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O quartel-general da General Motors, em Detroit (EUA): operação sul-americana foi, até o ano passado, “óasis” em meio à crise por que passa a montadora. | Bill Pugliano/AFP
O quartel-general da General Motors, em Detroit (EUA): operação sul-americana foi, até o ano passado, “óasis” em meio à crise por que passa a montadora.| Foto: Bill Pugliano/AFP

Investimentos dependem da demanda

As remessas maiores de lucros e dividendos não compromete os investimentos das multinacionais do setor de veículos – elas são, aliás, o resultado de investimentos feitos nas últimas décadas e um estímulo para a permanência no país. A abertura de novas fábricas e a modernização de linhas dependem do retorno dado pela operação e da capacidade de absorção do mercado. O envio de lucros é sinal de que o negócio no Brasil é lucrativo. O problema no momento é a demanda.

No auge do boom de vendas de 2008, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou que o setor investiria US$ 23 bilhões até 2012 para ampliar a capacidade de 4 milhões de unidades por ano para 6 milhões de unidades. Por enquanto, a meta não foi revista, mas é percebida com certo ceticismo no mercado – a capacidade ociosa hoje é de aproximadamente 25%.

"O investimento maior deve ser para o lançamento de novos produtos. A capacidade, em geral, não precisa ser aumentada agora", diz o consultor do setor automotivo André Beer. Como a ociosidade não é igualmente distribuída entre as fábricas, algumas montadoras teriam de lançar antes novos projetos. É o caso da Toyota, que, para trazer um carro compacto para o mercado brasileiro, está investindo R$ 1,2 bilhão na abertura de uma nova unidade em Sorocaba (SP). A Fiat tinha a previsão de aplicar R$ 3 bilhões em Betim (MG) e outros R$ 250 milhões na fábrica de motores em Campo Largo, enquanto a General Motors tem um projeto de R$ 1,5 bilhão para uma unidade de propulsores em Santa Catarina.

Por enquanto, somente uma montadora decidiu retardar investimentos. A coreana Hyundai tinha planos de aplicar US$ 600 milhões em uma fábrica em Piracicaba (SP), onde produziria um modelo compacto. O projeto foi suspenso devido à crise e não tem previsão de ser retomado. (GO)

  • O lucro das montadoras

As montadoras de veículos instaladas no Brasil aproveitaram a combinação de vendas em alta e de câmbio favorável, vista até setembro do ano passado, para acelerar a remessa de lucros e dividendos para suas matrizes. Em 2008, este setor mandou US$ 5,6 bilhões para reforçar o caixa nos países de origem. O valor é mais do que o dobro dos US$ 2,7 bilhões enviados em 2007 e mais de dez vezes superior aos US$ 498 milhões remetidos em 2005.

O setor de veículos é o que mais enviou lucros e dividendos para fora em 2008. No total, as multinacionais mandaram US$ 35 bilhões para seus países de origem no ano passado, segundo dados divulgados pelo Banco Central na semana passada. Pouco mais de US$ 25 bilhões se referem ao rendimento de investimentos diretos. Um quinto desse valor corresponde ao que as montadoras remeteram. Pouco atrás ficaram os segmentos de metalurgia e o de serviços financeiros.

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), Luís Afonso Lima, as remessas subiram nos últimos dois anos por três razões: lucros maiores, uma janela cambial aberta pela valorização do real e a demanda das matrizes. "A atividade em 2007 e 2008 foi muito bem, com crescimento do PIB acima de 5%. Foi esse o fator mais importante para que se obtivessem os lucros para serem enviados", analisa. E o setor automotivo foi uma das locomotivas dessa expansão. A produção de veículos aumentou 17% em 2007 e outros 8% em 2008, quando bateu em 3 milhões de unidades, sendo 2,8 milhões para o mercado interno.

Com dinheiro em caixa, as empresas do setor viram neste ano um câmbio altamente favorável para dar uma força para as matrizes. O real se valorizou até agosto, quando bateu em R$ 1,55, o que fez aumentarem os lucros das multinacionais quando convertidos para dólares. "A distribuição dos lucros é uma coisa normal, mas é claro que no ano passado houve uma demanda maior por essas remessas. As matrizes precisavam do dinheiro para fazer frente às dificuldades vistas nos mercados maduros", explica o consultor do setor automotivo André Beer.

As remessas computadas pelo BC não são separadas por empresa, mas é provável que tenham se concentrado nas montadoras com mais tempo de Brasil. Elas têm investimentos maduros, lideram as vendas e duas delas – Ford e General Motors – estão com problemas graves no país de origem. Para as duas gigantes americanas, a relativamente pequena operação sul-americana virou uma espécie de oásis.

Contrapeso

O balanço da Ford referente a 2008, que veio a público na última quinta-feira, apontou um prejuízo de US$ 14,6 bilhões. Escondida dentro do relatório, a unidade da América do Sul apresentou o melhor resultado do grupo, uma receita de US$ 1,2 bilhão antes da incidência de impostos. Foi mais do que a contribuição de US$ 1 bilhão da Europa e um contrapeso às perdas de US$ 6 bilhões no mercado americano. Na GM a situação é semelhante. Até o terceiro trimestre do ano passado, a seção que engloba a América Latina era a única operando no azul, com receita líquida, antes da incidência de impostos, de US$ 514 milhões.

Em 2009, o mercado brasileiro deve dar uma força menor para as matrizes do setor de veículos. A consultoria CSM Worldwide prevê uma queda de 4% nas vendas internas. "A queda no mercado brasileiro será maior do que a média para a América Latina, mas ainda vemos um cenário intermediário entre o que foi 2007 e o desempenho de 2008", diz Leonardo Machado, analista de produção da CSM. Com uma queda também nas exportações, os lucros não serão tão vistosos e as remessas recuarão.

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