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Alzemir Gulin, da Argafácil: produtores de calcário querem conquistar mais espaço nos setores farmacêutico, de alimentos e de meio ambiente | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Alzemir Gulin, da Argafácil: produtores de calcário querem conquistar mais espaço nos setores farmacêutico, de alimentos e de meio ambiente| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Benefício

Ao estimular a criação de um arranjo, os agentes públicos dão um empurrão para que os empresários de uma região desenvolvam seu "capital social", ou seja, a capacidade de fazer conexões e usá-las para gerar algum benefício nos negócios. Esse tipo de capital intangível é quase tão importante quanto dinheiro e máquinas no mundo empresarial. "Quando as conexões são amplas, cria-se um ambiente de cooperação que fortalece todos os membros da sociedade", comenta Cristiane Stainsack, coordenadora de APLs do IEL.

O capital social, porém, não cria APLs. Ele apenas torna mais fácil a organização de ações conjuntas de empresas com interesses em comum. Antes disso, é preciso que exista a concentração industrial. "Ao longo do tempo existe a tendência de que as empresas se atraiam", diz o economista Nilson Maciel de Paula, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que estuda o tema. "Elas se concentram onde há condições como um mercado de trabalho adequado, fornecedores e a circulação de conhecimento."

Ao investigar a relação entre o conceito de capital social e aglomerados industriais, os especialistas em desenvolvimento notaram que quanto maior o grau de cooperação entre as empresas, melhores seus resultados. "O contato entre vizinhos estimula a inovação, gera a troca de informações e uma sinergia que torna a indústria de toda a região mais competitiva." Isso sem que eles deixem de concorrer por mercados. (GO)

Cidades incorporam identidade da indústria

Uma tendência entre os APLs é que, conforme crescem, eles tentem a criar uma identificação com a cidade onde funcionam. O símbolo mais visível é a proliferação de portais nas entradas dos municípios – um fenômeno em alta, mas de gosto duvidoso para muitos. Em Imbituva, a prefeitura está tão envolvida com o APL de malhas que está erguendo um portal na rodovia que liga a cidade a Ponta Grossa. Em União da Vitória, o portal das esquadrias está quase pronto. A inovação é que ao lado da porta de entrada haverá um show room com produtos do setor madeireiro. "Queremos que a cidade seja conhecida como capital das esquadrias", diz João Ademir dos Santos, consultor do APL. Em Cianorte, o portal afirmando que a cidade é a capital do vestuário traz agulha, fio e botão em tamanho gigante. Em Apucarana, o visitante é recebido por um letreiro indicando que aquela é a capital do boné. Os pontos de ônibus e algumas cabines telefônicas também têm o formato do acessório e todos os anos escolhida a garota do boné. A relação geográfica às vezes vale como uma forma de identificar a qualidade dos produtos. Em Paranavaí, por exemplo, o APL faz parte de um programa nacional de denominação de origem de farinhas de mandioca. "Ao vender a imagem de suas regiões, os APLs têm a chance de criar uma marca coletiva, uma espécie de referência para o público que eles querem atingir", explica o economista Jaime Graciano Trintin, professor da UEM. (GO)

Na teoria econômica, aglomerações industriais têm na inovação uma de suas vantagens competitivas. Quando estão próximas, empresas de um mesmo setor tendem a adotar mais rapidamente mudanças tecnológicas e se preocupam mais com o desenvolvimento de novos produtos – afinal, ficam de olho no que os vizinhos estão fazendo. Quando se organizam em um arranjo produtivo, as firmas potencializam esse efeito inovador. Elas passam a buscar soluções que melhoram a competitividade de todas, como uma espécie de onda que ergue todos os barcos de uma vez.

O investimento em pesquisa é um dos pilares para o funcionamento do APL da cal e calcário, na região metropolitana de Curitiba. Formado no fim de 2004, o arranjo já concluiu os projetos que formam o ponto de partida no processo de modernização da produção. Foi formada uma central de informações sobre cal, que reúne teses, livros, monografias e dados sobre mineração. Além disso, as empresas investiram em um programa de informações georreferenciadas que localiza minas, fábricas e produtos no espaço. "Todo esse conhecimento serve para embasar estudos e programas para o setor", conta Fábio Pini, secretário executivo do APL.

Um desses programas é a renovação da matriz energética da indústria. O setor é dependente do fornecimento de serragem para abastecer seus fornos e procura alternativas que sustentem sua expansão no longo prazo. "Estudamos outras fontes e encontramos opções como casca de arroz, capim-elefante, bagaço de cana, aguapé e casca de mamona." O objetivo do APL agora é montar uma indústria de biomassa para recolher e transformar essas outras fontes em combustível.

O APL da cal também tem um projeto para lançar um selo verde, que certifique o cumprimento das regras ambientais pela indústria da região. O método de concessão já foi desenvolvido e só falta o aval do Instituto Ambiental do Paraná. Outro programa na área de meio ambiente é atingir um grau de emissões zero, o que deve envolver o reflorestamento para compensar as emissões de gás carbônico nos fornos.

Em outra frente, o arranjo tenta desenvolver novos produtos e mercados. "Entramos com mais força no setor de siderurgia, que passou de 10% para 50% da nossa demanda", diz Alzemir Gulin, sócio da Argafácil e diretor da associação que representa os produtores de calcário. "Queremos conquistar mais espaço nos setores farmacêutico, de alimentos e de meio ambiente." Entre as pesquisas conduzidas pelo grupo estão um precipitado de carbonato, ideia trazida da China, o desenvolvimento de uma cal mais forte para construção e de produtos melhores para o tratamento de água. O ganho de competitividade é turbinado pela economia que as empresas têm feito com sua central de compra – somente na aquisição de pneus houve redução de 30% nos preços e agora a ideia é comprar diesel mais barato.

Em Paranavaí, o APL dos produtores de derivados de mandioca participam de uma pesquisa patrocinada pela Finep e pelo Sebrae que tem como objetivo de reduzir as doenças virais nas lavouras. "Fizemos um convênio com a Universidade Estadual de Maringá, que teve um laboratório reformado para esse projeto", destaca Ivo Pierin, sócio da fábrica de amido Pódium. Na busca de maior qualidade, o APL montou um laboratório para controlar o amido produzido na região. "No total, já conseguimos quase R$ 4 milhões para investimentos desse tipo", ressalta Claodemir Grolli, secretário do arranjo.

Em Campo Mourão, a inovação é parte do próprio funcionamento do APL. As 22 empresas do arranjo produzem equipamentos médicos e odontológicos, e só se firmaram no mercado porque desenvolveram produtos novos. "Na área de saúde não dá para trabalhar com o mercado local. Precisamos de tecnologia para vender em qualquer lugar", diz Ater Cristófoli, idealizador do APL cuja empresa exporta para 35 países. Entre as inovações que saíram de Campo Mourão estão um reprocessador de filtros de hemodiálise (que tem só três concorrentes no mundo), uma bomba infusora de insulina e um indicador biológico de esterilização.

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