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Em 2005, o lucro da Petrobrás foi de invejáveis R$ 23,7 bilhões, o equivalente a US$ 9,74 bilhões. O resultado recorde é maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) de ao menos 60 nações do mundo, como Botsuana, país africano cuja soma das riquezas internas produzidas no ano passado ficou em aproximadamente US$ 9,59 bilhões.

O resultado veio basicamente da alta do petróleo no mercado internacional e do aumento nos preços dos derivados nos postos atendidos pela estatal. A comparação do lucro da Petrobrás com o PIB de países pequenos mostra a proporção gigantesca que a empresa assumiu nas últimas décadas e faz surgirem algumas questões. Talvez a dúvida mais comum seja a seguinte: para onde vai todo esse dinheiro?

A maior parte do lucro continua na empresa, sob a forma de investimento. O restante – este ano, um total de R$ 7,018 bilhões – é distribuído aos acionistas. Uma boa fatia desse valor retorna à União, já que o governo federal é o maior acionista da companhia, com 32% do capital. Além disso, os acionistas privados pagam 15% de Imposto de Renda, retido na fonte.

O coordenador do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário FAE (UniFAE), Gilmar Lourenço, considera que a performance da Petrobrás se deve ao fato de ela ser uma empresa extremamente eficiente, cujos funcionários em sua maioria são concursados e por isso possuem uma qualificação técnica acima da média. "Mesmo assim, ela é uma empresa enxuta e como o lucro não é usado para tapar buracos nas contas do governo, acho que ela deveria continuar sendo estatal", opina. Lourenço lembra que, se os salários dos empregados fossem somados ao lucro da empresa, o valor total seria maior do que o PIB de mais países ainda.

Essa relação entre a empresa e as contas do governo incomoda a alguns economistas. O professor Masimo Della Justina, que leciona no curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), acha que os ganhos da companhia acabam por colaborar com a concentração de renda no país, ao invés de servir como um instrumento de ação do Estado.

Explica-se: o custo do transporte está embutido em serviços pagos cotidianamente pelo cidadão – a passagem de ônibus, por exemplo –, e parte dele corresponde ao lucro da estatal. Assim, o passageiro do coletivo acaba cooperando para os resultados do investidor em ações, que recebe os dividendos da empresa. Além disso, Della Justina levanta dúvidas sobre o sustento do fundo de previdência complementar da estatal. "Os aposentados e pensionistas da empresa vivem em um mundo à parte", diz o professor.

Comparações

Mas é justo comparar o lucro de uma empresa com a economia de um país? Os especialistas concordam que a avaliação dá uma medida da importância do negócio em que ela está envolvida, mas divergem quanto à profundidade da comparação. Para Renato Baumann Neves, diretor da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal, órgão ligado à ONU), o lucro é normal para grandes companhias, ainda mais se elas estão inseridas em economias dinâmicas. "Se você pegar o PIB do estado americano da Califórnia, vai ver que é igual ao da América Latina inteira. O lucro da General Motors já foi superior ao PIB de diversos países do mundo e o valor da Microsoft é maior do que o PIB do Brasil", observa.

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