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A grande notícia do agronegócio na semana passada também foi a grande surpresa do setor nos últimos anos. O Plano Agrícola e Pecuário, o PAP 2012/13, preparado e anunciado de uma maneira bastante discreta pelo governo federal, confere um novo status à agricultura e o seu papel no desenvolvimento econômico e social do país. A nova safra vai disponibilizar R$ 133,2 bilhões em crédito para custeio, comercialização, investimentos e capitalização do setor, empresarial e familiar. Serão R$ 10 bilhões a mais que em 2011/12. A cifra, porém, nunca foi problema. Os recursos estão de bom tamanho. A grande dificuldade está no acesso ao crédito, nos mecanismos de contratação desse dinheiro, desafio que o Ministério da Agricultura (Mapa), agora com o apoio do Palácio do Planalto, tenta vencer junto ao Ministério da Fazenda, que é o guardião do cofre.

As armas e conquistas do Mapa na tentativa de facilitar esse acesso e reverter o histórico de contratação sempre abaixo do volume disponibilizado estão entre os destaques do PAP 2012/13. A redução de juros, aliada ao aumento no limite de crédito deve incentivar e estimular os investimentos, bem como o interesse do agente financeiro na liberação desses recursos. Nas últimas três safras, a diferença entre o dinheiro alocado e o montante contratado do Plano Safra foi de R$ 12, R$ 11 e R$ 30 bilhões, respectivamente. Os números traduzem, de certa forma, o tamanho do desafio que tem o governo, bem como a responsabilidade que tem o produtor. O primeiro de garantir a devida liberação de um recurso que tem nome e endereço. E outro a devida aplicação dessa verba no incremento da produção.

No momento em que o governo se mobiliza para ao menos frear as projeções de recuo no Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, fica clara a aposta do Palácio do Planalto na contribuição que agronegócio pode trazer. Primeiro para conter. E depois, porque não, até reverter essa tendência e garantir uma melhora no indicador das riquezas geradas pelo país. Até porque, se existe algum segmento da economia capaz de dar uma resposta rápida e assertiva, nenhum outro se compara à agricultura. O fato de se renovar a cada ano permite ao setor encurtar a distância entre investimento e resultado, seja ele bom ou ruim. Assim como o agronômico, o ciclo econômico também é muito curto, característica que torna a atividade mais frágil e suscetível, mas ao mesmo tempo com uma capacidade de reação e recuperação como nenhuma outra.

O reconhecimento do governo ainda não está à altura e demorou. Com certeza chega atrasado, embora não seja tarde. Além do que, a atenção repentina à agricultura não é necessariamente por amor ao campo. E sim para tapar outros buracos da economia. Mas tudo bem, o setor aceita a missão e vai mostrar o quanto o agronegócio é fundamental ao desenvolvimento não apenas econômico, como social e sustentável da economia brasileira. O incremento no apoio então é bem-vindo, inicia uma nova era e quebra paradigmas. Contudo, ainda há muito por se fazer. Serão precisos novos votos de confiança, do produtor no sistema, no governo e em si mesmo. A nova e moderna política agrícola brasileira apenas começa a ser construída.

O ano então pode ser uma grande virada. Não apenas por conta do apoio que vem de Brasília, bem como de outros fatores que convergem para um 2012/13 histórico. O principal vilão da temporada anterior, por exemplo, deve mudar de lado e se tornar agora o principal aliado da produção de grãos. Variável que comprometeu a safra passada, em especial na Região Sul, o clima tem tudo para se redimir. O ciclo é de El Niño, que ao contrário do La Niña promete chuvas acima da média e mais bem distribuídas, fator decisivo no desempenho das lavouras. As variáveis, então, talvez nunca foram tão favoráveis e propícias, seja na recuperação do tombo provocado pela estiagem na safra que termina, como à superação da safra que se inicia.

O modelo de seguro, um dos únicos pontos criticados no Plano Safra, pode não ser o ideal. Mas para um setor que há até pouco tempo não tinha quase que nenhuma proteção, ter a chance de segurar até 20% da área cultivada não é apenas um avanço, mas uma grande conquista. Mais um instrumento que, aliado ao crédito farto, o mercado aquecido e o clima favorável pode levar o país rumo as 170 milhões de toneladas de grãos, com 80 milhões de toneladas de soja.

Bom para o produtor, para o Brasil e para o ministro Mendes Ribeiro, que está no lugar certo, na hora certa e com uma oportunidade de ouro para mostrar o quanto a relação política – uma de suas reconhecidas qualidades – é fundamental na condução de uma pasta que requer resultados mais práticos e objetivos, como a Agricultura.

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