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Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, está na Suíça: Brasil não se pronunciou sobre cobranças dos países ricos | Ueslei Marcelino / Reuters
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, está na Suíça: Brasil não se pronunciou sobre cobranças dos países ricos| Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Basileia, suíça - A pior crise financeira nos últimos 70 anos eclodiu nos países ricos. Mas agora esses governos cobram justamente das economias em desenvolvimento – entre elas o Brasil – a elevação de taxas de juros, cortes de gastos e um abandono de políticas de estímulo ao crescimento. Tudo isso para permitir que os países ricos, que ainda patinam para sair da crise, evitem a "importação da inflação" e também possam apresentar um crescimento sustentável.

A cobrança foi feita pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), alertando que a inflação nos países emergentes ameaça a recuperação da economia mundial, mas abrindo um racha entre emergentes e ricos. O BIS, espécie de "banco central dos bancos centrais", iniciou ontem, na Basileia, um encontro com as principais autoridades monetárias do mundo, entre eles Alexandre Tombini, presidente do BC brasileiro.

Irritação

A cobrança irritou representantes de BCs de países emergentes e alguns ironizaram o alerta como mais uma tentativa de transferir aos mercados em desenvolvimento a responsabilidade por tirar a economia mundial da incerteza. O Brasil optou por não se pronunciar. Já um representante de um BC europeu, que pediu para não ser identificado, alegou que cabe aos emergentes hoje "contribuir" para a estabilidade internacional.

A agenda do encontro está dominada pela questão da volta da inflação. O BIS estima que o impacto da alta nos preços se transformou em uma realidade para a grande maioria dos países emergentes. Mas seu efeito tem ido além, com prejuízos para a recuperação da Europa, Estados Unidos e Japão, e promovendo incertezas sobre a capacidade da economia mundial em crescer de forma sustentável.

Dos 21 BCs no mundo que têm metas de inflação, oito já a estouraram, entre eles a zona do euro, Reino Unido, Turquia, Chile e a própria Nova Zelândia, onde a ideia das metas foi criada. Dos 21 países, apenas dois – Suíça e Noruega – estão hoje com inflação abaixo do centro da meta.

Contaminação

O mecanismo de "contaminação" dessa inflação entre emergentes e ricos seria bastante direto. O crescimento da demanda por commodities nos países emergentes teria levado a um aumento dos preços desses produtos. Essa alta, porém, não se limitou aos mercados em desenvolvimento e é sentida também onde não há ainda um crescimento sólido das economias. Como consequência, regiões como a Europa têm ao mesmo tempo dificuldades para crescer e ameaças de inflação, em uma aparente contradição. No entanto, com uma recuperação ainda tímida, europeus e americanos não teriam espaço para elevar taxas de juros para conter essa inflação, sob o risco de matar prematuramente sua própria recuperação.

O BIS acredita que não há certezas ainda sobre a retomada dos mercados maduros. Para os economistas, portanto, países industrializados estão hoje sem instrumentos para lidar com a inflação que os atinge, e qualquer elevação de taxas de juros abafaria a incipiente retomada. Na zona do euro, por exemplo, a inflação já superou a meta estabelecida pelo BC europeu. Mas a região pena para crescer. Na Europa, o BC optou por não elevar a taxa de juros para não abafar a retomada.

A avaliação, portanto, é de que cabe aos emergentes conter suas expansões para, assim, frear a contaminação inflacionária. Para o BIS, emergentes precisariam tomar duas ações: continuar a elevar os juros e, ao mesmo tempo, cortar os gastos públicos para desaquecer suas economias.

Brasil

No caso do Brasil, a estimativa é de que o país também terá de seguir com sua política de elevação de taxas de juros e corte de gastos. Mas o BIS optou por destacar o trabalho do BC como um exemplo de autoridade monetária que estaria focada no esforço de reduzir a inflação. Na semana passada, a inflação ficou acima da meta de 6,5% e o BIS não dá qualquer indicação de que os preços estejam sob controle no país. Mas a indicação é de que pelo menos o trabalho vai no sentido sugerido pelo banco, com um aperto monetário, incluindo elevação de taxas de juros, controle de capital e corte de gastos. Desde 2010, o BC elevou a taxa de juros em 325 pontos base, além de adotar medidas macroprudenciais para reduzir o excesso de crédito.

O próprio governo já indicou que vai continuar tomando medidas até quando achar necessário, como a elevação nas taxas de juros. Mas o crédito continua crescendo e o governo admite que 2011 terminará com a inflação acima do centro da meta. A taxa de 4,5% seria atingida apenas em 2012. Para este ano, o BC projeta um crescimento do PIB 4% e inflação de 5,6%.

Exercícios feitos do BC sugerem ainda que o esforço fiscal – com o corte de R$ 50 bilhões – começará a surtir efeito na inflação em um prazo relativamente curto e que seu pico será atingido no sexto trimestre depois de sua adoção. Para maio, a expectativa é de uma taxa de inflação menor que em abril.

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