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Investimentos em saneamento foram afetados pela crise da Covid-19. Em São Paulo, a Sabesp distribuiu caixas d'água em comunidades carentes
Investimentos em saneamento foram afetados pela crise da Covid-19. Em São Paulo, a Sabesp distribuiu caixas d’água em comunidades carentes| Foto: Sabesp/Facebook/Reprodução

A crise no Brasil diante da pandemia da Covid-19 tem deixado em xeque investimentos no setor de saneamento, considerado central nos esforços de combate ao coronavírus. Por enquanto, empresários não reduziram suas estimativas para 2020 frente aos recursos já levantados antes da pandemia. A inadimplência, entretanto, disparou e praticamente não há espaço para novas captações no mercado.

De acordo com o diretor-presidente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Carlos Eduardo Tavares de Castro, o grupo tem discutido com o regulador do setor sobre o crescimento na inadimplência. O indicador em abril está na casa de 20%, cinco vezes maior do que é normalmente. "Está impossível prever para onde vai a inadimplência", disse.

A companhia tem negociado com fornecedores a postergação de pagamentos para manter a cadeia funcionando. Os investimentos da Copasa estão estimados em R$ 816 milhões em 2020, crescimento de 31% no ano. "Se a inadimplência ganhar mais relevância, certamente a gente vai ter de revisitar o plano".

Financiar projetos de saneamento é desafio

A emissão de dívida, fundamental para financiar projetos, tem sido um desafio. A Copasa está com uma estruturação de debênture pronta, mas avalia condições para lançar ao mercado. O executivo disse não poder dar mais detalhes.

Na mesma direção, a Iguá Saneamento teve de pisar no freio no processo de emissão de debêntures. "Tínhamos tudo pronto. Portarias, autorização do Ministério de Desenvolvimento. A gente ia começar a fazer o roadshow, mas o mercado travou. A gente provavelmente receberia R$ 1 bilhão no final de abril para continuar os projetos que a gente tem", disse o presidente da empresa, Gustavo Guimarães.

Guimarães disse que a inadimplência medida por 30 dias em tempos normais fica na casa de 10% a 15%, indo para 4% depois de mais 60 dias. "Na crise, ela veio para 30% em 30 dias. A gente acredita que esse nível de 4% deve voltar apenas em nove meses", afirmou. Ele destacou que a empresa, que recebeu aporte em 2018 de R$ 400 milhões dos acionistas, tem caixa para arcar com a parcela própria dos investimentos, mas que precisa do mercado, responsável por financiar cerca de 70% do valor total dos projetos. Entre as saídas, estaria uma linha de crédito junto aos bancos públicos, mas que não saiu.

Posição confortável é exceção

O caso do Sabesp é um pouco diferente. A empresa, sozinha, responde por 25% de todo investimento feito em saneamento no país. "Ainda é cedo para falar do avanço da inadimplência", disse Rui de Britto Álvares Affonso, Diretor de RI da empresa. A tendência de crescimento, entretanto, seria clara. "É um fenômeno que vamos ter de lidar".

Affonso destacou que a Sabesp tem uma posição confortável para fazer frente aos R$ 3,8 bilhões em investimentos projetados para 2020. "Estamos calejados para enfrentar mais essa crise", disse, e emendou: "A Sabesp não tem reduções bruscas (na receita). Tivemos quedas de 20% de receita no período da crise hídrica, alta de dólar e passamos sem a necessidade de renegociar dívida" afirmou.

A Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) deliberou pelo reajuste tarifário de 2,4924% para a Sabesp, mas postergou a aplicação por causa da pandemia. Affonso disse que recebeu com tranquilidade a notícia. "Do ponto de vista do equilíbrio econômico financeiro, está assegurado. Mas não causa desafio? Depende. Significa uma redução do fluxo de caixa. Significa que a empresa vai ter de ser mais restrita na sua despesa", afirmou.

À espera do marco regulatório do saneamento

Apesar das crises, as empresas mostraram apetite para disputar novos projetos no setor. Carlos de Castro, da Copasa, disse que a companhia continua com a meta de disputar qualquer nova concessão em Minas, com destaque para Andradas e Nanuque, cujos contratos chegaram ao fim. "Estamos aguardando o novo marco regulatório para analisarmos possíveis investimentos em outros Estados."

Na mesma direção, Gustavo Guimarães, da Iguá, destacou que o grupo está focado em projetos novos. "O nosso acionista indicou. Nosso mandato é para crescer a companhia", disse. Entre os projetos no radar estão a Sanesul, que lançou um projeto de PPP em esgotamento, além da região metropolitana de Maceió, a fluminense Cedae e a Caesa (Amapá).

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