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| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Geração y

Perfil multitarefa e imediatista do jovem assusta alguns gestores

O professor Amir El-Kouba, da FGV, aponta que, apesar do discurso de inovação, os gestores das empresas, em sua maioria com idade em torno de 40 anos ou mais, pouco sabem lidar com os jovens da geração Y. Eles trazem competências que incorporaram do mundo digital, são multitarefas, curiosos e questionadores, o que pode ser visto no ambiente corporativo como indisciplina ou inadequação à hierarquia. "Embora esses comportamentos coloquem o gestores numa ‘saia justa’, é inegável a contribuição deste estilo de vida para tirar as organizações do marasmo comportamental e cultural", diz.

Além disso, segundo Regina Madalozzo, do Insper, os jovens são mais imediatistas e podem se frustrar ao assumir tarefas mais simples em seu primeiro emprego, quando se acham capazes de mais, principalmente aqueles que prolongam os estudos antes de entrar para o mercado. "A inserção do jovem mais escolarizado é mais complexa, mas é uma vantagem para o crescimento do país e para ele, que fica menos exposto aos riscos da economia e à oscilação do mercado", diz Cláudio Dedecca, da Unicamp.

Provas, trabalhos de conclusão, exames finais. Depois do esforço dos jovens estudantes em se qualificar é que vem o maior desafio: o primeiro emprego. Segundo análise de dados de 2006 a 2012 apresentada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), jovens entre 15 e 24 anos que nunca trabalharam têm 64% menos chances de encontrar um emprego que pessoas da mesma idade com experiência anterior e 70% menos que adultos com 25 anos ou mais. A dificuldade de inserção no mercado acaba estimulando o aumento da geração nem-nem (nem estuda e nem trabalha), que hoje representa um quinto dos jovens de 15 a 29 anos, segundo o IBGE.

INFOGRÁFICO: Veja as principais dificuldades na corrida pelo primeiro emprego

A ausência de políticas públicas de incentivo à contratação de jovens sem experiência os deixa à mercê de políticas empresariais e do cenário econômico. O Programa Nacional do Primeiro Emprego (PNPE), proposto pelo ex-presidente Lula em 2003, não apresentou resultados e foi extinto. O Projovem, disponível apenas para jovens de famílias com renda per capita de até um salário mínimo, e o Jovem Aprendiz oferecem capacitação e aprendizagem, mas sem garantia de efetivação.

Aos com grau superior ficam os disputados programas de trainees ou o famoso "quem indica". Na necessidade, a juventude de currículo breve acaba optando pelo mercado informal, vagas em meio período ou funções aquém de suas capacidades.

Para Cláudio Dedecca, professor da Unicamp especializado em Economia do Trabalho, o cenário econômico tem grande influência na oferta de empregos para jovens sem experiência e 2014 não foi um ano favorável, devido à estagnação causada pela Copa do Mundo e as eleições. "As empresas devem buscar uma solução pra reativar o crescimento em 2015, mas o governo precisa se preparar principalmente com políticas educacionais de qualidade."

Com o baixo crescimento, as empresas absorvem mão de obra experiente em busca de resultados imediatos e a contratação de jovens, investimento de médio prazo, é a primeira a ser cortada. "Precisamos de políticas públicas que não isolem a contratação dos jovens, é necessário que o incentivo fiscal esteja alinhado a outras políticas sociais e econômicas", diz Amir El-Kouba, professor de MBA da FGV e do Isae na área de gestão de pessoas.

Estágio

O sistema de recrutamento das empresas pode ser outro obstáculo à estreia de jovens profissionais, pois com frequência aposta mais no currículo do que na identificação de potencial do candidato. Neste cenário, o estágio aparece como alternativa para o jovem provar suas competências e abrir caminho na empresa. "É um meio de conhecer o profissional e testar sua adequação à política da empresa. Com o cuidado para que seja um aprendizado e não uma estratégia barata para obter mão de obra", diz Regina Madalozzo, especialista do Insper em mercado de trabalho. Amir El-Kouba considera o estágio também como uma forma de adquirir habilidades relativas à cultura organizacional, já que o ensino é muito focado apenas no conhecimento técnico.

Sem "Q.I.", parcerias são alternativa

Na tentativa de suprir a falta de incentivo do governo, empresas e instituições de ensino firmam parcerias para a transição do estudante ao mercado de trabalho. Alesson Lopes (foto), de 21 anos, conquistou seu primeiro emprego na Bosch graças à parceria entre a multinacional e o Senai, onde obteve grau técnico. Ele começou como aprendiz e hoje é contratado como meio oficial, enquanto termina o curso de engenharia mecânica. "Foi uma grande porta de entrada e depois tenho chances de ser contratado como engenheiro. Quando a oportunidade vem é preciso dar o melhor para que acreditem no seu potencial", diz.

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