meseberg e sua relação com a Alemanha Oriental também dão a ela a oportunidade de contar sua própria história. "Ela pode dizer ‘para mim, é daqui que veio todo o conceito da construção de uma Europa mais ampla’", afirma Jones.

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