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Economia tem jeito de ciência exata que prevê futuro. Cálculos complicados e projeções numéricas quase infinitas servem de base para que analistas arrisquem dizer qual será a inflação ou a taxa de juros daqui um ano. Uma olhada nos palpites feitos pelo mercado financeiro no início de 2005, porém, desmistifica um pouco o poder das calculadoras. Se valesse o resultado da primeira pesquisa semanal do ano feita pelo Banco Central, da qual participam cem instituições financeiras, o dólar hoje estaria cotado a R$ 2,90, a balança comercial teria um superávit de US$ 26 bilhões e o crescimento econômico seria de 3,5%.

A moeda americana oscila hoje na faixa dos R$ 2,30, o superávit comercial bateu em US$ 44 bilhões e o PIB deve crescer menos de 2,5%. Também houve erros na previsão da taxa de juro, do desempenho da indústria, do IGP-M, entre outros itens. Na mosca mesmo só a estimativa para a inflação medida pelo IPCA, que em janeiro estava em 5,67% e fechou o ano muito perto disso.

A onda de análises que ocorre em cada início de ano é motivo para brincadeiras entre os economistas das instituições financeiras. Quem acerta, gosta de espalhar a notícia. Os erros são compensados por um discurso sobre a "mudança de cenário". Como a pesquisa do BC mostra a média das projeções do mercado, certamente há analistas comemorando um acerto aqui e outro acolá. "Este foi um ano duro para as projeções. Mas eu acertei várias coisas. Já no começo do ano falava em superávit comercial acima de US$ 40 bilhões e em juros de até 19,75%", propagandeia o economista Joaquim Elói Cirne de Toledo, vice-presidente da Nossa Caixa.

"É claro que todo mundo erra e acerta. Os economistas percebem grandes tendências e embutem os riscos nas previsões. Fica de fora uma oscilação aleatória que surpreende", pondera Toledo. Fatos como a crise política e o forte aperto feito pelo Banco Central neste ano entram na área do aleatório. "Fora que a expectativa de mercado reflete um otimismo ou pessimismo do presente, não o que vai acontecer", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

A primeira grande surpresa do ano foi a aceleração da inflação nos três primeiros meses de 2005. Quando o IPCA apresentou sucessivos resultados acima do previsto, o mercado começou a rever as projeções. O BC subiu os juros para controlar os preços e derrubou as projeções para a Selic. "Com a inflação veio um aperto maior e duradouro do que se imaginava, o que esfriou o PIB", lembra o economista Flávio Serrano, economista da corretora Ágora Sênior. Ia por água abaixo, portanto, a expectativa de crescimento de 3,5% no ano. E com ela a de aumento de 4,5% na produção industrial, indicador intimamente ligado ao PIB.

Outro item da cesta básica da macroeconomia que destoou bastante do que era esperado foi a cotação do dólar. O ano termina com a moeda americana aproximadamente R$ 0,60 abaixo do projetado em janeiro. A queda é explicada por uma conjunção de fatores: a economia interna cresceu menos e demandou menos importações; as exportações continuaram crescendo com um cenário externo muito propício; os juros altos atraíram capital de outros países para o Brasil. O peso do comércio nessa equação é grande. "O Brasil teve o melhor superávit relativo do mundo", destaca Serrano – que, aliás, indicou em janeiro que o resultado comercial ficaria acima do projetado pelo mercado.

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