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A turbulência que atingiu os países emergentes nas últimas semanas pode forçar o Banco Central a ser mais rigoroso no aumento da taxa básica de juros (Selic), segundo analistas. A economia brasileira está no meio de um ciclo de alta de juros, iniciado em abril do ano passado – de lá para cá, a Selic subiu de 7,25% ao ano para 10,50% –, e uma dose extra de aperto monetário pode prejudicar ainda mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

A crescente desconfiança em relação aos emergentes tem provocado a desvalorização de várias moedas em relação ao dólar, o que também aumenta o risco inflacionário. Na semana passada, os bancos centrais de Turquia, África do Sul e Índia elevaram os juros como resposta a essas desconfianças. No mercado financeiro, além dessas três economias, Brasil e Indonésia estão formando o grupo chamado de "cinco frágeis". "As moedas dos países emergentes estão sendo questionadas e os mercados passam agora a questionar se o BC brasileiro pode ter de acelerar o ritmo de alta", diz Fenando Fix, economista-chefe da Votorantim Wealth Management & Services.

Uma sinalização da expectativa por um aperto maior já foi dada pelo mercado financeiro. No último relatório Focus, a previsão da Selic para o fim deste ano subiu de 10,75% para 11%.

Essa virada de humor com os emergentes tem como pano de fundo duas grandes mudanças na economia internacional. Os Estados Unidos voltaram a crescer, e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começou a retirar os estímulos da economia. Ou seja, a tendência é que haja menos capital para os emergentes. E a China dá sinais de desaceleração, o que deve afetar exportadores de commodities, como Brasil e Austrália.

O chefe do Centro de Estudos Monetários da FGV/Ibre, José Júlio Senna, acredita que o BC pode surpreender novamente na reunião deste mês e seguir o mesmo caminho do encontro de janeiro, quando o mercado espera 0,25 ponto porcentual de alta, mas o Comitê de Política Monetária optou por 0,50. "Existe, de novo, uma comunicação de que o BC vai reduzir o ritmo da alta, mas eu acho que ele será pragmático: teremos uma alta novamente de 0,50 e sem perspectiva clara de interrupção dessa trajetória".

Desequilíbrios

Na avaliação de analistas, a desconfiança com relação ao Brasil não estará superada apenas com o aumento da Selic. A economia tem apresentado vários desequilíbrios e o mercado tem exigido sinais do governo para retomar a confiança. "A chave do processo é uma política fiscal austera, com redução de despesa capaz de fazer com que a relação dívida/PIB volte para uma trajetória de queda ao longo de 2014", afirma José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio.

Na tentativa de retomar a confiança do mercado, o governo federal vai anunciar cortes no orçamento e, de acordo com o Ministério da Fazenda, o valor será fixado para dar solidez fiscal e garantir a estabilidade da dívida líquida.

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