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Bernardo diz que crise deve ser "cozida"

O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, ditou ontem, em Curitiba, a receita para vencer a crise financeira e evitar que a desaceleração da economia atinja o Brasil. "Vamos ter que cozinhar essa crise em fogo brando e ir acrescentando água quente de vez em quando até ela amolecer para a gente fazer um almoço com ela", disse. "Não tem muita perspectiva de que vai ter um cataclismo econômico no Brasil, mas também não dá para dizer que não tem que ficar preocupado, que vamos deixar correr solto."

Ao falar para um grupo de engenheiros civis e arquitetos, o ministro reafirmou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não sofrerá descontinuidade. "Se não tivermos produção de infra-estrutura urbana, como saneamento e habitação, não tem condições de sustentar o crescimento", justificou. "O Brasil foi um dos últimos a ser afetado pela crise e vamos trabalhar para ser um dos primeiros a deixar de sentir os efeitos e retomar o crescimento maior num prazo menor."

Em entrevista coletiva, Bernardo comentou a decisão da Vale de reduzir a produção de minério em 30 milhões de toneladas. Ele disse acreditar que, além do mercado norte-americano, o chinês pode ter contribuído para essa decisão. "Pode ser um sinal de que a China pode ter também desaceleração e pode reduzir as encomendas", supôs. "Ainda assim temos que manter a tranqüilidade, observar isso e, se for o caso, acelerar nossos projetos de siderúrgicas aqui, porque o Brasil tem demanda por aço ainda não atendida."

Agência Estado

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, disse que o governo estuda a possibilidade de que bancos públicos como a Caixa Econômica Federal (CEF), Banco do Brasil (BB) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passem a financiar a compra de veículos para o consumidor. Em reunião realizada nesta tarde, com a participação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e dos presidentes das principais montadoras do país, na capital paulista, as empresas apresentaram suas reclamações sobre a restrição de crédito que consumidores têm encontrado nas concessionárias para adquirir veículos.

"Não falamos de valor, até porque isso é uma decisão dos bancos, mas falamos fundamentalmente sobre conceitos e houve uma clara receptividade, uma receptividade muito forte, no sentido de que os bancos olhariam isso a partir da semana que vem com muito mais atenção. Falamos sobre atividade mais forte de bancos públicos em relação a esse tema. A Caixa pode ser uma opção, o BB pode ser uma opção. De alguma forma, eventualmente mais ligada a caminhões e ônibus, o BNDES pode ser uma opção", disse Schneider.

Parcerias

No encontro, do qual Mantega e Meirelles saíram sem falar com a imprensa, Schneider destacou que as conversas não envolveram a compra de carteiras de crédito das financeiras das montadoras, conforme prevê a medida provisória 443, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. "Não falamos de compra de carteiras de financeiras das montadoras. Nós falamos de funding específico na ponta", afirmou. "Nós falamos da possibilidade de os bancos passarem a atuar na ponta de uma maneira mais direta ou através de parcerias com bancos que tradicionalmente operam nessa ação de comercialização de veículos através de financiamentos", acrescentou.

Essa parceria significaria a liberação direta de recursos para instituições que financiam veículos. Diante da insistência dos repórteres sobre a eventual compra de carteiras dessas financeiras, Schneider respondeu: "Comprar carteira pode ser uma ação, mas não acho que é a mais efetiva." Os efeitos da crise por que passa o sistema financeiro já estão afetando as vendas das companhias neste mês de outubro. Schneider não soube precisar até que ponto as empresas serão prejudicadas. "Nós não temos o número fechado de outubro, mas eu fui claro no sentido de que já estamos vendo queda nas vendas. Não sei e não vou especular sobre ela", disse.

Ele insistiu, no entanto, que é preciso planejamento para que essa redução nas vendas não seja ainda maior no futuro. Schneider disse que as montadoras acreditam que as recentes medidas anunciadas pelo governo e que liberaram parte do compulsório recolhido pelos bancos passem a ter efeito no mercado já na semana que vem.

Único pedido

O presidente da Anfavea ressaltou que a questão do crédito ao consumidor foi a única apresentada pela entidade ao governo. Na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na abertura do Salão Internacional do Automóvel, em São Paulo, que as montadoras poderiam apresentar todo o tipo de queixa ao governo na reunião de ontem.

De acordo com dados da Anfavea, os financiamentos são responsáveis por 70% das vendas de automóveis no país. Schneider ressaltou que as férias coletivas anunciadas recentemente pelas montadores têm mais a ver com a queda nas vendas para os mercados de exportação do que com o mercado interno.

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