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Planos de concessão de infraestrutura avançam devagar, e regras confusas têm inibido investidores | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Planos de concessão de infraestrutura avançam devagar, e regras confusas têm inibido investidores| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Prós e contras

Pelo menos por ora, o mercado prevê que o país crescerá cerca de 3% neste ano, bem mais que em 2012, em parte graças a efeitos defasados das inúmeras medidas de estímulo adotadas no ano passado. Veja o que pode jogar contra e a favor da economia:

O que pode ajudar

• AgropecuáriaPrejudicada pelo clima, ela puxou o PIB para baixo em 2012. Mas deve ajudar desta vez, graças a uma supersafra estimada em mais de 180 milhões de toneladas.

• MontadorasA venda de veículos leves deve crescer, pelo menos neste 1º semestre. E a produção de caminhões tende a se recuperar do tombo do ano passado.

• ConsumoUma queda modesta na inadimplência da pessoa física (de 8% para perto de 7,5% ao longo do ano) deve repercutir no comércio.

O que pode atrapalhar

• InvestimentosA construção civil deve crescer bem menos que nos anos anteriores. E o desempenho de máquinas e equipamentos ainda é incerto.

• IndústriaApesar do bom resultado de janeiro e do crescimento esperado para as fábricas de veículos, o setor deve sofrer com a crise na Argentina. Além disso, medidas protecionistas tendem a baixar a produtividade de alguns segmentos.

• ConcessõesOs planos do governo avançam devagar e embutem riscos regulatórios que têm afugentado investidores.

• BalançaPor um "truque" do governo, parte da importação de derivados de petróleo de 2012 entrará nas contas somente neste ano. E não se espera grande avanço das exportações.

Fonte: Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

  • Inovação tecnológica eleva a produtividade da agricultura, que produz mais no mesmo espaço

Nem a proliferação de "pacotinhos" nem a forte queda dos juros foram capazes de mover o PIB acima de 0,9% em 2012. Mas, ao que parece, o governo não pretende mexer na essência de sua política econômica, calcada no incentivo ao consumo. Um modelo que, para boa parte dos economistas, já não tem muito a oferecer.

Ganha força a interpretação de que o maior entrave ao país não está na falta de demanda. O próprio Banco Central afirmou, ainda em janeiro, que "o ritmo de recuperação da atividade econômica doméstica – menos intenso do que se antecipava – se deve essencialmente a limitações no campo da oferta".

O remédio, nesse caso, seria concentrar esforços na promoção do investimento e da produtividade, variáveis capazes de promover um crescimento mais duradouro. Os dois indicadores, que haviam avançado no segundo mandato de Lula, recuaram nos últimos dois anos, período em que os gastos das famílias sustentaram 90% do minguado crescimento econômico.

Ainda há quem veja no encolhimento da indústria (-0,8%) e do investimento privado (-4%) em 2012 motivos para reforçar ainda mais o arsenal pró-consumo, a fim de despertar os "espíritos animais" dos empresários. Mas muita gente acha que eles só voltarão a investir quando o governo parar de "microgerenciar" a economia com medidas pontuais – e comumente destinadas a setores selecionados – em áreas como câmbio, inflação, comércio exterior e impostos. Em vez de estimular, esse hábito estaria inibindo os investidores.

Mais do mesmo

O governo reage a seu modo. Na semana passada, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, pediu para incluir no orçamento mais R$ 10 bilhões em desonerações. Ela mesma admitiu não saber que setores serão beneficiados – isso será discutido depois. Em paralelo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, conversa com grandes empresários, para ouvir suas demandas, e com banqueiros, para cobrar mais empenho na concessão de crédito, muito embora o volume de empréstimos tenha crescido respeitáveis 16% em 2012.

"A reação medular do governo é apelar para políticas voltadas à demanda, aumentando gasto, desonerando aqui e ali. A efetividade dessas medidas é muito baixa, mas é o que ele sabe fazer", diz o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, professor do Insper e sócio-diretor da Schwartsman & Associados. "Deveríamos estar, há muitos anos, preparando a transição para um modelo baseado em produtividade e investimento."

