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Emendas

Lobby no Congresso desafia plano de ajuste fiscal

Inclusão de desonerações fiscais em medidas provisórias que tramitam no Legislativo ameaça reequilíbrio das contas públicas

Montadoras do Nordeste do país foram beneficiadas pela MP 627 | Paulo Whitaker/Arquivo/Reuters
Montadoras do Nordeste do país foram beneficiadas pela MP 627 (Foto: Paulo Whitaker/Arquivo/Reuters)

No seu discurso de posse, em 5 de janeiro, Joaquim Levy defendeu o fim do patrimonialismo para a retomada do crescimento. Na prática, o ministro da Fazenda sinalizou o fim das práticas adotadas no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, que destinava crédito subsidiado, desonerações e outras vantagens tributárias a setores específicos da economia. Com a mudança de postura, a barreira para o ajuste de contas tornou-se outra: a participação ativa do Legislativo nas concessões de benefícios fiscais por meio de emendas em medidas provisórias (MPs) e substitutivos em projetos de lei.

INFOGRÁFICO: Veja alguns casos de benefícios fiscais a setores específicos por meio das medidas provisórias (MPs)

A inclusão de matérias estranhas ao objeto de MPs – em geral, benefícios fiscais concedidos a setores que articulam influência nos corredores de Brasília – não é exceção. A última MP editada em 2014, a n.º 656, tratava originalmente de incentivos à importação de peças para aerogeradores, mas saiu da Câmara com 32 "jabutis", como são conhecidas as emendas sem relação com o texto da matéria.

Mau exemplo

Embora a presidência tenha poder de veto dos parágrafos inseridos pelo Congresso, historicamente o Executivo também utiliza a manobra para aprovar textos com rapidez. Um exemplo é o artigo 142 da própria MP 656, que permitia investimentos estrangeiros nos serviços de saúde, como clínicas e hospitais. O assunto não tinha relação com o texto original da medida e foi sancionado por Dilma, enquanto outros foram vetados.

O esforço de empresas e entidades em influenciar a tomada de decisões do governo, o conhecido lobby, não é regulamentado no Brasil, embora seja comum, especialmente na esfera federal. O termo ganhou conotação negativa devido a episódios envolvendo formas ilegais de defesa de interesses, através de suborno ou tráfico de influência, mas, na prática, não envolve necessariamente ilegitimidades.

O professor da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Prelon Mancuso, um dos maiores estudiosos sobre lobby, diz acreditar que não é necessário, nem desejável, erradicar a prática, já que ela não agride as leis do país. "O lobby que obedece às leis é uma modalidade de ação que inclusive pode ser útil para o aprimoramento da qualidade das decisões políticas ao trazer o ponto de vista de diferentes atores sociais para o interior do processo."

Embora também defenda a atuação do setor privado para influenciar o poder público a fim de gerar um ambiente produtivo mais favorável, o professor Manoel Leonardo Santos, vice-diretor do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que o setor produtivo tem uma relação distorcida com o governo. "Não há dúvida que os setores mais poderosos conseguem resultados mais favoráveis em benefícios fiscais. E a medida em que os setores passam a recorrer ao governo cada vez que passam por necessidade, é criado um capitalismo sem risco. E isso não existe", afirma.

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