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Rio de Janeiro (AG) – Se fossem parar numa ilha deserta, eles provavelmente sentiriam mais falta do e-mail do que da cama quente e da comida. Férias em um balneário tranqüilo e desconectado? Nem pensar! "Desconectar", aliás, é palavra que não consta no dicionário deles. Os viciados típicos em e-mail não conseguem passar um dia sequer sem consultar a caixa de entrada; ficam neuróticos quando a conexão cai e na vizinhança não há nenhum cybercafé; enlouquecem quando o inbox registra mais e-mails não lidos e não respondidos do que o bom senso (deles) permite. Por incrível que pareça, a maior parte dos usuários de e-mail é viciada na ferramenta de comunicação.

Foi o que concluiu uma pesquisa realizada na Europa e no Oriente Médio pela Symantec (empresa do ramo de tecnologia de segurança). Segundo o estudo, 75% dos usuários de internet são dependentes de e-mail. Um em cada cinco entrevistados admitiu que verifica o e-mail compulsivamente e fica arrasado quando não consegue acessá-lo.

A pesquisa, encomendada à Dynamic Markets, teve como amostragem um universo de 1.700 pessoas e identificou quatro tipos de usuários de e-mail: os disciplinados, os dependentes, os fóbicos e os sobrecarregados (veja quadro). Para a Symantec, o resultado foi considerado preocupante: 40% dos participantes da amostragem têm uma relação pouco saudável com o e-mail.

Apesar de ter sido realizada na Europa e no Oriente Médio, a pesquisa reflete também o comportamento do internauta brasileiro no que diz respeito ao vício. Ao menos é o que diz Christopher Cook, gerente de marketing da Symantec. "Não há muita diferença, ainda mais se considerarmos o ambiente corporativo. A proliferação da internet e do e-mail é uma coisa global", diz.

E qual seria o perfil do viciado em e-mail? "Se você se sente estressado ou nervoso por não ter acesso ao e-mail, já é um indício de que você é dependente, provavelmente viciado", explica Cook.

Dependente assumida, a carioca Michelle Rôças trabalha com dois e-mails (pessoal e profissional) abertos o dia todo. Quando está em casa, aproveita os cochilos do filho de 1 ano e 4 meses para dar uma conferida na caixa postal. Quando viaja, cybercafé é parada obrigatória.

E nas horas em que fica sem conexão? "Fico altamente frustrada. Quando meu filho nasceu, eu aproveitava os intervalos das mamadas, quando ele dormia, para ver os e-mails e atualizar o blog. Todo mundo falava: ‘Aproveita para dormir também’. Mas antes eu tinha de bater meu ponto no computador. Uma vez, viajei a trabalho e não tinha internet no hotel, havia três horas que não via meu e-mail, desde que saíra do escritório e fui para o aeroporto. Sobrou um tempinho e fui logo atrás do primeiro internet café disponível", lembra.

Três horas é o máximo que Michelle consegue ficar sem e-mail. Segundo a pesquisa da Symantec, os dependentes gastam mais tempo com e-mails por dia (em média, 2,6 horas/dia), checam a primeira vez antes das 9 horas e enviam e recebem mais e-mails do que os usuários das outras categorias (disciplinados, fóbicos e sobrecarregados).

O webdesigner Marcello Guerra é um sobrecarregado que também é dependente. Ele recebe tantos e-mails (em média, mil por dia!) que teve de criar uma "superconta" para receber todos no mesmo endereço. "Como são muitas contas (sete) acabo utilizando serviços que concentrem todas em uma interface só, como um agregador. Assim fica muito mais fácil checar e responder um maior número de mensagens ao mesmo tempo", conta. Estando conectado a essa superconta, a atualização pode ser feita de maneira quase instantânea.

Aqui entra uma outra característica do dependente: ele não consegue deixar mensagens não lidas ou não respondidas dando sopa na caixa de entrada. No caso de Marcello, o alto número de mensagens impede as respostas imediatas. "Esse é um dos desafios de quem lida com muitas pessoas e, portanto, muitas respostas a serem enviadas. A melhor maneira de respondê-las, ou pelo menos reduzir as chances de você esquecer, é mantê-las em uma lista de prioridades. Alguns leitores de e-mail se permitem colocar marcas (labels) em algumas mensagens, como um lembrete para serem respondidas. É importante responder. Pode demorar, mas tem que responder", ensina.

Para Michelle, e-mail não respondido é sinônimo de desespero. Só para comprovar a afirmação, ela levou apenas 15 minutos para responder 15 questões sobre e-mail enviadas para ela pela reportagem. "Sempre falo para os meus amigos: é mais fácil falar comigo por e-mail do que por telefone. Pode perguntar para todos eles se eu não respondo todos os e-mails que me mandaram. Se passou mais de um dia na caixa de entrada é porque tem algum problema", brinca.

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