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Curitiba – Setores da economia que exportam ou concorrem com importações terão de conviver por mais alguns meses com o dólar barato. Na previsão de operadores financeiros, a moeda americana deve fechar o ano cotada a R$ 2,52. O valor foi apurado pelo Banco Central na última pesquisa semanal com agentes do mercado e reflete um cenário em que a crise política não levaria à debandada de investidores estrangeiros. Leva também em consideração que a redução dos juros será lenta, como ficou indicado pela manutenção da taxa básica ontem (leia mais na página 24).

No ano, a cotação do dólar caiu cerca de 11%, fato que colocou o real na primeira posição em valorização em relação à moeda americana. Para quem lida com comércio, isso significa que o dinheiro brasileiro ganhou força para bancar importações e que os produtos nacionais estão mais caros no mercado internacional. O efeito desse fenômeno deveria ser uma redução no superávit comercial brasileiro, seguida de uma pequena desvalorização do real.

A combinação de alguns fatores, porém, fez com que a reação do dólar ficasse apenas na esperança dos exportadores. Mesmo com o real valorizado, os embarques continuaram a aumentar para cumprir contratos assinados em 2004 e aproveitar o reajuste de preços no mercado internacional. Além disso, as empresas brasileiras encontram facilidade para captar recursos de longo prazo no exterior e muita gente está disposta a tomar dinheiro emprestado lá fora para aplicar nos juros brasileiros.

"Tecnicamente não há qualquer expectativa para que o real se desvalorize", diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Aliás, pode cair mais, caso as CPIs e o cenário externo não mudem o mercado." Fora isso, só a adoção de uma posição mais agressiva pelo Banco Central tanto no corte das taxas de juros como no controle da flutuação do dólar poderia mudar a direção do câmbio, segundo ele.

A consultoria GRC Visão, por exemplo, prevê que o dólar chegará ao fim do ano cotado a R$ 2,45 e a Selic em 18%. Ou seja, nada de corte forte nos juros. A chance de ação direta do BC no mercado de câmbio também é considerada pequena pelo analista econômico da GRC Thiago Davino. "Na semana passada o BC esboçou uma intervenção, quando a cotação do dólar bateu em R$ 2,27. Pode ser a indicação de um limite, mas não que a autoridade monetária sairá comprando para desvalorizar o real", afirma.

Para o economista Antônio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP, o BC sinaliza que quer controlar a inflação, não importa o quanto custe. "Falamos de um valor imenso trazido pelos juros altos. O dólar barato até segura preços, porque subsidia importações, mas a dívida pública aumenta e investimentos são atrasados", explica. E, pior, essa política restringe o desempenho da economia. "O Brasil deve crescer 3% neste ano, o que é metade da média dos países emergentes", diz.

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