Contágio
PIB brasileiro não passará de 3,5%, diz presidente do BNDES
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse ontem que o crescimento da economia em 2011 deverá ficar mesmo entre 3% e 3,5%, abaixo do esperado pelo governo, em função do agravamento da crise internacional. Segundo ele, há pouco a fazer em relação ao crescimento deste ano, que tem menos de dois meses para acabar. Coutinho disse que o Brasil não deve ficar preso ao calendário.
"O que vale é a perspectiva de futuro. Temos a convicção de que o Brasil pode voltar a crescer mais em 2012, 2013, 2014", afirmou. Em entrevista após discursar em seminário da Fundação Ford realizado na sede do BNDES, Coutinho reconheceu que o cenário internacional agravado pelo impasse na Europa provocou uma desaceleração na economia brasileira, sobretudo no investimento, além do programado pelo governo. No entanto, ele afirmou que o país manteve alavancas importantes do crescimento, como os investimentos em infraestrutura e na cadeia de petróleo, além do incentivo aos projetos privados e ao mercado de capitais.
Agência Estado
Depois do grego Georges Papandreou, a crise ameaça o cargo de outro chefe de governo, o italiano Silvio Berlusconi. Hoje, a sessão do Parlamento que deve aprovar ou rejeitar o orçamento de 2011 o chamado rendiconto pode se transformar em um voto de confiança justamente quando o partido do premiê, o Povo da Liberdade (PdL), enfrenta um racha.
Com a instabilidade, o yield (retorno) pago pelo bônus de dez anos do governo italiano saltou 0,33 ponto porcentual ontem, para 6,66%, o nível mais alto desde que o euro foi criado, em 1999. Na Europa, qualquer valor acima de 6% para títulos já vem sendo interpretado por investidores como zona de perigo, por tornar o custo dos empréstimos proibitivo e quase impossibilitar o refinanciamento da dívida pública. O "número mágico" é 7%: com esse patamar, Portugal e Irlanda tiveram de ser resgatados. O BC da Itália diz que se segura até o nível de 8%.
A imprensa italiana tem divulgado vários relatos de deputados da coalizão de centro-direita de Berlusconi que ameaçam votar contra o governo hoje. Pelo menos seis deputados deixaram o PdL na semana passada, desertando para a União Democrática Cristã (UDC), herdeira do antigo partido democrata-cristão da Itália (centro). Berlusconi disse ontem que não tem intenção de renunciar e quer "ver cara a cara qualquer rebelde [do PdL]".
No fim do mês passado, o governo apresentou às autoridades europeias uma lista de reformas que pretende implementar nos próximos meses para conter o déficit orçamentário e, na reunião do G-20, realizada na semana passada, pediu que o FMI supervisionasse a aplicação das medidas. O grande temor na Europa é que a Itália não consiga pagar sua enorme dívida de 1,9 trilhão de euros e precise de ajuda internacional. Isso seria muito caro para a Europa e poderia levar a uma moratória que quebraria a zona do euro e atingiria a economia mundial.
A situação econômica da Itália é grave. As novas medidas que Berlusconi tenta aprovar para reativar a economia incluem um plano do governo para privatizar estatais, o qual deverá levantar 5 bilhões de euros por ano em três anos, e também isenções de impostos para gerar empregos, em um país onde o desemprego entre os jovens chegou a 29% e apenas 48% das mulheres têm trabalho formal. A lei também permitirá ao comércio abrir aos domingos.
A líder da maior central sindical da Itália, a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL, na sigla em italiano), Susanna Camusso, disse que o ano de 2012 será "terrível" para a economia da Itália, mesmo que Berlusconi renuncie ou seja derrubado em breve. Ela criticou as medidas recentemente apresentadas pelo premiê para reativar a economia.
"É diferente"
O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, endossou ontem os esforços da Itália para controlar suas contas públicas, rechaçando com vigor as sugestões de que o país possa seguir a Grécia em uma espiral de dívida impossível de ser controlada. "Eu tenho toda a certeza de que a situação da Itália não é comparável" à da Grécia, disse Schäuble antes de um encontro dos 17 ministros das Finanças da zona do euro. "A Itália anunciou uma série de medidas e se obrigou a cumpri-las", apontou ele. "Se elas foram implementadas, eles estarão muito propensos a ganhar novamente a confiança dos mercados para a Itália."
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