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Hoje, é recorrente dizer que vivemos na era da informação e tecnologia. Quem de nós ainda não se deparou com ela? Nos caixas automáticos dos bancos, nos cartões de telefone, de vale-transporte, de crédito, de recarga de celular. Os meios de comunicação estão diferentes, a internet instaura novas formas de linguagens e contatos. A presença dos computadores alterou até as relações de trabalho, criando novas necessidades e moldando comportamentos.

No meio de tantas oportunidades, ironicamente, essa mesma onda de "facilidades" cria mais um tipo de exclusão, a chamada exclusão digital. Há algumas décadas as pessoas eram classificadas em alfabetizadas e analfabetas. No Brasil, mal superamos os problemas educacionais e já podemos sentir os reflexos dos chamados analfabetos digitais, presentes nas camadas menos favorecidas do nosso sistema econômico. Além de todas as demais dificuldades, ganharam mais uma desvantagem: não entendem a linguagem das máquinas!

O número de pessoas desprovidas do acesso à tecnologia não é pequeno. Pesquisa divulgada em outubro do ano passado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil apontou que 54% dos brasileiros nunca usou o computador. Para minimizar essa trágica realidade, várias ações começam a ser adotadas, como a isenção de impostos baratear os custos dos equipamentos e programas como Um Computador por Aluno.

O trabalho do Comitê para Democratização da Informática (CDI), é uma das iniciativas que têm como objetivo oferecer acesso à informática às pessoas com renda mais baixa. Criado há mais de 10 anos, é uma organização não-governamental especializada em promover a inclusão digital. São 880 Escolas de Informática e Cidadania (EICs) espalhadas pelo Brasil e no exterior, mantidas em parceria com instituições e empresas. Nelas, jovens e adultos, idosos e crianças têm encontro marcado com a cidadania, usando o computador como um instrumento para a ação e transformação de realidades. São mais do que simples escolas de computação. As EICs são locais em que se transformam vidas e que contribuem para o desenvolvimento comunitário.

O que destaca e diferencia o trabalho realizado pelo CDI dos demais é o foco nas pessoas, e não nas máquinas. A maioria dos projetos e programas de inclusão digital incentiva o acesso ao computador, ou seja, favorecem propostas que permitem que as pessoas possam adquirir um instrumento tecnológico. O que fazer com um equipamento que não se sabe usar?

A preocupação do CDI vai muito além do ensino de informática. Os problemas sociais e econômicos do público atendido são muito maiores que a exclusão digital. Por isso, é preciso abandonar as práticas assistencialistas e pensar em soluções permanentes. Juntar o ensino da informática às ações de cidadania pode não transformar a realidade como um todo, mas pode transformar vidas.

Ver um jovem de 18 anos com todas as más oportunidades batendo à sua porta se transformar em professor de uma Escola de Informática é gratificante. Ver outro, que poderia estar nas estatísticas da criminalidade se tornar técnico em informática, webdesigner ou líder comunitário é prova de que o trabalho segue na direção certa.

A verdadeira inclusão transforma a vida das pessoas, por isso está muito além de ter acesso ao computador. A verdadeira inclusão provoca melhoria na auto-estima, na forma de comunicação, na capacidade de enfrentar os preconceitos, no olhar que se tem sobre o mundo.

Jacimara Villa Forbeloi é mestre em sociologia das organizações pela UFPR, professora da UniBrasil e coordenadora executiva do CDI-PR.

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