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| Foto: ETHAN MILLERAFP

Após alguns acidentes de percurso, a Verizon enfim concluiu a aquisição do Yahoo na semana passada. Pela bagatela de US$ 4,48 bilhões (cerca de R$ 14,8 bilhões), a gigante norte-americana das telecomunicações agregou as propriedades online do Yahoo e, agora, começa a fazer ajustes que afetam os serviços do Yahoo nesse processo de adaptação.

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Juntamente com a Aol, o Yahoo agora integra a Oath, um imenso Frankenstein corporativo focado em mídia e tecnologia, além de alguns sites de conteúdo como o HuffPost, Engadget e TechCrunch. E assim como seus vizinhos de conglomerado, o Yahoo segue sem saber ao certo o que vem pela frente. 

“Neste momento, o nosso foco está na integração e em reunir o conteúdo existente, maximizando a distribuição”, disse a executiva responsável pela integração com o portal, Marni Walden, em videoconferência da Verizon. Por trás da linguagem corporativa um tanto vaga, entretanto, os primeiros movimentos da companhia já se fazem sentir. 

Demissões em massa 

Inicialmente, a compra do Yahoo provocou a dispensa já previsível da CEO Marissa Mayer. A executiva deixou a empresa com uma carta aberta em tom de autopromoção, levando consigo a generosa soma de US$ 23 milhões, entre equidades e benefícios. Mas as demissões devem continuar, ainda que menos célebres. 

Conforme disse uma fonte anônima ao site TechCrunch, a Verizon deve cortar aproximadamente 15% do total de postos de trabalho do Yahoo e da Aol. Sob supervisão do ex-diretor executivo Aol, Tim Armstrong, cerca de 2,1 mil dos 14 mil funcionários da Oath devem ser demitidos sob a alegação de “redundância”. 

Embora a medida valha para todos os setores, a referida fonte disse que os cortes não devem seguir as mesmas proporções. Segundo TechCrunch, alguns departamentos devem encolher em até 30%. “Aparentemente, foi colocado muito empenho nisso, com os contrapontos sendo ouvidos e aceitos”, disse o sujeito anônimo ao site. 

Alguns dias após a Verizon fechar as negociações para a fusão do Yahoo e da Aol, o site de notícias HuffPost (pertencente à última) anunciou seus primeiros cortes. No total, 39 membros da equipe do periódico foram demitidos, incluindo o jornalista David Wood, laureado com o Pulitzer em 2012 por uma série de reportagens sobre veteranos de guerra. 

O fim do News Digest 

Em uma era de turbilhão informativo, o app Yahoo News Digest se tornou conhecido por limitar suas manchetes e apresentar um design limpo, conquistando uma base respeitável de usuários desde o seu lançamento em 2014. Quem tentar baixar o aplicativo agora, entretanto, será conduzido a algo chamado “Newsroom”.

Design clean e notícias selecionadas do News Digest assumem a forma do atulhado Newsroom.Reprodução/Yahoo

Com layout saturado e navegação um tanto confusa, o novo aplicativo de notícias colocado para ocupar o lugar do Digest parece ser a própria antítese do seu antecessor.

Mesmo que não seja propriamente ruim, o app simplesmente se afasta da simplicidade clean originalmente concebida pelo britânico Nick D’Aloisio (e vendida ao Yahoo por US$ 30 milhões em 2013). Aparentemente, a ideia da Verizon é se aproximar mais de concorrentes como Google Play Newsstand, Flipboard e News Republic. 

O moribundo Tumblr 

Verdade seja dita: o Yahoo nunca soube muito bem o que fazer com o Tumblr. Desde que foi adquirido pelo portal em maio de 2013 por US$ 1,1 bilhão, o serviço de blogging perdeu metade do seu valor, ganhou apenas algumas revisões menores e ainda vive às voltas com o problema da pornografia – que responde por pelo menos 20% do tráfego do site e espanta anunciantes em potencial. 

Mesmo que a Verizon opte por deixar o Tumblr no limbo que ocupa há alguns anos, é razoável apostar que a companhia será um tanto menos condescendente e mais rápida em sua abordagem do que foi o Yahoo sob a batuta de Marissa Mayer. Senão, basta relembrar o tratamento dado a Aol nos últimos dois anos – com realinhamento de serviços e cortes que atingiram 500 empregos no ano passado. Isso em um esforço extensível que busca “agilizar” os negócios como um todo e torná-lo lucrativo. 

Alguns sinais relacionados ao futuro imediato do Tumblr já são vistos. É pelo menos curioso, por exemplo, o silêncio fúnebre dos administradores do serviço em relação à nova batalha pela neutralidade da rede que que voltou com força desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos.

Esse silêncio é estranho se lembrarmos do protagonismo da equipe do Tumblr em outras batalhas similares contra mudanças nocivas em legislações que afetariam o estado e a liberdade da web, o que levou o CEO do Tumblr, David Karp, à Casa Branca para debater com Obama questões que iam da legislação à educação pública.

A Verizon estar por trás do negócio ao menos sugere razões para o súbito e estranho silêncio da veia mais política do Tumblr.

App do Tumblr para iOS
TumblrDivulgação

Por fim, menos de uma semana após a compra, o Tumblr também passou a ostentar um “Safe Mode” (modo seguro, em tradução livre). Funcionalmente, trata-se de um filtro que oculta conteúdos potencialmente ofensivos para certas audiências. Ou, “qualquer coisa que não seja adequada para alguns membros da comunidade Tumblr”, conforme descreve o serviço – qualquer tipo de nudez, basicamente, mesmo que artística ou educativa. Parece uma das condições da aquisição e uma maneira de mudar um traço marcante do Tumblr, mas ruim para os negócios.

“Qualquer aquisição aparece sempre cheia de interrogações”, colocou a publicitária Andréa López em seu blog dentro do serviço. “Mas o lugar do Tumblr no futuro da Verizon é particularmente misterioso, já que há poucos indicadores do que a Verizon pretende fazer com ele”, ela escreve. Ao menos por ora, isso bem poderia ser estendido ao Yahoo como um todo.

Um lado positivo?

O novo Yahoo Mail
YahooDivulgação

Nem tudo é ruim, porém. Nessa semana, o Yahoo anunciou uma reformulação interessante para o Yahoo Mail, seu longevo serviço de e-mail usado por 225 milhões de pessoas no mundo todo.

A principal mudança é visual. O Yahoo Mail ganhou um design limpo e com mais áreas de respiro. Mudanças significativas ocorreram nos bastidores também, com a adoção de tecnologias web modernas e redução de código, o que deixou o sistema mais rápido.

Os temas ainda existem e agora o usuário dispõe de alguns filtros para tipos de arquivos encontrados em anexos. Ele também pode optar por uma assinatura, de US$ 3,49 mensais ou US$ 0,99 apenas para os apps móveis, que remove anúncios da interface.

O maior problema do Yahoo Mail, porém, é convencer novos usuários de que o serviço é seguro. Entre o anúncio da aquisição pela Verizon e a concretização da compra, a empresa revelou dois vazamentos gigantescos de dados pessoais dos usuários, casos tão graves que levaram a Verizon a obter um desconto de US$ 350 milhões no negócio. Se nem a nova dona do Yahoo aceitou tranquilamente esse tropeço, por que o usuário deveria?

Colaborou Rodrigo Ghedin.

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