Para o professor da PUC-Rio e economista-chefe da gestora Opus, José Márcio Camargo, a reação do mercado na segunda-feira (4) pode ser uma constante neste ano. Além do cenário interno delicado, as notícias vindas do exterior, especialmente da China e Estados Unidos, não vão ajudar na recuperação da economia doméstica.
O que pressionou mais os mercados?
Do lado externo, os dados da China vieram relativamente fracos, indicando que a economia está em desaceleração mais forte que a esperada. Tem ainda a questão da regulação das bolsas na China, com algumas proibições inseridas em meados de 2015 e que vão acabar dia 8. Os investidores temem que isso afete o preço das ações. Os indicadores de produção industrial nos Estados Unidos também vieram fracos e fizeram as bolsas caírem. Estamos esperando um crescimento da indústria americana menor do que o mercado. Com a forte valorização do dólar, redução da taxa de desemprego e aumento dos salários reais, nossa expectativa é de perda de competitividade da indústria americana, o que deve fazer com que as margens de lucro caíam. Neste ano, o cenário externo vai potencializar o cenário interno.
O pessimismo de hoje foi mais efeito externo ou interno?
Em parte, o movimento ainda reflete a substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda. Acho que o mercado também ficou apreensivo com a possibilidade de um pacote de medidas que ninguém sabe do que se trata. Pesou também o fato de que há sintomas de algumas medidas que apontam para um compromisso menos forte com uma situação fiscal mais equilibrada.
Que sintomas são esses?
Algumas medidas tomadas nos últimos dias sugerem que o governo está um pouco menos preocupado com a questão fiscal. No fim do ano, o governo mandou três medidas provisória que indicam mais leniência fiscal. Uma eleva o prazo de maturidade dos créditos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do Banco do Brasil; em outra o governo assume o custo de manutenção de algumas estradas repassadas aos governos estaduais; e o aumento de gastos da ordem de R$ 1,4 bilhão. Outra coisa que foi feita nos últimos dias foi que o governo decidiu que o BNDES - apesar de ter recebido as pedaladas - não precisa antecipar o pagamento das dívidas com o Tesouro, da ordem de R$ 30 bilhões.
Quais os riscos disso?
A situação fiscal é insustentável e, se o governo não tiver um projeto duro de reequilíbrio fiscal, a gente vai entrar numa trajetória perigosa. Temos um déficit público de 9% do PIB; a relação dívida/PIB passará de 70%. Isso vai gerar mais rebaixamento da nota de risco, mais aumento no prêmio de risco, mais desvalorização cambial e mais pressão inflacionária. O que ocorreu hoje é um sinal do que pode vir pela frente.
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