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O estremecido Mercosul enfrenta nesta semana importantes desafios para fazer frente a persistentes ameaças à sua unidade e ao caminho traçado quando começou a funcionar, há mais de uma década.

Diferenças entre dois sócios levadas ao tribunal de Haia, medidas polêmicas anunciadas por seu membro mais recente e questionado, a Venezuela, e o possível ingresso da Bolívia como membro pleno são alguns dos desafios.

A estas dificuldades soma-se a batalha do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para dar um perfil mais ideológico ao Mercosul -que seria reforçado com a chegada de seu colega boliviano, Evo Morales-, e o crescente desencanto do Paraguai e do Uruguai, os menores membros do bloco.

Ao Brasil, como sócio maior, caberia a responsabilidade de lidar com tais conflitos e exercer sua liderança natural para proteger a união aduaneira, algo que inclusive lhe foi pedido pelo Uruguai.

``Realmente o estado de ânimo do Mercosul tem sido um pouco beligerante nos últimos dias'', disse à Reuters o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, ao ressaltar esses antecedentes.

O bloco - que é composto por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela - realizará uma reunião de cúpula na sexta-feira, em um luxuoso hotel do Rio de Janeiro, na qual poderão ser abordados os desafios aos rumos da união aduaneira, estabelecida em janeiro de 1995.

O encontro será precedido na quinta-feira por uma reunião para a qual, além dos chefes de governo do Mercosul, foram convidados os dos países associados -Bolívia, Chile, Equador, Colômbia e Peru-, e do Panamá, Suriname e Guiana.

Bloco econômico ou ideológico?

Na quinta-feira, também se reunirão os ministros de Relações Exteriores e de Economia do Mercosul, que, segundo a agenda, discutirão medidas para aliviar os efeitos negativos das assimetrias dos sócios, que afetam, sobretudo, Paraguai e Uruguai.

Os dois países se mostraram descontentes com o bloco e insinuaram que poderiam abandoná-lo se lhes fosse permitido firmar acordos de comércio extra-regionais, algo vedado pelo bloco.

A reunião ministerial, no marco do chamado Conselho do Mercado Comum (CMC), também analisará uma carta de Morales propondo que a Bolívia integre o bloco como membro pleno.

A aceitação ao pedido de Morales, um amigo e sócio de Chávez, aumentaria a influência do líder venezuelano, que tomou posse para um terceiro mandato na semana passada prometendo levar seu país ao socialismo, inclusive com a entrega de sua vida.

Também se espera que outro socialista declarado e amigo de Chávez, o novo mandatário do Equador, Rafael Correa, peça o ingresso de seu país como membro pleno do Mercosul.

Para alguns analistas, esses não são bons ventos para o bloco e desafiam em particular a Lula, que segue uma linha de centro-esquerda que equilibra uma política econômica ortodoxa com medidas de ajuda aos mais pobres.

``A entrada da Venezuela no Mercosul (em julho), se for analisada economicamente, é bem-vinda. Politicamente é que se gera uma certa insegurança'', disse Castro.

``Meu receio é que o Mercosul seja transformado em um bloco ideológico e não econômico... a eventual vinda do Equador e da Bolívia neste momento seria ideológica e não econômica'', acrescentou.

Para ele, o Brasil, como líder regional, deve dar o exemplo e tomar decisões dizendo ``exatamente se o Mercosul é um bloco econômico, um bloco político ou um bloco ideológico'', complementou.

Irmãos em litígio

Além disso, a reunião de cúpula verá a Argentina e o Uruguai em litígio na Corte Internacional de Haia pela construção de uma fábrica de celulose em território uruguaio, sobre o limítrofe rio Uruguai, que enfrenta resistência argentina por seu possível efeito negativo sobre o meio ambiente.

Pouco antes da reunião, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, deixou em evidência a tensão das relações, inédita para países vizinhos e com uma raiz histórica comum.

``Encontrar-nos, nós vamos, porque estaremos no mesmo ambiente. Não está marcado nenhum encontro bilateral'', disse friamente Vázquez sobre uma eventual reunião no Rio de Janeiro com seu colega argentino Néstor Kirchner.

O Mercosul e o próprio Brasil se mostraram omissos no caso, expondo limitações no sistema jurídico do bloco e na liderança do maior sócio.

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse recentemente que seu país se absteria de fazer uma mediação entre Argentina e Uruguai, indicando que ``devem falar (entre) eles'' para buscar uma solução às suas diferenças.

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