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Sala de cinema, a próxima fronteira dos robôs | funnytools/Pixabay
Sala de cinema, a próxima fronteira dos robôs| Foto: funnytools/Pixabay

Se você estiver procurando por um bom filme, sugiro It’s No Game. Nunca ouviu falar dele? Tudo bem. O filme,um curta-metragem com pouco menos de oito minutos de duração, acabou de ser lançado. Ele conta a história de dois escritores de Hollywood que descobrem que serão substituídos por um algoritmo de inteligência artificial que gera roteiros.

Acredito que você já adivinhou a sacada: It’s No Game foi escrito por um algoritmo de inteligência artificial que gera roteiros. Embora o algoritmo ainda seja rudimentar, podemos estar testemunhando o futuro.

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O algoritmo se chama Benjamin – ele escolheu seu próprio nome – e é criação do diretor Oscar Sharp e de Ross Goodwin, pesquisador de inteligência artificial que faz pós-graduação na Universidade de Nova York. A ideia consistiu em alimentar uma rede neural com toneladas de roteiros de ficção científica para lhe dar a ideia do que são diálogos, ambientação e trama. Em seguida, a dupla ligou o robô para ver o que saía.

Ano passado, como parte de uma competição, Benjamin fez o roteiro de Sunspring, sua primeira tentativa de criar um curta de ficção científica. Três pessoas que parecem estar presas em algum lugar – parece um bunker, mas o roteiro o chama de “navio” – se envolvem em um diálogo rápido que é, ao mesmo tempo, absurdamente nonsense e, ainda assim, estranhamente encantador. (Ponto alto: “Eu não sei do que você está falando.” “É isso aí.”) A revista Slate disse que o filme “parece filmado em um idioma estrangeiro que você estudou, mas nunca entendeu pra valer.”

Discordo um pouco. O roteiro, sem firulas, é bizarro, mas quando dirigido e atuado, Sunspring apresenta uma história de algum modo convincente de paixão e traição. Um monólogo no final, incompreensível no papel, emana certa vida tela.

O que aprendemos disso é que a inteligência artificial ainda não consegue contar uma boa história, de fato, mas um elenco e diretor determinados podem, eventualmente, pegar um roteiro-limão e transformá-lo em uma limonada – meio aguada, mas ainda assim. It’s No Game é um filme melhor que Sunspring, em parte porque a história é melhor. Mas também a atuação. Em particular, David Hasselhoff está engraçado e assustador no papel de um ator infectado por nanobots, dando voz aos pensamentos de um robô com inteligência artificial que calhou de se chamar Benjamin.

Sim, muito do diálogo ainda é sem sentido e o número de balé que Benjamin decidiu inserir no final (com a ajuda de uma inteligência artificial que escolhe movimentos de balé) vai testar a paciência de alguns espectadores. Mas, ao contrário de Sunspring, o novo filme se concentra em uma ideia real. Ele é lindamente recursivo: um filme escrito por uma inteligência artificial a respeito de filmes escritos por inteligências artificiais. E, embora o medo dos roteiristas e a natureza robótica do magnata do estúdio estejam ali para efeito cômico, por trás da comédia se esconde uma previsão não tão sutil: a de que esse dia chegará.

Robôs escritores

Em um paper publicado ano passado, o Google explicou como treinou uma rede neural para escrever o que eu suponho que podemos chamar de histórias curtas, aparentemente alimentando-a com uma dieta pesada de romances. Não são grandes histórias curtas. Ainda não. Uma amostra:

“Ele ficou em silêncio por um momento. Estava quieto por um momento. Estava escuro e frio. Houve uma pausa. Era a minha vez.”

Esta talvez não seja uma prosa memorável, mas a inteligência artificial do Google, que funciona interpolando novas sentenças para vincular as sentenças fornecidas, parece ter capturado algo do gênero.

E há o Heliograf, o robô de notícias experimental do Washington Post. O Heliograf fez sua estreia escrevendo breves atualizações dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Em meados do ano passado, o Post usou o robô para escrever parte de sua cobertura eleitoral. As histórias do Heliograf, com certeza, são curtas, diretas e nada analíticas. Ainda assim, os resultados são impressionantes – e praticamente impossíveis de distinguir do trabalho da equipe humana do jornal. A Bloomberg também usa tecnologias de automação em seus produtos de notícias.

Eu não estou tentando soar alarmista em relação à inteligência artificial e não acho que escritores criativos perderão mercado tão logo. Por outro lado, vivemos numa época em que um romance criado pela inteligência artificial foi capaz de competir por um grande prêmio literário no Japão. Intitulado O Dia em que o Computador Escreve um Romance, o livro não ganhou, mas conseguiu passar a primeira rodada. (Um juiz disse que o romance era fraco, entre outras coisas, nas descrições de personagens.) Então, acho que é melhor ficarmos atentos.

Benjamin é capaz de escrever algumas bobagens sem sentido que de alguma forma soam terrivelmente como Hollywood. Aqui está o próprio resumo do robô do que poderia ser a sua próxima investida:

“OS ESCUDEIROS DA PAISAGEM

Em 1942, em um mundo pós-apocalíptico, o filme segue a jornada de um jovem que se apaixona por um casal sensual que acabou de se apaixonar. Ao se apaixonar, eles descobrem que não estão sozinhos. O filme segue os dois grupos de pessoas que se reconectam com o mundo e sua relação e os segredos que eles vivenciam.”

Um triângulo amoroso pós-apocalíptico com grandes segredos, tudo isso ambientado na Segunda Guerra Mundial – tem como alguém não gostar? Qualquer dia desses, Hulu e Netflix estarão brigando pela série dividida em oito partes. Eu a assistirei.

Assista a “It’s No Game”

Assista a “Sunspring”

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