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Servir a mesma comida de formas variadas quebra a rotina e evita que os animais enjoem do cardápio | Valterci Santos/ Gazeta do Povo
Servir a mesma comida de formas variadas quebra a rotina e evita que os animais enjoem do cardápio| Foto: Valterci Santos/ Gazeta do Povo

Cardápio animal

Caprichosos, bichos "torcem o focinho" para alguns pratos

Assim como os humanos, cada animal do zoológico tem os seus próprios caprichos e preferências na hora das refeições. A tigresa Fofa, por exemplo, torce o nariz – ou melhor, o focinho – quando o prato principal é coração de boi. Já a onça-pintada Apolo não é muito chegada em carne vermelha. Prefere frango ou carne de coelho.

Mas em termos de exigência nenhum outro animal supera a tamanduá-bandeira Clotilde. Como não há condições de oferecer em cativeiro a mesma abundância de insetos que ela encontraria na natureza, sua dieta é composta por um vitaminado especial feito com leite, iogurte natural, mel, carne moída e ovos, tudo batido no liquidificador.

Os mais gulosos habitantes do zoo de Curitiba são os hipopótamos. Cada um deles come em média 50 quilos por dia de um cardápio composto por abóboras, alface, escarola, além de ração especial e feno. Mesmo assim a dieta pode ser considerada "light", se levarmos em conta que cada animal pesa em média 2,5 toneladas.

Para os grandes felinos, o importante é a carne. Os tigres comem até cinco quilos por dia de dianteiro bovino, coração, fígado, patinho e frango, enquanto os leões comem um pouco menos, três quilos por dia.

Os lobos-guarás – que de maus não têm nada – têm uma alimentação de dar inveja a nós, humanos: 80% de frutas e verduras e 20% de carne branca de frango. Os macacos têm o cardápio mais farto e variado, composto por frutas como banana, pêra, maçã, abacaxi, legumes e tubérculos frescos e cozidos, além de ovos e, para algumas espécies, pequenas porções de carne moída cozida.

Todo esse banquete é preparado por um chef de cozinha, auxiliado por outros quatro cozinheiros. No Passeio Público, que também integra o Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna, são mais três cozinheiros.

Em breve a equipe deverá contatar com um zootecnista para cuidar da nutrição e alimentação dos bichos, planejando dietas adaptadas às condições de cativeiro. A prefeitura já realizou concurso público e o profissional possivelmente será convocado ainda neste ano. (ACN)

  • Confira a inflação dos alimentos acumulada em 2010

Se o aumento acumulado de 14,5% no preço da carne neste ano já é capaz de tirar o sono de um pai de família preocupado em colocar quatro bifes na mesa todos os dias, imagine quem precisa alimentar uma família com um apetite insaciável, capaz de consumir mais de dez quilos de carne por dia. Num ano em que o preço dos alimentos acumula alta de 6,6%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação tornou-se um desafio para o Zoológico de Curitiba, que precisa manter a quantidade e a qualidade da dieta dos seus mais de 1,4 habitantes, incluindo leões, tigres e os gulosos hipopótamos.

O orçamento mensal do zoo para a compra de alimentos é de R$ 120 mil mensais – R$ 1,44 milhão ao ano –, incluindo carnes, pescado, frango, frutas e verduras. Tudo calculado em toneladas. Além da carne, base alimentar dos grandes felinos, outros itens que compõem o cardápio dos bichos sofreram altas expressivas, como a abóbora, usada na dieta de ursos, macacos e cervos, que subiu mais de 60% desde o começo deste ano; ou a banana, iguaria da macacada, com alta de 10,4%.

Para aplacar o apetite do dragão inflacionário, a prefeitura de Curitiba faz três orçamentos do preço destes alimentos no atacado e, estipulando o preço médio, indica a quantidade do produto que precisa adquirir. Este preço, então, serve como teto para a licitação na modalidade pregão eletrônico, em que vence o fornecedor disposto a oferecer aquela quantidade do produto com o maior desconto em relação ao preço inicial.

"Como os volumes são grandes, o interesse em fornecer para o município também é grande e os preços ficam competitivos", explica o diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna [antigo Departamento de Zoo­lógicos de Curitiba], Marcos Traad. Para se ter uma ideia, mensalmente os animais do zoo consomem 1 tonelada de dianteiro bovino, 8 toneladas de banana, 1,5 tonelada de cenouras e 7,2 mil ovos.

Segundo Traad, o sistema de pregão eletrônico permite uma economia e garante o cardápio da bicharada. Mas ele reconhece que, por causa da inflação, o deságio médio neste ano está ligeiramente menor que a média de 2009, sem, no entanto, especificar a variação. Ainda assim, garante o diretor, nada de carne de segunda para os leões ou banana podre para os chimpanzés. "A dieta dos animais tem de manter um critério de volume e de qualidade. Não deixamos de adquirir os alimentos ou diminuímos a qualidade dos produtos em função da flutuação dos preços. Tudo é comprado fresco e com qualidade, como se fosse para consumo humano."

O veterinário Marcelo Bonat, responsável pelo departamento de alimentação do zoo, explica que a elevação no preço das commodities agrícolas também impactou o preço das rações à base de soja, milho ou aveia, base da dieta de diversas espécies como as araras, papagaios, girafas e cervos. "Mesmo assim existem fornecedores dispostos a oferecer produtos com qualidade e no menor preço da concorrência", afirma.

Acepipes

Há 15 anos no zoológico, o veterinário Manoel Lucas Javorouski conta que, além da variedade, é preciso ser criativo no preparo dos alimentos para "quebrar a rotina" e surpreender os animais. O cardápio surpresa pode ser um apetitoso coelho, doado pelo Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI) para os carnívoros, uma abóbora recheada com mel para os ursos ou mesmo uma porção de camarão para o mão-pelada (guaxinim).

"Imagine uma pessoa comendo comprimidos de astronautas todos os dias. Em tese ela está nutrida, mas não necessariamente satisfeita. Essa é uma preocupação que devemos ter com os animais", explica Javorouski. A forma como o alimento é servido já ajuda o animal a não enjoar. "A banana para os chimpanzés pode ir um dia inteira com a casca, outro dia descascada e no outro cortada em rodelas. A simples curiosidade já o estimula a comer."

Os animais doentes ou em tratamento podem ser alimentados com suplementos industrializados de uso veterinário ou mesmo humano, como papinhas de neném, Sustagem ou Neston. Um filhote de lontra, por exemplo, foi amamentado com um composto de leite em pó específico para gatos domésticos e sobreviveu.

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