• Carregando...

Brasília – Levantamento feito pelo Banco Central mostra que os juros praticados pelos bancos no Brasil não devem sair tão cedo da lista dos mais altos do mundo. Iniciado no fim de 2004, o processo de redução da taxa Selic já até diminuiu de ritmo, mas só agora começa a se refletir no custo dos empréstimos. E, ainda assim, esse recuo não se mostra suficiente para aproximar as taxas brasileiras da média internacional.

A pesquisa do BC se refere aos financiamentos concedidos em abril: os juros médios dos empréstimos a pessoas físicas chegaram a 57,8% ao ano, o nível mais baixo desde que o BC acompanha o dado (julho de 1994). Em março, era 59%.

Para as empresas, os juros ficaram praticamente estáveis: foram de 30,7% ao ano para 30,6%. Na média entre pessoas físicas e jurídicas, a taxa caiu de 45,7% ao ano para 45%.

Num cenário em que a inflação se estabilize perto de 4,5%, uma taxa de 45% ao ano equivale a juros reais de aproximadamente 39%. Segundo levantamento da Folhapress com dados colhidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 107 países em 2005, somente em cinco – incluindo o Brasil – os juros reais cobrados pelos bancos superam os 20% ao ano.

A expectativa era que esse quadro mudasse com a redução da taxa Selic, que remunera as operações de curto prazo feitas pelos bancos e serve de referência para os juros cobrados nos demais empréstimos.

Em tese, a queda da Selic reduz o custo que os bancos têm para captar dinheiro no mercado e deveria levar também à queda dos juros bancários. Esse repasse pode ser medido pelo comportamento do chamado "spread" bancário – a diferença entre o custo de captação das instituições financeiras e a taxa efetivamente cobrada nos empréstimos. Em setembro do ano passado, um banco pagava, em média, 19,2% ao ano para captar recursos no mercado e cobrava 33,3% para repassá-los a empresas interessadas em obter crédito. Logo, o "spread" era de 14,1 pontos porcentuais.

Entre setembro de 2005 e abril passado, o custo de captação havia caído 3,6 pontos porcentuais, mas a taxa cobrada nos créditos a pessoas jurídicas recuou só 2,7 ponto. Logo, o "spread" subiu para 15 pontos.

"Não tenho uma explicação lógica para o crescimento [do "spread’] para pessoa jurídica", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "Ou os bancos tiveram um aumento no risco ou aumentaram a margem [de lucro]." O "spread" serve para cobrir os custos que os bancos têm para realizar empréstimos. Vão de despesas com funcionários a impostos, incluindo também perdas com a inadimplência. Também faz parte do "spread" a margem de lucro dos bancos.

Em nota, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) disse que a inadimplência e "a cunha fiscal [carga tributária] e os encaixes compulsórios, que elevam os custos dos empréstimos", ajudam a explicar por que os juros no país são altos.

Em abril, segundo a pesquisa do BC, 2,3% dos empréstimos para pessoas jurídicas estavam com um atraso de pelo menos 90 dias nos seus pagamentos. Em setembro do ano passado, a proporção era de 2%. "O quadro geral é de estabilidade da inadimplência. O que se tem são alguns aumentos pontuais [no nível de atraso]", afirma Lopes.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]