Rodolfo Coelho Prates, professor de mestrado e doutorado em Administração da Universidade Positivo, pondera que a estagnação também se deve à crise externa, que debilitou os exportadores. Por outro lado, diz, parece evidente a exaustão do crescimento "interno". "A taxa de juros, sempre culpada pelo baixo investimento, é a menor da história do país. E nem assim se investe. É sinal de que é preciso olhar para além da política econômica convencional."

Investimento dá agilidade e reduz custo de produção

Em 2010, o setor privado investiu o equivalente a 19,5% do PIB, maior nível da série histórica iniciada em 1995. Mas o ânimo do empresariado caiu desde então. A chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) fechou 2012 em 18,1%, quando o ideal seria algo próximo de 25%, índice que em tese favorece um crescimento econômico constante e sem pressões inflacionárias.

Ciente disso, o governo Dilma está delegando à iniciativa privada uma série de obras de infraestrutura. Aos poucos, elas devem não apenas melhorar os números da FBCF, mas tornar a economia brasileira mais eficiente e competitiva, atraindo ainda mais investimentos. Afinal, quanto melhores forem as estradas, ferrovias, portos e aeroportos, mais ágeis e baratos tendem a ficar a produção e o transporte.

O problema é que as regras das concessões e as taxas de retorno que o governo impôs nos primeiros leilões afastaram investidores mais qualificados. Para atraí-los de volta, o Executivo passou a acenar com rentabilidades mais generosas. "Em vez de o investimento ser bem planejado, prepara-se um amontoado de decisões que depois têm de ser refeitas às pressas. A probabilidade de não dar certo é grande", avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Caminhões

Além do desembolso em infraestrutura, a FBCF também mede os gastos com máquinas, equipamentos e outros bens destinados ao aumento da capacidade produtiva – veículos de carga, por exemplo. Por isso a esperada reação da indústria de caminhões, que encolheu em 2012, deve reforçar a taxa de investimento neste ano. A consultoria LCA prevê que a FBCF chegue a 20%. O desafio será manter e elevar esse porcentual nos próximos anos.

Baixo desemprego obriga país a elevar a produtividade

O governo prepara um pacote de apoio à inovação que, segundo o jornal Valor, inclui recursos de R$ 30 bilhões e a criação da Embrapii – uma espécie de "Embrapa da indústria", em referência ao renomado instituto de pesquisas agropecuárias. A iniciativa sugere que o governo reconheceu a urgência de elevar a produtividade, requisito fundamental para o crescimento econômico.

Em geral o PIB avança a partir da absorção de mão de obra, de máquinas e equipamentos, novas tecnologias e recursos naturais. Elevar a produtividade significa fazer um uso mais eficiente desses fatores, algo que o Brasil não tem conseguido. Depois de avançar 1,7% ao ano entre 2007 e 2010, a produtividade recuou em 2011 e 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).

A massa salarial está subindo mais rápido que a geração de riquezas, o que ajuda a explicar porque há tanta inflação e tão pouco PIB. "Estamos perto do pleno emprego. Não há mais como crescer incorporando mão de obra desempregada. É preciso produzir mais com os mesmos trabalhadores", resume o economista Alexandre Schwartsman.

Instituições

Abertura comercial, inovação tecnológica, qualificação profissional e mais facilidade para abrir e fechar empresas são fatores que jogam a favor da produtividade. Melhorar a qualidade das instituições – governos, empresas, sindicatos – também, diz Rodolfo Coelho Prates, professor da Universidade Positivo. "Muitas instituições precisam rever seus papéis e as regras que criam para a sociedade. Veja a questão dos portos. O governo quer modernizar, mas o sindicato quer manter sua tradição e estrutura, e age de forma a impedir a modernização", diz.

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