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O mar de soja que domina hoje o interior do Paraná começou a tomar forma com a geada de 1975. Antes disso, o governo federal já vinha apoiando a entrada da cultura, mas o incentivo para trocar o café pelo grão veio mesmo da natureza. Com o governo subsidiando a compra de máquinas, logo os fazendeiros começaram a erradicar cafezais e a comprar as máquinas para as novas plantações. Hoje, a soja é o principal produto de exportação do Paraná. No entanto, a substituição fez o estado perder mais do que uma simples tradição agrícola.

Naquela época, o governo militar começava a investir na mecanização das lavouras. Incentivava culturas que pudessem usar a força das máquinas e liberar mão-de-obra para as cidades. Tratores, colheitadeiras e até mesmo adubo que facilitassem plantações de soja e milho, por exemplo, eram subsidiados. Resultado: a soja entrou com tudo no estado. "E o café migrou para o norte", resume o agricultor Wilson Baggio, 80 anos de vida dedicada ao café. "Só ficaram por aqui os teimosos, como eu", diz Baggio, que hoje é vice-presidente da comissão técnica de café da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). E o Paraná caiu da primeira posição mundial no mercado de café para a sexta colocação no país. Está atualmente atrás de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Rondônia.

"Não existe cultura que distribua renda como o café", resume o corretor Mílton Matoso, um entusiasta da cultura que em sua infância dominava a região de Londrina. "Para cada 500 alqueires de terra, você precisa de 80 famílias trabalhando se plantar café. Isso quer dizer quase 500 almas empregadas", diz ele. "Com a soja, duas famílias podem dar conta dos mesmos 500 alqueires, desde que tenham o maquinário adequado", completa.

O cálculo oficial da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento é diferente, mas confirma a vantagem social do café, que Mílton aprendeu na prática. Segundo Paulo Sérgio Franzini, coordenador de café da secretaria e integrante do Depar-tamento de Economia Rural, o Deral, a soja precisa de 0,05 homem trabalhando por hectare. Já no caso do café, é necessário ter um homem trabalhando por hectare – uma demanda 20 vezes superior.

Para Mílton Matoso, a troca do café pela soja pôs fim à "maior reforma agrária do mundo", que havia sido a divisão de terras no Norte novo do Paraná, a partir dos anos 30 – época em que foram criadas todas as cidades da região, de Londrina a Maringá.

Independentemente de haver ou não um exagero nesse raciocínio, o fato é que a geada de 1975 mudou não só a economia do estado. Transformou também o jeito de viver das famílias que decidiram permanecer no campo. Antes, os trabalhadores atuavam em regime de meeiros ou porcenteiros. Cuidavam da lavoura do dono da fazenda, mas ganhavam uma "terra solteira" para fazer sua própria produção. Ou podiam plantar entre uma e outra rua de café. Hoje, trabalham como bóias-frias. Não podem plantar e não têm a garantia de uma casa fixa.

Os que são empregados agora estão dentro de uma nova legislação, que segundo os produtores também dificulta a vida de quem quer plantar café. "A lei trabalhista mudou e equiparou o trabalhador rural ao trabalhador da cidade", diz Helídio Casagrande, exportador de café. O resultado, diz Baggio, da Faep, é que o produtor tem muito mais encargos e menos condições de contratar gente. O prejuízo, nesse caso, é não só econômico como também social.

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