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Contas públicas

Haddad critica “falta de honestidade intelectual” em cobranças de ajuste fiscal

Fernando Haddad
Ministro da Fazenda afirma que sociedade não reconhece o esforço fiscal que o governo vem fazendo nas contas públicas. (Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda)

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O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, rebateu críticas sobre a condução da política econômica brasileira e os desafios para conter a inflação, dois dos problemas mais apontados nas recentes pesquisas de opinião que desabaram a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com ele, falta “honestidade intelectual” de parte da sociedade e da imprensa ao avaliar os esforços do governo.

O governo, diz Haddad, vem perseguindo o ajuste fiscal desde o início da gestão, e que, no ano passado, se conseguiu um déficit de apenas 0,1% longe do teto de 0,8% do PIB que o mercado financeiro previa.

“Estamos em uma situação melhor do que já estivemos. E que este é um trabalho permanente porque é também pedagógico, de consistência e resiliência, de conversar o tempo todo com todo mundo para não sairmos do rumo traçado”, afirmou o ministro em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta quarta (9).

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Fernando Haddad frisou que o compromisso da equipe econômica é com um ajuste fiscal estruturante, e não apenas paliativo. E que o controle do déficit está diretamente ligado ao crescimento econômico e à correção do que ele vê como distorções históricas no orçamento público.

“O que diferencia o Lula dos antecessores é que, para nós, o ajuste fiscal depende de um crescimento mais robusto, importante até para corrigir as distorções do nosso orçamento, das nossas contas”, explicou.

Sobre as previsões do mercado que apontam crescimento modesto do PIB em 2025 — atualmente em 1,97%, segundo o Relatório Focus desta semana —, Haddad foi enfático ao discordar: Para ele, a expectativa é de “um crescimento maior, de 2,5%”, e “a média de crescimento vai ser maior do que a dos sete anos dos governos conservadores que nos antecederam”.

Culpa da oposição, diz Haddad

O ministro Fernando Haddad também afirmou que o Brasil acumulou uma década de déficits primários e atribuiu à atual oposição parte da responsabilidade pela fragilidade fiscal do país.

“A atual oposição teve sete anos para fazer o ajuste fiscal e não fez. É curioso que isso nunca seja relembrado”, disse.

Mesmo diante de críticas sobre medidas pontuais, Haddad defendeu que diversas ações estruturais já foram adotadas. Ele citou a atualização da política de valorização do salário mínimo, a reformulação das regras do abono salarial e ajustes no Fundeb, todos adequados ao novo arcabouço fiscal.

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O ministro apontou ainda decisões difíceis que o governo preferiu enfrentar sem empurrar o problema para o futuro, como a questão dos precatórios e a atuação nos tribunais para eliminar riscos fiscais de origem judicial. Um exemplo citado foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que obrigou o Congresso a respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal.

“Poderíamos ter judicializado e empurrado o pepino do calote aos governadores e nos precatórios por 20 anos. E optamos por não fazer”, pontuou.

Haddad ainda lamentou o que seria o pouco reconhecimento do esforço fiscal, afirmando que “é muito curioso não sermos reconhecidos como um governo que está colocando ordem nas contas”. E ainda apontou a desoneração da folha de pagamento, prorrogada em 2023, como um fator que impediu um superávit primário no ano passado.

Apesar disso, o ministro vê sinais de recuperação da credibilidade do país. Segundo ele, as três principais agências de classificação de risco já melhoraram a nota do Brasil, e o Fundo Monetário Internacional (FMI) reconheceu os avanços.

Haddad criticou, no entanto, a forma como parte da imprensa reage a essas boas notícias. “O curioso é que quando uma agência de risco melhora a nossa nota de crédito, a imprensa faz editorial criticando a agência. É algo particular do Brasil”, completou.

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