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Em 1995, um dos maiores bancos do mundo quebrou porque alguém escondeu um problema.

Nick Leeson era operador de derivativos na filial de Cingapura do banco britânico Barings. Para esconder erros em operações, ele passou a fazer investimentos mais ousados. Seu objetivo era que ganhasse o suficiente para compensar as perdas – ao menos é o que ele alegava; há indícios de que as fraudes que fez seriam em benefício próprio. Sua última tentativa estava ligada aos índices da bolsa de Tóquio. Ele esperava que as ações tivessem uma pequena alta, mas um terremoto fez com que os papéis desabassem. Quando Leeson deu por si, era responsável por um prejuízo de US$ 1,4 bilhão. A história foi contada na sua autobiografia (escrita na prisão) e no filme A Fraude.

Isso aconteceu há um bom tempo. Hoje Leeson ganha dinheiro dando palestras e faz parte da diretoria de um pequeno clube de futebol da Irlanda. Mas ouvi duas histórias, recentemente, que lembram esse caso. A diferença é que, em vez de esconder informações dos chefes, as pessoas em questão deixaram de contar informações importantes para suas famílias.

No primeiro caso (que ouvi em um programa americano), um sujeito em Chicago pegou a maior parte das economias da família e aplicou em ações do Facebook, na época da oferta inicial das ações. Agiu movido pelo entusiasmo: ele próprio não conhecia nada sobre a empresa, mas ninguém falava sobre outra coisa, então ele achou que seria um bom negócio...

Não foi. O preço de lançamento foi de US$ 45. No momento em que escrevo, as ações na bolsa Nasdaq estão cotadas a US$ 21,94, o que significa perdas de 51%. Resumindo, o sujeito torrou metade das reservas. Com um detalhe: ele não contou para a esposa e está desesperado, com medo que ela descubra.

O outro caso ocorreu por aqui mesmo. Prejudicado pela crise internacional, um empresário passou a ter grandes dificuldades com seu negócio. Estava prestes a entrar em recuperação judicial, mas nunca teve coragem de falar sobre esses problemas em casa. Resultado: entrava menos dinheiro na conta, mas as saídas continuavam altas. Uma situação potencialmente desastrosa.

Algumas pessoas tratam a gestão financeira como algo que vem junto com o cromossomo Y, presente apenas no sexo masculino. Só homens têm barba, só homens têm pomo-de-adão, só homens tomam conta da conta corrente. Isso pode ter sido verdadeiro em boa parte da História e, dentro do arranjo familiar, pode funcionar. Mas não significa que mulher e filhos devam ficar alheios à situação financeira. Como, por exemplo, explicar a necessidade de cortar gastos sem explicar as razões?

O contrário – cada um toma conta do seu e ninguém presta contas de nada – também é complicado. Família é uma unidade, e isso implica em compartilhar, não segregar.

Transparência é sempre a melhor opção. Quando tudo vai bem, é possível decidir juntos o que fazer com o excedente – comprar algum bem, passear, investir. Se as coisas vão mal, a busca por soluções provavelmente vai funcionar melhor em grupo. Como dizem por aí, duas cabeças pensam melhor que uma. Negar informações, por outro lado, traz desconfiança. Diga lá: o que mais você está escondendo?

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