• Carregando...
Três itens vão puxar a inflação: alimentação, hotelaria e passagens aéreas | Brunno Covello / Gazeta do Povo
Três itens vão puxar a inflação: alimentação, hotelaria e passagens aéreas| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo

Junho e julho de 2014 serão atípicos. O impulso inflacionário virá, principalmente, do setor de serviços, que enfrentará um pico de demanda em função da Copa do Mundo. Mas especialistas ponderam que a aceleração será pontual e, nos meses posteriores ao torneio, haverá acomodação dos preços. No fim de 2014, pode ser até que o Mundial passe batido pela inflação.

Na previsão da LCA Consultores, o Índice Na­­cional de Preços ao Con­­sumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses vai atingir o pico em julho, a 6,46%. "Isso não faz parte da sazonalidade normal, pelo contrário. Historicamente, salvo outras exceções, os meses do meio do ano têm inflação mais perto da mínima do que da máxima", explica o economista Étori Sanchez, da LCA.

Três itens devem ter os preços influenciados de forma expressiva no período da Copa: alimentação fora do domicílio (que inclui refeições, lanches e bebidas), hotelaria e passagens aéreas. No resultado do IPCA de janeiro, esses itens tiveram pesos de 8,52%, 0,42% e 0,67% na inflação geral, respectivamente.

Levando em consideração esses pesos, o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), estima que cada 1% de alta simultânea nos três itens provocará um impacto positivo de 0,1 ponto porcentual na leitura mensal do IPCA. No caso específico das passagens, o impacto pode começar já em maio, por uma questão metodológica. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) captura os preços para viagens dali a 30 dias. Ou seja, a variação de preços dos bilhetes de junho será medida no índice do mês anterior.

Apesar disso, Braz afirma que o evento envolve condições que são difíceis de antecipar, o que se torna um obstáculo para projeções de quanto esses itens realmente poderiam subir no período do Mundial. "Não tenho como prever a magnitude desse movimento de alta", diz.

O economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, também evita cravar um número, mas observa que a Copa trará um ‘microchoque’ aos preços. "(A Copa) é sim um fator de incerteza. Não se consegue saber a intensidade da pressão, quantificar com precisão o impacto. Vai ser algo empírico", avalia. Segundo o IBGE, o IPCA de serviços registrou alta de 8,26% em 12 meses até janeiro, acima do índice geral (5,59%) no período.

Em dezembro de 2013, o próprio Banco Central (BC) tentou mensurar o peso dos megaeventos esportivos sobre os preços. Num estudo publicado junto no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), a autoridade monetária estimou que a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 vão adicionar dois pontos porcentuais à inflação acumulada entre 2007 (quando o Brasil foi confirmado como país-sede da Copa) e 2017. Ainda de acordo com o estudo, o efeito máximo para a inflação ocorreria em 2015, ano seguinte à realização do Mundial. "Se o BC tem estudos sobre qual pode ser o impacto, é para tentar reduzir a incerteza", avalia Serrano.

Mundial revelará deficiências estruturais

Os analistas fazem coro ao dizer que a inflação mensal de junho e julho terá na Copa do Mundo um forte componente sazonal de alta. Mas a realização do evento em si e o consequente aumento da demanda por bens e serviços não são os únicos fatores para a variação de preços. A restrição de oferta em alguns setores e a deficiência estrutural do Brasil, que ficarão mais evidentes durante o Mundial, serão um agravante para turbinar a inflação no período.

O economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, entende que o problema da oferta ficará mais evidente durante o Mundial. "Se em outros países a inflação foi afetada pela Copa, no Brasil vai ser agravada pela restrição de oferta. Então, aqui vai ser pior", ressaltou.

O setor aéreo é um exemplo de oferta pressionada, segundo o professor de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Reginaldo Nogueira. "Não se fez os investimentos necessários em aeroportos Não se conseguiu aumentar a oferta como deveria. Se há um número limitado de voos e de assentos, o preço vai subir, até reduzir a demanda", afirma.

Dada a falta de infraestrutura, nem o estabelecimento de um teto para as tarifas de passagens aéreas durante a Copa do Mundo, adotado pelas companhias Azul e Avianca (no valor de R$ 999 por trecho), deve impedir a variação de preços. "É mais uma estratégia de marketing", diz o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat.

Hotelaria

No setor hoteleiro, a escassez na oferta não parece ser um problema. Só no Rio de Janeiro, sede da final da Copa do Mundo, 36 hotéis devem ser inaugurados até o evento, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi. Ele garante que não haverá abusos nos preços cobrados pelo setor e não aposta em demanda excedente. "Quem fala em aumento de preços, ou é por falta de informação, ou por má-fé", diz.

Segundo Fermi, ainda em 2007, quando o Brasil foi definido como país-sede, 840 hotéis firmaram contrato com a Match Services AG, empresa contratada pela Fifa para fornecer ingressos para jogos e acomodação. Na semana passada, o Fórum de Operadores Hoteleiros no Brasil (FOHB), que representa 25 das maiores redes hoteleiras do Brasil, informou que até agora apenas 40% dos apartamentos ofertados nas cidades-sede no período da competição já estão vendidos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]