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Carga tributária nas alturas e os maiores juros do mundo o Brasil já tem faz tempo, e nem por isso a indústria nacional entrou em colapso. Mas alguns economistas começam a enxergar sinais de que um terceiro elemento, o real valorizado, dará o golpe de misericórdia na competitividade de vários setores da economia. A tese já foi encampada por diversas entidades industriais do país e desde o início do ano tem aparecido cada vez mais freqüentemente no discurso de empresários paranaenses: para eles, o Brasil e o Paraná estão caminhando rumo à "desindustrialização" – uma etapa normal em economias desenvolvidas, mas que estaria ocorrendo de modo precoce no Brasil.

A tal desindustrialização significa, basicamente, a redução da importância da indústria na economia de determinado local, seja no volume de riquezas geradas, seja no total de pessoas empregadas pelo setor. Quem acredita que isso está acontecendo diz que não se trata de uma crise momentânea, e sim de um retrocesso do país à condição de exportador de produtos primários, como soja e minério de ferro.

Mas, embora pífios, os indicadores de atividade da indústria em 2005 e 2006 não comprovam, isoladamente, que uma desindustrialização já está em curso. Além disso, não são abundantes os exemplos de empresas que fecharam as portas, abandonaram o país ou tornaram-se meros entrepostos comerciais – comprando no exterior produtos acabados, colocando sua marca e revendendo no mercado interno.

No entanto, caso o dólar persista no atual patamar, próximo de R$ 2,20, é grande o risco de que exemplos como esses se tornem comuns. Nesse nível, muitas empresas simplesmente não conseguem mais exportar, pois precisam reajustar seus preços, e acabam perdendo clientes. A saída acaba sendo reduzir a produção, demitir funcionários ou mesmo fechar as portas.

"Se esse processo continuar, as perspectivas de crescimento da economia vão ficar ainda menores. O país não vai conseguir crescer mais que 3% ao ano", diz o economista José Luís Oreiro, diretor do Centro de Pesquisas Econômicas da Universidade Federal do Paraná (Cepec/UFPR). "Mais dois ou três anos com esse câmbio, e boa parte da estrutura produtiva brasileira será destruída."

Para Oreiro, os problemas gerados pelo câmbio vão dar continuidade a um movimento de desindustrialização iniciado na segunda metade da década de 80 e interrompido entre 1999 e 2004. O processo teve início com os sucessivos fracassos econômicos do governo José Sarney e tornou-se mais grave após a abertura comercial promovida pelo presidente Fernando Collor e pelo câmbio, porque o real se manteve artificialmente valorizado nos primeiros cinco anos de Plano Real. A partir de 1999, quando o dólar voltou a subir, a indústria começou a se recuperar. "Mas essa reversão teve fôlego curto", diz Oreiro.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a participação da indústria nas riquezas produzidas pelo país passou de 19% em 1950 para 36% em 1985. Depois do auge, caiu até atingir 22% em 2000, e pouco variou desde então. Nesse período, a participação dos empregados da indústria no mercado formal de trabalho caiu de 27% para 18,6%.

No entanto, a tese de que o Brasil estaria passando por um novo processo de desindustrialização está longe de ser unanimidade. "Mesmo que a participação da indústria no PIB esteja caindo, isso não significa que o setor está encolhendo", diz Robson Ribeiro Gonçalves, professor do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (Isae/FGV). "O que acontece é que a indústria está crescendo mais lentamente que setores como o de serviços, como é natural no desenvolvimento de qualquer economia."

Gonçalves também rejeita a idéia de que, mesmo ocorrendo, a desindustrialização seja precoce – é o que ocorre quando a indústria perde espaço na economia antes de se desenvolver completamente. Para o economista, a população brasileira já atingiu um nível de renda semelhante ao dos países desenvolvidos quando eles mesmos viram suas indústrias perderem importância, de maneira "saudável", para o setor de serviços.

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