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juros
| Foto: Pixabay

A inflação em alta deve levar Brasil e Estados Unidos a elevar suas taxas de juros nesta quarta-feira (15). As decisões se darão em meio a muito nervosismo nos mercados financeiros globais, que começaram a semana com grandes perdas.

Os investidores são influenciados principalmente pelo cenário dos EUA, que enfrentam a maior inflação em quatro décadas e tendem a fazer um aperto monetário mais forte que o esperado até pouco tempo atrás, o que acaba por tirar muitos dólares de países emergentes.

No Brasil, o mais provável, na avaliação do mercado, é que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reajuste a Selic dos atuais 12,75% para 13,25% ao ano. Nos EUA, o Comitê do Mercado Aberto Livre (FOMC, que tem função semelhante à do Copom aqui) tende a promover uma alta de até 0,75 ponto percentual na taxa básica, que hoje está no intervalo entre 0,75% e 1% ao ano. A principal dúvida é se, no Brasil, novas altas virão nas próximas reuniões. Para os americanos, isso é tido como certo.

O mau humor dos mercados – influenciados pela perspectiva de juros mais altos e até uma recessão nos EUA, em paralelo à percepção de maiores riscos fiscais no Brasil – fica expresso na taxa de câmbio brasileira. O dólar começou o mês cotado abaixo de R$ 4,80, mas acumulou altas desde então, fechando esta terça-feira (14) em R$ 5,13. A B3, a bolsa brasileira, acumula uma queda de 8,34% neste mês, caindo de 111.350 pontos em 31 de maio para 102.063 pontos nesta terça.

Cenário para o Brasil

Levantamentos feitos com bancos e corretoras mostram que cresceu a percepção de que a taxa de juros brasileira voltará a subir em agosto, após a provável alta desta quarta. Em um levantamento feito pelo jornal Valor Econômico, por exemplo, a maioria dos respondentes vê uma alta de mais 0,25 ponto porcentual na Selic em agosto, com o ciclo de alta sendo encerrado no patamar de 13,5% ao ano.

A expectativa do Itaú é de que “o comitê mantenha a sinalização de perseverança em sua estratégia até que se consolide o processo de desinflação e ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. Ou seja, dado o contexto de inflação elevada, persistente e disseminada, com uma nova rodada de piora nas expectativas, levará o Copom a sinalizar um ajuste moderado para a reunião seguinte, em agosto.

Quem também projeta que o ciclo de alta segue até agosto é a XP Investimentos. A justificativa é de que a inflação segue pressionada e difundida, com prováveis reflexos no curto prazo. Mas a expectativa da corretora é de uma alta de meio ponto percentual, o que levaria o ciclo de alta, iniciado em março de 2021, até 13,75% ao ano.

A corretora vê fortes possibilidades de que a inflação perca força a partir do segundo semestre por três razões:

  • Política monetária significativamente contracionista no Brasil e no mundo;
  • Preços das commodities, em reais, estáveis desde setembro de 2021; e
  • Demanda interna deve começar a sentir os efeitos dos juros mais elevados.

Possibilidade de o ciclo de alta nos juros acabar neste mês

O Bradesco, por outro lado, aponta que a persistência da inflação (de 11,73% nos 12 meses encerrados em maio) e as surpresas com a atividade econômica (o PIB cresceu 1% no primeiro trimestre), exigem um maior aperto monetário por parte do BC. Mas, na avaliação do banco, esse aperto virá com a manutenção da taxa mais elevada por mais tempo – e não com aumentos adicionais após a reunião desta quarta.

A instituição financeira considera que a resiliência da atividade econômica torna mais difícil o processo de redução da inflação: “A combinação de atividade mais forte e inflação mais persistente irá demandar que a autoridade monetária (o BC) postergue o início do corte dos juros”.

Outras instituições que projetam estabilidade nos juros após a reunião desta semana são a Infinity Asset, que considera que parte das pressões inflacionárias permaneceram semelhantes aos meses anteriores, e a Nova Futura Investimentos, que aponta que o pacote de combustíveis dificulta a tarefa do Copom, apesar da redução da inflação no curto prazo.

Segundo a corretora, a aprovação do pacote, que estabelece um teto para o ICMS, tem potencial de reduzir a inflação neste ano, em troca de uma alta em 2023.

O Itaú Asset, entretanto, vê riscos maiores. Segundo o "Valor", com as discussões em andamento em torno das medidas do governo para conter a alta dos combustíveis e da energia, os reflexos na política monetária podem indicar um cenário de ajuste mais intenso. O objetivo seria o de contrabalançar a política fiscal mais expansionista.

A gestora de ativos estima que somente uma Selic de 16% seria suficiente para levar a inflação à meta em 2023.

Há quem espere alta mais forte no Brasil nesta quarta

A Suno Research projeta, para esta reunião, uma elevação maior que a prevista pela maioria do mercado. A projeção é de uma alta de 0,75 ponto percentual, levando a taxa Selic para 13,5% ao ano, onde permaneceria até o primeiro trimestre de 2023.

O economista-chefe, Gustavo Sung, considera que internacionalmente as commodities seguem pressionadas, o petróleo voltou ao patamar de US$ 120 por barril e o conflito no Leste Europeu e seus choques prosseguem. “Problemas na cadeia produtiva global se mantêm e pressionam os preços dos bens industriais. Por outro lado, os países desenvolvidos começaram a elevar as taxas de juros, o que pressiona a taxa e a inflação brasileira.”

Domesticamente, ele considera que o preço dos alimentos deve se estabilizar no segundo semestre, mas os preços dos bens industriais e dos serviços continuam pressionados.

Cenário para os juros nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o principal fator de preocupação é a inflação, que atingiu 8,6% nos 12 meses encerrados em maio. É a maior alta em quatro décadas. E colocou o Fed (o BC americano) em uma situação delicada, por causa da possibilidade de a maior economia mundial entrar em recessão. “A inflação está muito elevada”, reconheceu o presidente da instituição, Jerome Powell.

A expectativa é de que o Fed possa ser mais agressivo e aumentar a taxa de juro americana além do meio ponto percentual que marcou as últimas movimentações. O que é certo, segundo o head de renda fixa do banco suíço Julius Baer, Markus Allenspach, é que o mercado está posicionando para uma declaração mais agressiva por parte do FOMC.

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