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O megainvestidor George Soros afirmou nesta terça-feira que se considera um "especulador" ao investir em etanol no Brasil, devido principalmente aos entraves ainda existentes neste mercado.

O megainvestidor pretende investir cerca de 900 milhões de dólares na produção de álcool no Brasil em cinco anos, mas enxerga uma possível superoferta no mercado local e obstáculos para a expansão do comércio internacional do biocombustível.

- O biocombustível de cana, especialmente o produzido no Brasil, tem um potencial enorme para substituir combustíveis fósseis no mundo, mas sua expansão ainda esbarra, por exemplo, nas barreiras tarifárias de outros países - disse. - Percebi que a palavra especulador tem uma conotação muito ruim no Brasil, mas tenho que confessar que sou um especulador ao investir em etanol porque tem muitos problemas que vocês precisam resolver para fazer o investimento na área realmente viável - afirmou Soros durante apresentação no Ethanol Summit, evento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

A Adeco, empresa da qual Soros é um dos principais acionistas, está investindo em usinas de cana em Estados como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, além de manter atividades em outras culturas agrícolas.

Soros destacou que o álcool de cana é "bem mais eficiente" que o de outras fontes e que o Brasil "está muito bem situado" na indústria mundial.

- Isso me levou a me interessar por etanol, achar parceiros e investir um dinheiro significativo no Brasil - afirmou ele a uma platéia de produtores e agentes do mercado de álcool.

Ele acrescentou que não se sentia em posição de discutir soluções para os problemas, sem entrar em detalhes. Um deles seria o "marco regulatório."

- O Brasil tem capacidade para aumentar a produção de etanol em dez vezes, mas o ambiente regulatório não permite isso. Há vários assuntos que têm de ser resolvidos. E não estou em posição para discutir como, porque não conheço, mas conheço o suficiente para especular que esses temas serão resolvidos - afirmou.

Ele citou que o mercado brasileiro de álcool deve sustentar o crescimento mais lento do mercado externo, mas disse que a "oportunidade real" está em fornecer etanol para o resto do mundo.

- E aí você tem obstáculos, tarifas proibitivas mesmo que não chamadas de tarifas - afirmou ele, citando ainda como uma das dificuldades a criação de um ambiente para ter preços relativamente estáveis. - Isso vai dar bastante trabalho - concluiu.

Segundo ele, o mercado vive uma situação paradoxal: há um excedente no Brasil e uma "tremenda fome" por álcool no mundo.

- Existe a proteção à indústria local (nos EUA e na UE), mas ela não consegue abastecer o mercado. Então tem que haver uma mudança política, e a indústria brasileira tem que requerer isso - disse.

Soros tem investimentos pessoais no agronegócio brasileiro por meio da Adecoagro. Criada em 2002, a empresa atuava apenas no mercado agropecuário argentino até chegar ao Brasil em 2004, quando comprou fazendas na Bahia e Tocantins.

As atividades em agroenergia começaram em 2005, com a aquisição da usina Monte Alegre (MG), onde Soros esteve no domingo. A unidade processa um milhão de toneladas de cana/ano.

O próximo passo é a montagem de uma empresa de etanol em Mato Grosso do Sul, onde serão aplicados os investimentos de 900 milhões de dólares.

Serão três usinas, com uma área total de cana de 150 mil hectares, que até 2015 estarão processando 11 milhões de toneladas de cana e produzindo 1 bilhão de litros de álcool.

Com a nova operação, a receita anual do grupo no Brasil deve subir dos atuais 125 milhões de dólares para 600 milhões de dólares em oito anos. A Adeco atua também nas áreas de algodão, soja, milho e café no país.

Em março passado começaram a ser plantadas as primeiras áreas com cana em Mato Grosso do Sul e a ser construída a primeira das três usinas, que terá capacidade para moer 3,5 milhões de toneladas/ano. O início da operação está previsto para 2008.

Perguntado a respeito do que achava das críticas do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao etanol, Soros afirmou ser ele um "revolucionário bolivariano baseado nas altas receitas com o petróleo.

- Obviamente ele não quer nenhuma concorrência com o etanol - observou.

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