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Paradoxo

Desde a mudança das regras, captação bate recorde

Desde maio as regras da poupança foram modificadas em função da nova política de juros do Banco Central. Curiosamente é desde maio também que a caderneta registra captação líquida recorde histórica. Os R$ 23,1 bilhões que resultaram da diferença entre o que foi depositado e retirado do fundo nos últimos quatro meses, de maio a agosto, é o melhor desempenho da poupança em toda a história.

Anteriormente, as maiores captações líquidas em um quadrimestre tinham sido registradas nos meses finais de 2009 e 2007. Na oportunidade foram alcançados os montantes de R$ 18,2 bilhões e R$ 17,8 bilhões, respectivamente.

"Depois da última crise econômica mundial, as pessoas viram que podem perder tudo quando um banco quebra. É o fenômeno causado pela aversão ao risco", afirma professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), José Guilherme Silva Vieira.

Apesar dos juros em queda, a caderneta de poupança angariou quase 300 mil novos clientes neste ano com aplicações superiores a R$ 10 mil, de acordo com o censo semestral do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Esta adesão garantiu uma soma nos aportes de R$ 31,1 bilhões em contas nesta faixa de renda. O movimento, no entanto, não parece ser o mais vantajoso para um cenário de taxa Selic em 7,5%, quando o retorno real, descontada a inflação, pode ser negativo. Para este volume de investimentos, o ideal é buscar produtos com liquidez e segurança próximos aos da poupança, mas com rendimentos mais expressivos, como é o caso do Tesouro Direto.

"Com a taxa básica de juros a 7,5%, o ganho líquido da inflação é de 5,25%. Com a inflação de 5,63% projetada pelo mercado, existe a possibilidade de rendimento real negativo em 0,38%", calcula o consultor de investimentos da Diversinvest, Raúl Ribas. Para quem quer segurança, ele recomenda o Tesouro Direto, que em títulos indexados à inflação, rendem a partir de 3% ao ano em papeis que vencem em 2015, como é o caso das NTN-B Principal. "É um bom investimento e que condiciona o poupador a entender melhor a dinâmica do mercado", afirma. Depois, o consultor recomenda que o investidor parta para uma diversificação do montante investido, procurando melhores rendimentos. "O brasileiro tem um perfil mais próximo do poupador do que do investidor. Neste cenário, é recomendável mudar de postura", explica. Ele indica que, para quem tem mais familiaridade com as finanças, o mercado tem boas ofertas de debêntures do setor de logística e em fundos imobiliários.

Fenômeno da caderneta

Mesmo com opções melhores, a poupança continua se popularizando, sobretudo entre os investidores classificados como de alta renda. O fenômeno é atribuído ao cenário econômico conturbado dos primeiros meses do ano. Enquanto a queda nos juros reduz os rendimentos em renda fixa, a turbulência no mercado internacional afasta os investidores das aplicações de maior risco.

"O perfil do poupador com mais de R$ 10 mil em caderneta é de alguém que têm consciência deste cenário e opta pela aplicação mais segura", defende o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), José Guilherme Silva Vieira.

Para ele, o fenômeno é comparável ao investimento em títulos públicos da Alemanha, que são emitidos a juros reais negativos, mas que consegue investidores pela segurança dos fundos. De acordo com o censo do FGC, o saldo total das poupanças variou positivamente em 6,9%. O resultado foi puxado pelos poupadores de alta renda. Nesta faixa, o crescimento nos seis primeiros meses do ano foi de 9%.

Entre os poupadores com até R$ 10 mil investidos, o registro do fundo foi de mais saques do que depósitos, com queda no saldo em 2,7%. Esta queda no volume investido pelos pequenos poupadores é considerada principalmente um reflexo no corte de impostos para incentivar o consumo, para Alexandre Barbosa, gerente de análise econômica e risco de mercado do banco Sicredi.

Para o professor da UFPR, é mais difícil diagnosticar a razão para o movimento contrário. Ele crê que os investidores menores comprometeram parte das suas rendas para saldar dívidas ou foram prejudicadas pela inflação no período. "Este poupador só faz depósitos se tiver sobra seu no orçamento pessoal. Ele usa a poupança, principalmente, para usar este dinheiro em momentos difíceis", afirma Vieira.

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