
16 milhões é a previsão de venda de televisores da Associação de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos. A entidade não contabiliza o número de aparelhos com formato 4K comercializados.
Opinião
Tecnologia pode frustrar expectativas
Rafael Waltrick, editor assistente de Economia
Assistir a uma transmissão em 4K pode frustrar alguns espectadores mais ansiosos, já acostumados com formatos como o HD ou o Full HD. A imagem ganha sim em qualidade e resolução, mas não parece ser, neste primeiro momento, a tecnologia revolucionária destacada pelos fabricantes de aparelhos.
De qualquer maneira, o que chama a atenção não é a nitidez da imagem em si, mas sim o porte dos televisores. Na última sexta-feira, assisti a parte do jogo entre França e Alemanha em um evento da NET em Curitiba, com dois televisores de 65 polegadas da Sony. Se as TVs com este tamanho já assustam no bom sentido imagine as de 84 polegadas, que estão sendo comercializadas no país. Se você pensa em comprar um destes aparelhos, puxe a fita métrica antes: é preciso (muito) espaço para aproveitar as imagens de forma confortável, mesmo que haja pouca perda de resolução ao aproximar o rosto da tela.
Outro destaque do 4K é a nitidez e vibração das cores, que enchem os olhos. O verde do gramado nunca pareceu tão verde, assim como o azul reluzente das camisas dos jogadores. A imagem também ganha em profundidade e é possível enxergar detalhes que passariam despercebidos em outros formatos: como os fios de cabelo branco do treinador.
Lógico que, para valer a pena o investimento, que não é pequeno, há de se ter o que assistir. Ter de apelar a vídeos na internet filmados no formato, para só assim aproveitar o potencial do produto, não me parece tão prático. Mais recomendável é esperar por novidades, principalmente vindas das operadoras de TV a cabo.
Apresentado como a revolução das televisões de alta definição, o formato 4K pegou carona na Copa do Mundo para tentar chegar aos consumidores brasileiros, mesmo em pequenas degustações. As operadoras de TV por assinatura NET e Oi têm feito testes de transmissões com a tecnologia durante o Mundial, em parceria com SporTV e Sony, responsável por gravar as imagens dos jogos. Apesar das exibições bem sucedidas, o 4K ou UHD, sigla em inglês para ultra-alta-definição ainda deve demorar a se popularizar nos lares do país.
INFOGRÁFICO: Veja detalhes sobre o novo formato 4k
O formato diz respeito à resolução da imagem transmitida na TV, que chega a ser quatro vezes maior do que o padrão Full HD (veja infográfico ao lado). O principal entrave para a popularização da tecnologia não são os aparelhos, que já estão sendo vendidos em lojas brasileiras de varejo e e-commerce, nem o alto preço dos televisores, mas sim a necessidade de adequação das emissoras de TV. Não basta o consumidor possuir o aparelho com resolução 4K: é preciso que o conteúdo seja filmado e transmitido no mesmo formato, para que a qualidade seja evidente.
Mesmo no Japão, onde o formato surgiu, poucas emissoras têm a capacidade de transmitir os dados necessários para o 4K utilizando satélites convencionais. As perspectivas para o Brasil são mais obscuras porque o país ainda está preparando o desligamento do sinal de TV analógico processo que começa em abril de 2016 e seguirá até 2018 e vivendo a popularização do sinal digital. A expectativa do Ministério das Comunicações é que, até o final deste ano, 65% da população tenha acesso à TV digital.
Por isso, especialistas não escondem o ceticismo quanto à adoção em curto e médio prazo do formato no país. O sócio diretor da consultoria CVA Solutions, Sandro Cimatti, faz inclusive uma analogia com o sinal de telefonia no Brasil. "Já temos por aqui, por exemplo, o 4G. Mas o problema não é ter o celular, mas sim o sinal. O mesmo ocorre com o 4K. A diferença é que a adoção do 4G é mais imediata, enquanto para o 4K temos um gargalo muito maior, da transmissão."
Crescimento
Sony, Samsung e LG lideram o mercado de televisores em UHD. As estimativas são de que sejam vendidos, em todo o mundo, 13 milhões de aparelhos neste ano, contra 2 milhões no ano passado. Apesar da rápida evolução, a fatia de TVs neste formato ainda corresponde a apenas 6% do mercado global de aparelhos. Mesmo assim, os fabricantes são otimistas e têm apostado em novos modelos.
"Em 2012, quando lançamos esta tecnologia no Brasil, uma TV de 84 polegadas custava R$ 100 mil. Neste ano, já contamos com produtos com valor a partir de R$ 7.999. Hoje, o consumidor que busca este tipo de produto ainda pertence à classe A/B, mas a cultura da tecnologia 4K está se disseminando", afirma o gerente de Marketing da Sony Brasil, Luciano Bottura.
Final do torneio será exibida no novo formato
O acordo das operadoras de TV por assinatura com a SporTV e a Sony contemplou a exibição ao vivo de três jogos em formato 4K durante a Copa do Mundo, todos no Maracanã: Colômbia e Uruguai, no dia 28; França e Alemanha, na sexta-feira; e a final do campeonato, marcada para o dia 13 de julho. Além de contemplar alguns clientes que já possuem os televisores com a tecnologia, as transmissões também ocorreram em eventos fechados para a imprensa, colaboradores e formadores de opinião em várias cidades, incluindo Curitiba.
Tanto a NET quanto a Oi, que estão encampando a transmissão dos jogos no Brasil, não divulgam prazos para o início da exibição de conteúdo em 4K na grade dos canais, embora reforcem que já fizeram investimentos para viabilizar as transmissões.
Para o diretor de TV e Fibra da Oi, Ariel Dascal, o 4K é uma "evolução natural", mesmo que ainda seja desconhecido por grande parte dos consumidores. "O 4K ainda é de conhecimento restrito. De fato, até mesmo o HD [alta definição] é de conhecimento de poucos, que confundem digital com HD. É necessário esclarecer o público para ele não ser confundido por ofertas enganosas", afirma.

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