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Luiz Lucena, gerente de tecnologia e gestão educacional da Editora Aymará, é formado em Artes: empresa aposta em equipes multidisciplinares | Hedeson Alves/ Gazeta do Povo
Luiz Lucena, gerente de tecnologia e gestão educacional da Editora Aymará, é formado em Artes: empresa aposta em equipes multidisciplinares| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Tecnologia

Setor de serviço também inova

No fim de 2008, a Editora Aymará tinha 80 funcionários. Pouco mais de um ano depois, emprega 200 pessoas, e quer contratar 150 até dezembro. Especializada na produção de conteúdo educacional em diferentes plataformas (livros impressos, áudio, vídeo e outros), a empresa confirma a "vocação empregadora" do setor de serviços, mas procura contrariar alguns conceitos geralmente associados a ele, como o baixo nível de tecnologia e inovação.

"Na nossa área, em que misturamos cultura e educação, só cresce de maneira sustentável quem investe em inovação. Damos prioridade à retenção de talentos e ao desenvolvimento de mecanismos, plataformas e produtos que não ficassem restritos ao convencional", diz o diretor-geral da Aymará, Áureo Gomes Monteiro Júnior. "Isso é especialmente válido para o Paraná, uma referência na produção de conteúdo educacional, criador de produtos que viajam o país."

Fundada há quatro anos, a editora atende a todos os níveis educacionais, da educação infantil à pós-graduação e ao treinamento corporativo. Uma de suas táticas é a aposta em equipes multidisciplinares, como a comandada por Luiz Lucena, gerente de tecnologia e gestão educacional da editora. Quando ele foi contratado, há pouco mais de um ano, tinha três colegas em sua equipe. Hoje são 25, entre publicitários, pedagogos, relações públicas, jornalistas, além de profissionais com formação em Letras, História, criação audiovisual e programação. "Eu mesmo sou da área de artes, com formação em teatro. Eu não tinha formação específica para este trabalho. É algo que, de certa forma, se aprende fazendo", afirma Lucena.

O desempenho do mercado de trabalho em 2009 foi memorável. É fato que o país criou apenas 995 mil vagas formais, número mais baixo em seis anos, o que fez o saldo de empregados com carteira assinada crescer pouco mais de 3%, segundo o Ministério do Trabalho. Mas é justamente esse pequeno crescimento que surpreende, pois se deu na contramão da atividade econômica – que, sob impacto da crise, provavelmente fechou o ano no vermelho ou com leve crescimento, na melhor das hipóteses. Para efeito de comparação, na última vez em que o Produto Interno Bruto (PIB) foi tão mal, ao crescer 0,25% em 1999, o país fechou quase 200 mil postos de trabalho.O responsável por essa aparente contradição foi o mercado interno, que ajudou o país a contornar o buraco que engoliu o comércio exterior. Basta conferir quem gerou quase todos os empregos no ano passado. A construção civil abriu 177 mil vagas (18% do total), o comércio contratou 297 mil pessoas (30%) e o setor de serviços – maior empregador do país, que reúne motoboys, bancários, motoristas, corretores, professores e várias outras profissões – admitiu meio milhão de trabalhadores, metade de todos os contratados.Em resumo, de cada 100 empregos, 98 foram gerados por algum desses três setores, intimamente ligados ao consumo doméstico. Essa proporção foi inflada pela paralisia da indústria, mas serviu para dar ênfase a um fenômeno que já se manifestava havia alguns anos. De 2000 a 2004, comércio, serviços e construção responderam por 68% dos 4,2 milhões de novos empregos; nos últimos cinco anos, quando o mercado abriu 6,5 milhões de postos de trabalho, a participação dos três subiu a 82%.

Os dados de janeiro de 2010 mostraram uma forte recuperação da indústria, a maior contratadora no mês, mas nem por isso construção, serviços e comércio perderam ritmo. Se em janeiro de 2009 os três setores haviam fechado 37 mil vagas, neste ano eles já contrataram, juntos, 105 mil pessoas. E há outros indícios positivos.

Após perder vigor em 2009, o crédito deve voltar a crescer perto de 20%. Aquecida, a construção civil contratará 180 mil pessoas, se confirmada a previsão de que o PIB do setor avançará cerca de 9%. As vendas do comércio, que em 2009 cresceram 6% e completaram seis anos de avanço superior ao do PIB, tendem a continuar em alta – a não ser que os principais grupos varejistas do país, que planejam investir R$ 15 bilhões até 2013, estejam um tanto equivocados. Por extensão, aguarda-se mais um ano favorável para os prestadores de serviços, assim como para segmentos industriais mais voltados à demanda interna.

Uma demanda crescente, que está convertendo o país em um dos maiores mercados de consumo do mundo, segundo o economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP). Em artigo no jornal Valor Econômico, Nakano afirmou que a ascensão da classe C – que reunia um terço dos brasileiros há 15 anos, e hoje representa pouco mais da metade deles – foi "quase uma revolução", e alimenta um "dinamismo doméstico" capaz de levar o Brasil a uma trajetória de crescimento mais acelerado e duradouro.

Redescobrimento

A tese de que o país só avançava "puxado" pelo crescimento mundial começou a virar fumaça mais ou menos em 2006, diz Cláudio Amitrano, técnico de pesquisa e planejamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "O saldo do comércio exterior vem diminuindo, puxando o PIB para baixo. No sentido contrário, a maior contribuição positiva para o crescimento vem da de­­manda doméstica", diz Amitrano, para quem dois "blocos" de fatores explicam a expansão do consumo das famílias. "De um lado, temos o aumento da massa salarial, vinculado ao crescimento do emprego e da própria economia. E também os reajustes do salário mínimo e sua repercussão no mercado formal e nas aposentadorias, assim como os programas de transferência de renda. O segundo bloco é o da expansão do crédito, na qual o consignado teve papel muito importante."

Para o economista Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco­­nômicos (Dieese), o patamar do câmbio – tido como desfavorável para as exportações – e o desmoronamento da demanda internacional provocado pela crise acabaram por dar um estímulo a mais para esse movimento. "As empresas estão redescobrindo o mercado interno", diz. "Quem já trabalhava nele intensifica sua atuação sobre as classes C e D. E as companhias exportadoras estão revendo suas estratégias, migrando para uma agenda que contemple também as vendas no Brasil."

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