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Apesar de a Black Friday começar oficialmente na sexta-feira (24), diversas lojas já anteciparam o período de promoções e lançaram a “Black November”, a “Black Week” e o “Esquenta Black Friday”. É um artifício para tentar sair na frente do concorrente, atrair o consumidor e, em muitos casos, empurrar produtos que estavam encalhados no estoque. Mas, como quase todos os varejistas estão usando do mesmo artifício, o que parece uma boa estratégia comercial pode acabar virando um tiro no pé para o setor. As promoções antecipadas tiram o entusiasmo do consumidor para a data e fazem com que, aos poucos, o evento vá perdendo a sua força. 

Vale a pena comprar agora ou esperar a sexta-feira?

Ânsia em sair na frente também acontece nos Estados Unidos

As promoções que antecipam a Black Friday começaram desde o início de novembro e ficaram mais intensas nesta semana, quando é celebrado de fato o evento, na sexta-feira, dia 24. Com slogans como “Não espere a Black Friday para fazer suas compras” e “O dia não chegou, mas o nosso compromisso com o menor preço já”, as grandes redes varejistas, principalmente as que vendem on-line, estão entrando, a cada hora, com uma seleção de produtos em promoção, com descontos que variam de 5% a 90%, na maioria dos casos. 

Motivos para a antecipação

As explicações para esse movimento podem ser resumidas em três principais tópicos: ânsia em sair na frente dos concorrentes, queima de estoque e diluição do volume de compras ao longo do mês. “O varejista acredita que, se ele antecipar as promoções da Black Friday, o consumidor vai acabar gastando o dinheiro que tem disponível com ele e não com o concorrente. Isso até pode acontecer na primeira vez, mas não se repete todo ano”, diz Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, consultoria especializada em varejo.

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O presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Maurício Salvador, acrescenta que, por causa da crise, muitas lojas estão com produtos parados ou de troca de coleção e, então, aproveitam essas antecipações para queimar o estoque. “A Black Friday e o Natal têm sido as datas que estão salvando o ano do varejo nos últimos anos.”

A outra razão seria operacional. Muitas lojas não têm infraestrutura suficiente para suportar um alto volume de pedidos no dia da Black Friday, por isso elas preferem diluir as promoções ao longo do mês para que os pedidos não se concentrem somente em uma data. “Quando um site que fica fora do ar durante a Black Friday, são milhões de reais perdidos”, diz o presidente da ABComm.

Antecipações podem tirar a força da Black Friday

Só que essas antecipações podem tirar a força da data. “É ruim porque tira a expectativa da data. No ano que vem, quando chegar à metade de outubro, o consumidor já vai esperar a Black November”, diz Salvador. “No longo prazo, com muitas lojas aderindo, você perde a magia a data”, completa.

O segundo ponto negativo é viciar o consumidor em descontos, tática comercial impossível de se praticar por muito tempo e com taxas agressivas. “Quando você tem uma data muito forte, como é o Single’s Day [na China], o consumidor passa o ano inteiro esperando por aquilo. Ele pensa: ‘se eu não comprar agora eu sou um louco’. A partir do momento em que passa a ter promoção o ano inteiro, o consumidor perde a pressa de consumir e a percepção de que realmente vai conseguir o melhor desconto”, afirma Ana Paula.

Leia também: Guia dos direitos do consumidor para a Black Friday

Vale a pena comprar agora ou esperar a sexta-feira?

Diante de tantas promoções antecipadas, é comum o consumidor ficar com a dúvida: “Vale a pena comprar agora ou é melhor esperar a sexta-feira?” A orientação é pesquisar bem antes de comprar um produto e saber que, em muitos casos, as promoções que antecipam a Black Friday contam com itens que não estão entre os mais procurados e os campeões de venda.

“As ofertas têm sido reais, mas os produtos que estão sendo vendidos não são os best-sellers. O que você está vendo em promoção agora são produtos que vendem menos, como uma TV de 28’ ou de 55’. São produtos que, às vezes, estão parados no estoque ou que são troca de coleção”, explica Maurício Salvador, presidente da ABComm.

A advogada e representante da Proteste Sonia Amaro afirma que o melhor caminho é pesquisar. “O ideal é que o consumidor já esteja pesquisando o preço com antecedência para ter uma base de comparação. Se ele não fez isso, ele deve verificar se a promoção é realmente muito vantajosa olhando em outros estabelecimentos, inclusive físicos, e utilizando os comparadores de preço on-line”.

Sonia também orienta o consumidor a não cair na armadilha da compra por impulso. “Ainda que ele verifique que a condição é muita vantajosa, é bom ver se ele vai realmente utilizar o produto”.

Outra dica é guardar todo o material publicitário daquela promoção para poder reclamar caso o consumidor verifique que caiu em um golpe. “Vale guardar o folheto da loja, o print screen do site para questionar qualquer promoção que tente iludir o consumidor, em que a oferta não exista de fato.”

Ânsia em sair na frente também acontece nos Estados Unidos

O desejo de sair na frente dos concorrentes também acontece nos Estados Unidos. Por lá, onde começou a Black Friday, sempre na sexta-feira, um dia depois do “Dia de Ação de Graças”, um dos principais feriados americano, os varejistas também estão antecipando a Black Friday.

Ao longo da última década, as redes americanas foram passando lentamente os descontos da “sexta-feira negra” para a quinta-feira do “Dia de Ação de Graças”. Depois, anteciparam ainda mais as promoções para o início de novembro em uma tentativa de alavancar as vendas do quarto trimestre, que representa até 40% da receita anual do varejo nos Estados Unidos.

“Não importa como você olhe para isso, a Black Friday já começou”, disse Sarah Engel, diretora de marketing da empresa de análise de varejo DynamicAction, em entrevista ao The Washington Post. “Quando o calendário virou o mês e marcou 1.º de novembro, os e-mails já estavam cheios de promoções e descontos.”

E, assim como está acontecendo no Brasil, a data vem perdendo um pouco da sua intensidade nos Estados Unidos. Sarah explica, em entrevista ao Post, que os consumidores, principalmente aqueles que compram itens mais caros nas antecipações, como aparelho televisor e tablet, dificilmente vão comprar novamente na sexta-feira, independente de quão alto venha a ser o desconto.

Dados do National Retail Federation (NRF) mostram, inclusive, que mais de 40% dos americanos já começaram a fazer suas compras de fim de ano desde o dia 1.º de novembro. “Se tudo já está 40% de desconto, vai demorar muito para que os consumidores fiquem entusiasmados com o Dia de Ação de Graças, Black Friday e Cyber Monday”, diz Sarah. “Como você vai convencer os consumidores a continuar comprando?”

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