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O Brasil tem 17 comunidades beneficiadas com a certificação de "fair trade", que recebem um preço mínimo e um bônus de cerca de 10% do preço de venda de seus produtos a compradores internacionais. O número de associações certificadas ainda é pequeno diante do elevado potencial do país neste filão – em 2005, o fair trade foi responsável por US$ 80 bilhões (algo em torno de R$ 170 bilhões) em prêmios adicionais em todo o mundo. Mesmo assim, o Brasil caminha para ser o maior produtor e consumidor de comércio justo no mundo. Em breve, como fez a rede Sainsbury’s na Inglaterra com as bananas caribenhas, os supermercados Pão de Açúcar e Wal-Mart terão, em suas prateleiras, produtos brasileiros como café e castanha-do-pará certificados.

A negociação com as duas das maiores redes de supermercados do país deve ser concluída ainda no primeiro semestre, conta a espanhola Veronica Rubio, consultora em desenvolvimento sócio-econômico e facilitadora para fair trade no Brasil. Veronica trabalha para a Fairtrade Labelling Organization (FLO), entidade que reúne organizações de comércio justo em todo o mundo e define os critérios para a certificação de cadeias produtivas – por exemplo, que tipo de requisitos devem ser atendidos por apicultores para que eles sejam certificados, e qual é o "preço justo" para o mel produzido nas condições estabelecidas.

"A experiência brasileira é totalmente inovadora. O Brasil sempre foi exportador, mas agora será também consumidor", explica a consultora. Para ela, as experiências bem sucedidas do comércio de produtos orgânicos fazem do Brasil um mercado em potencial para o comércio justo. "Em outros países, o desenvolvimento do mercado de orgânicos sempre precedeu o de fair trade. E pelo desenvolvimento dos orgânicos no Brasil, dá para perceber que essa mesma dinâmica vai ocorrer", acredita Veronica.

Isso, é claro, aliado ao potencial de consumo de renda elevada no país. Para comprar fair trade, é preciso ter dinheiro, já que os produtos são mais caros. "Os custos da agricultura sustentável são mais altos que os custos da convencional. Estão embutidos os encargos sociais. Não há trabalho infantil nem exploração", lembra a consultora.

Para a experiência dar certo, explica, será preciso um "processo de aprendizagem" por parte do mercado consumidor. Além disso, o Brasil precisa certificar mais associações de produtores, já que por aqui o fair trade apenas engatinha. Com uma história de 10 anos, o número de certificações manteve-se em 17. No Peru, ele já está na casa das 60 comunidades credenciadas.

Paraná

Alguns esforços, no entanto, já deram certo. No Paraná, a Associação dos Citricultores (Acipar) recebe, além do preço mínimo pelo suco de laranja, um prêmio extra de US$ 100 (cerca de R$ 220) por tonelada de suco exportado. Quem paga são importadores da Suíça, Alemanha e Áustria, países onde a cultura de fair trade está bastante difundida.

Os brasileiros mais abonados que circulam pelas capitais européias nem suspeitam que os cosméticos da marca inglesa "The Body Shop", presentes nas ruas de Paris, Londres e Milão, têm em sua composição óleo de soja não-transgênica produzido por associações de agricultores de Capanema, no Sudoeste paranaense. Embora a cadeia de soja ainda não seja certificada internacionalmente, a "The Body Shop" paga um prêmio aos produtores.

"Com isso, a definição de critérios e preço mínimo para o fair trade já estão praticamente definidos para a cadeia de soja", conta o suíço Beat Grüningr, que trabalha no Brasil definindo esses critérios. Segundo ele, este é um dos poucos exemplos em que houve esforço de bonificação dos produtores antes mesmo da certificação. "Mas a Body Shop esteve ali em Capanema e viu como eles produziam", afirma.

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