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Christopher Poole, à frente, e outros colaboradores do 4Chan: o “anti-Mark Zuckerberg”? | Erich Schlegel/New York Times
Christopher Poole, à frente, e outros colaboradores do 4Chan: o “anti-Mark Zuckerberg”?| Foto: Erich Schlegel/New York Times

Era terça-feira à noite quando Christopher Poole me mandou um e-mail perguntando se dava para fazer a entrevista naquele instante. Havia marcado de ligar para ele duas horas depois, mas seu voo atrasou e ele queria saber se havia algum problema em adiantar nossa conversa. Problema algum, ligo para ele e, do outro lado, converso como se estivesse falando com alguém que conheço há muito tempo.

Não estranho. Apesar dos 22 anos de idade – oito deles capitaneando o fórum mais intenso da internet, o 4Chan –, ele não é nem esnobe nem arredio como poderia ser. Em poucos minutos estamos conversando como velhos conhecidos, mesmo que nunca tenhamos nos visto ou sequer trocado e-mails antes da conversa. Não é tão surpreendente esse reconhecimento depois de anos vivendo on-line.

Chris, mais conhecido pelo codinome Moot, é a principal atração do YouPix, maior evento de cultura de internet no Brasil, que recebeu geeks e blogueiros no Porão da Bienal, no Parque Ibirapuera, na última semana.

No momento da conversa, ele não via a hora de chegar ao país. "Sei que o Brasil, depois dos Estados Unidos, é um dos países que melhor entendem a natureza da internet" e fala que recebeu as melhores recomendações possíveis de seu amigo Anthony Volodkin, do Hype Machine, convidado para o evento na edição de 2009.

Moot está em plena ascensão devido ao reconhecimento global da força de seu site, um fórum que preza pelo anonimato e celebra a cultura da colaboração digital em diferentes níveis. Manias e campanhas tão opostas quanto os LOLcats e o grupo de ativistas Anonymous só existem como são por causa do 4Chan.

Anti-Zuckerberg

E tanto a onda de ataques hackers em 2011 quanto a paranoia por privacidade e controle representada pelo crescimento do Facebook o colocaram no centro dos principais assuntos desse ano. Quase sempre com o título de "o anti-Mark Zuckerberg", que ele despreza: "Colocam a gente em polos diferentes – ele como um cara que é 100% a favor da identificação e eu como um cara 100% a favor de todo o tipo de anonimato, e ambas afirmativas são falsas", explica Moot. "Concor­­damos em muitos pontos e não somos tão diferentes assim. Estamos em pontos opostos deste espectro, mas não nos mais extremos."

Mas mesmo assim, ele não se vê como um porta-voz do anonimato: "Sou apenas uma voz de uma parte da história que não tem tanta representação. Há muitos que defendem a necessidade de se identificar on-line e, infelizmente, poucos que veem as coisas de outra forma."

Ele acompanha o crescimento de ações políticas anônimas on-line como o Anony­­mous e o LulzSec mais como observador do que engajado e lamenta o fato de Julian Assange ter se tornado o principal rosto do site Wikileaks: "Gostava mais deles quando os via como um grupo de indivíduos que se reuniam em prol de um único objetivo", explica. "Não acho que Julian Assange represente esse grupo, que considero mais democrático."

Atualmente, no entanto, Moot está concentrando suas forças em seu novo projeto, o software on-line Canvas, que define como uma versão modernizada e menos anárquica do 4chan. E, diferentemente do fórum original, esse é um projeto que visa lucro – e já arrecadou mais de US$ 3 milhões para colocá-lo em prática.

O motivo de sucesso do site é sua natureza visual: "A linguagem visual tem um apelo maior. O texto está conosco há muito tempo na internet e ele parece, de alguma forma, achatado, sem dimensão, enfadonho. Imagens transcendem linguagens e são inclusivas." Típico da internet.

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