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Mesmo com o forte impacto da crise de preços das commodities desde 2007 e da recente falta de crédito e liquidez no setor sucroalcooleiro, a área cultivada com cana-de-açúcar cresceu até 40%, entre o ano passado e 2008, nos seis principais Estados produtores no Centro-Sul do Brasil. Os dados são do projeto Canasat, mantido por um consórcio de instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).

Os números apontam que dois Estados do Centro-Oeste - Goiás e Mato Grosso do Sul - lideram a expansão porcentual, com ampliação de, respectivamente, 39,38% e 36,9% na área cultivada com cana-de-açúcar entre 2007 e este ano, de acordo com as imagens de satélite. No entanto, os dois Estados, considerados os principais pólos do avanço da cana no cerrado, ainda possuem áreas relativamente pequenas de cultivo se comparadas, por exemplo, à de São Paulo.

Em Goiás, a área cultivada com cana-de-açúcar saltou de 328,39 mil hectares para 457,58 mil hectares no período e, em Mato Grosso do Sul, subiu de 226,96 mil hectares para 310,71 mil hectares. Mato Grosso, com aumento de 11,18%, para 224,26 mil hectares, é o Estado do Centro-Sul com as menores área e expansão no cultivo da cana pelos dados do Canasat.

Só o crescimento da área de 14,68% na área canavieira de São Paulo agregou 624 mil hectares na área total do Estado entre 2007/2008 e 2008/2009, ampliada de 4,249 milhões para 4,873 milhões de hectares. O aumento, principalmente nas regiões Oeste e Norte, comprova que cerca da metade da área agricultável paulista, de 10 milhões de hectares no total, é de cana.

O aumento absoluto da lavoura paulista de cana-de-açúcar em um ano corresponde a mais de duas vezes a área total atual de Mato Grosso do Sul, e a praticamente toda a área de Estados como Paraná e Minas Gerais, respectivamente segundo e terceiro maiores produtores do País. Em Minas Gerais, o aumento na área de cana de 27,3% em um ano, de 483,13 mil hectares para 615,04 mil hectares, foi alavancado principalmente pelas novas unidades do Triângulo Mineiro. Já no Paraná houve crescimento de 17,27% no período, para 633,85 mil hectares com cana.

A cidade paulista de Morro Agudo, na região de Ribeirão Preto (SP), segue disparada como a maior produtora de cana-de-açúcar, com 106.286 hectares, seguida de Barretos, tradicional região de pecuária, que com o surgimento de novas usinas tem 68.192 hectares. Frutal (54,6 mil hectares), Uberaba (47,7 mil hectares) e Campo Florido (30,5 mil hectares), todas no Triângulo Mineiro, são os maiores municípios canavieiros de Minas Gerais. Rio Brilhante, com 59,4 mil hectares de cana, lidera em Mato Grosso do Sul, Barra dos Bugres, com 52,8 mil hectares, é o maior município canavieiro de Mato Grosso e Santa Helena, com 37 mil hectares, o líder em Goiás. No Paraná, pela estrutura fundiária de propriedades menores, Rondon tem maior área de cana, com 22 mil hectares.

De acordo com Luiz Antonio Dias Paes, gerente-geral de produtos do CTC, o crescimento em 2008 é um reflexo do planejamento feito há pelo menos cinco anos, tempo necessário para uma lavoura de cana saltar do estágio de viveiro de mudas para o de uma área de colheita industrial. "Quando uma usina é planejada é preciso plantar cana anos antes para ter matéria-prima e cada hectare de cana cultivado em um ano gera oito no ano seguinte e 64 nos outros", disse. "É um crescimento gradativo, não dá para plantar 10 mil hectares de uma vez, boa parte desse aumento deve-se ao plantio lá atrás e quem investiu não tem mais volta", afirmou.

Segundo Paes, assim como o aumento na área é gradativo, o recuo no ritmo de crescimento também ocorre devagar. "A tendência é dar uma freada no crescimento, com a redução nos investimentos, com os projetos sendo postergados", disse o gerente do CTC.

Já o diretor técnico da Unica, Antonio Padua Rodrigues, acredita que a crise do setor sucroalcooleiro deva impactar a partir de 2010 a área disponível para a colheita de cana-de-açúcar, a qual cresceu em ritmo bem parecido com o da área cultivada. De acordo com ele, a crise deve reduzir a produtividade da cana, com a redução na colheita, na aplicação de tecnologia e na renovação dos canaviais, necessária a cada cinco cortes. "Se houver ainda um período climático negativo, o impacto pode ser maior ainda", avaliou.

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