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Após registrar apenas uma abertura de capital em 2014, este ano promete ser ainda mais difícil para a BM&FBovespa. Sem uma única abertura em vista, a bolsa brasileira vê aumentar o movimento de empresas que, sentindo-se desvalorizadas pelos investidores, passaram a considerar o fechamento de seu capital.

Dos 15 fechamentos de capital registrados em 2014, oito se concentraram no último trimestre. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está analisando, neste momento, mais quatro pedidos: da fabricante de cigarros Souza Cruz, da rede hoteleira BHG, do Bic Banco e da Companhia Providência, empresa de materiais para a fabricação de fraldas e absorventes. Segundo fontes, outras empresas podem engrossar essa lista, entre elas a Romi, de equipamentos, e a Abril Educação, que recebeu novo aporte de R$ 1,3 bilhão do fundo Tarpon, agora controlador do negócio. As empresas não comentaram as informações e a Bovespa não quis dar entrevista.

Fundos aproveitam para comprar ativos por preços menores

Neste movimento de saída das empresas da bolsa de valores de São Paulo, há também quem enxergue uma “janela” para comprar ativos importantes por preços camaradas. Segundo a Agência Estado, a disputa entre fundos de private equity – que compram fatias em empresas – e bancos de investimento já começou. “Estamos olhando ativamente empresas listadas, mas não necessariamente para fechar o capital. Cada caso é um caso”, diz Patrice Etlin, presidente do fundo Advent.

Outra fonte do setor de private equity, que prefere não se identificar, diz que o número de propostas informais para compra de ações cresceu muito nos últimos meses. O problema é que os investidores oferecem de 20% a 30% sobre o valor atual da ação, em um momento em que o entendimento das próprias empresas, em geral, é de que seus papéis estão com um deságio de até 50%.

Os motivos são os mais variados. Podem estar ligados a uma aquisição, como é o caso da Providência, que teve seu controle comprado pela americana PGI no ano passado, ou a uma decisão estratégica – exemplo da Souza Cruz. A controladora, British American Tobacco, está fechando o capital de diversas subsidiárias ao redor do mundo.

Para algumas empresas, pesa a percepção dos acionistas de que os ativos da companhia estão subavaliados e que o melhor para proteger o negócio é sair da Bolsa. É o que está por trás, por exemplo, das saídas da BHG, controlada pela gestora GP Investimentos, e da empresa de gestão de imóveis BR Properties. Há duas semanas, o banco de investimentos BTG Pactual e a canadense Brookfield anunciaram a intenção de fazer uma oferta pública voluntária de aquisição (OPA) para assumir o controle da BR Properties, por considerarem que o valor de mercado da companhia não é compatível com os seus ativos.

Um levantamento da consultoria Economática mostra que, das 62 companhias que integram o índice Bovespa, 23 estão com o valor de mercado inferior ao patrimônio líquido, com predomínio de empresas de construção e de energia elétrica.

Desânimo

O desânimo com a conjuntura nada favorável da economia também é um dos motivos para empresas desistirem da Bolsa já que, sem um horizonte para expandir a operação, elas não precisariam buscar financiamento no mercado de capitais. O advogado José Eduardo Carneiro, do escritório Mattos Filho, diz que as consultas sobre fechamento de capital ao escritório aumentaram, mas pondera que é um movimento comum em um cenário econômico tão instável.

Para o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), William Eid Junior, o custo para manter uma empresa aberta é o que menos influencia, por girar em torno de 0,04% da receita. “É mais uma relação entre a energia que se gasta para manter uma empresa listada, com toda a burocracia envolvida, e os benefícios gerados.”

Segundo João Luiz Braga, co-gestor dos fundos de bolsa da XP Gestora, a taxa de retorno sobre investimento é o que baliza a decisão das empresas. “Se, por exemplo, em vez de abrir uma nova loja, a companhia prefere recomprar as suas ações, é sinal de que ela deve estar considerando a ação barata e que acredita que terá um retorno maior vendendo os papéis mais à frente do que investindo no negócio.”

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